Música industrial e o Brasil experimental: de Tom Zé a Einstürzende Neubauten

Nos anos 70, brasileiros já faziam experimentações sonoras que remetem à música industrial, estilo que se popularizou na Europa e Estados Unidos

Em meados da década de 1970, o músico inglês Genesis P-Orridge da banda Throbbing Gristle (foto) uniu forças com o artista americano Monte Cazazza para fundar a gravadora Industrial Records.

Com o lema "Industrial music for industrial people" (música industrial para pessoas industriais), a gravadora ficou conhecida pela sua sonoridade que fundia o lado agressivo do rock, o experimentalismo da música eletrônica e a provocação do punk.

Já na Alemanha, a banda Einstürzende Neubauten fazia experimentações com objetos inusitados como serras elétricas, carrinhos de supermercado, garrafas plásticas, marretas e pedaços de metal.

Wolfgang Burat

FM Einheit, concerto de Einstüzenden Neubauten em Bochum, 1982

No curta Halber Mensch (Meio-homem), a Einstürzende Neubauten demonstra alguns dos objetos usados para suas experimentações musicais e, inclusive, faz uma conexão com o Japão ao incluir dançarinos de butoh na obra.

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Mas sabia que mais ou menos nessa época, aqui no Brasil, Tom Zé já estava fazendo algo bem parecido?

Rolling Stone

Multi-instrumentalista, compositor e letrista, Tom Zé fez parte do movimento Tropicália nos anos 1960. Nos anos 70, porém, ele resolveu adicionar alguns toques de dadaísmo em sua obra.

Usando objetos como máquinas de escrever, caixas de madeira, serrotes e barras de metal, Tom Zé chegou a ser comparado a Frank Zappa e Captain Beefheart por conta da natureza experimental de suas composições.

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O documentário Alquimistas do Som (2003) aborda a música experimental no Brasil. Como um dos comentaristas, Tom Zé fala sobre a performance Música e Música (1978), na qual também incluiu objetos do cotidiano e usou o sampleamento de jingles da época.

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Em comparação à performance de Einstürzende Neubauten, em Halber Mensch, vemos que Tom Zé também utilizou elementos semelhantes.

À direita, "Alquimistas do Som" (00:01:28). À esquerda, "Halber Mensch" (05:38). O primeiro usa uma enceradeira, o segundo usa uma lixa contra uma placa de metal.

Alquimistas do Som (00:01:49) usando serrotes contra uma superfície metálica. Halber Mensch (05:12) usando um bastão de metal contra um carrinho de supermercado.

Alquimistas do Som (00:01:51), instrumentos musicais + instrumentos de solda. Halber Mensch (05:57) uso do martelo contra superfície metálica em substituição de baquetas e tambor.

Claro, o estilo dos alemães é bem diferente do exemplo brasileiro, mas o tipo de performance, as referências ao cenário industrial, a crítica à mídia e a colagem dadaísta são elementos presentes em ambos os casos, que se deram quase ao mesmo tempo.

Einstürzende Neubauten

EDIT: Menção honrosa também a Hermeto Pascoal, grande nome da música experimental brasileira e que também construiu sua carreira fora do país, começando já no fim dos anos 1960.

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