Breve História Da Mulher Na Política Brasileira

Infelizmente a história ainda é bem breve mesmo

Se você acompanha o noticiário, viu uma enxurrada de notícias tristes, destruidoras, devastadoras sobre nosso país. Uma das realidades mais terríveis é o fato de o ministério do governo Temer não ter nenhuma mulher. Zero. Nada de minas. Isso não acontecia desde o governo Geisel, lá na ditadura, anos 1970.

A falta de representatividade e de diversidade é um problema gravíssimo e o momento político é complicado, mas não dizem que um país que não conhece sua história está fadado a cometer sempre os mesmos erros? Vamos então fazer nossa parte e conhecer um pouco mais as mulheres que fizeram histórica na política nacional:

Direito ao voto

Quando dizemos "breve história da mulher na política", é porque é breve mesmo: tem nem cem anos. As mulheres só conseguiram o direito ao voto no país inteiro em 1932, com uma reforma política do governo de Getúlio Vargas. Essa conquista foi um grande esforço das sufragistas brasileiras, lideradas por Bertha Lutz. Claro que tentaram dificultar: os caras queriam deixar só as mulheres que tinham curso superior (absoluta minoria na época) votarem. Mas as minas não arregaram, pressionaram e conseguiram garantir para nós - todas nós - o direito de escolhermos nossos representantes.

Primeira prefeita

Alzira Soriano era de uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Norte que não andava nada bem das pernas. Para mudar a administração e a situação do lugar, ela se candidatou a prefeita, com o apoio da família e de Bertha Lutz. Claro que teve machistinha dizendo que "mulher pública é prostituta", mas nada que impedisse Alzira de ser eleita a primeira prefeita do Brasil em 1930 com 60% dos votos. Durante seus quase dois anos de mandato, ela realizou obras de infraestrutura importantes para a região e de melhoria nas condições de vida da população, usando só a verba do próprio município. Também foi vereadora na cidade.

Primeira senadora

Quando se separou do marido, no interior do Amazonas, Eunice Michiles arrumou um emprego e se candidatou à Assembleia Legislativa do estado. Primeiro ela foi eleita deputada estadual, e depois, em 1979, se tornou a primeira senadora do Brasil. Quando chegou ao Senado, não tinha nem banheiro feminino lá. As principais causas que defendeu durante seu mandato foram a preservação da Amazônia e a cidadania feminina. Eunice trabalhou pela supressão do artigo 219 do Código Civil, que livrara as mulheres do suposto "dever da virgindade". Na CLT, acrescentou, no artigo 373, que empregadas domésticas com filhos têm direito de optar por uma jornada de trabalho com salário proporcional sem perderem o vínculo empregatício. Ela também lutou e conseguiu que mulheres casadas em comunhão de bens pudessem pegar empréstimos bancários sem precisar de autorização de seus maridos. "Lutei muito pelo planejamento familiar, depois de conhecer mulheres que tinham tido 21 filhos no Amazonas, não por que quisessem (mas por falta de acesso a contraceptivos). Na época isso era considerado um tiro no pé", recordou Eunice em entrevista à BBC.

Primeira ministra

A primeira ministra do Brasil demorou a aparecer: foi Ester de Figueiredo Ferraz, Ministra da Educação do Governo Figueiredo (1979-1985). Ester era advogada e foi também a primeira mulher a dar aulas na USP, de direito penal. Seu interesse por educação fez com que ela atuasse em vários órgãos do governo, como a CAPES, até que foi convidada para assumir o Ministério de Educação e Cultura. Em seu mandato, Ester foi favorável à aceitação de diplomas de alunos formados em países socialistas e enfrentou uma greve de professores e técnicos administrativos de universidades federais. Ela também regulamentou a emenda que estabelece um percentual mínimo obrigatório de aplicação que deve ser feito na educação a partir do dinheiro arrecadado nos impostos e foi defensora da criação de escolas técnicas federais.

Primeira presidente

Já conhecemos, né. Dilma nasceu em Minas, estudou economia na faculdade, foi presa por participar de grupos de luta armada na ditadura militar (apesar de nunca ter de fato atirado em ninguém), foi solta depois de três anos de tortura na prisão, trabalhou em instituições públicas no Rio Grande do Sul, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil até chegar à Presidência. Em seu discurso de posse em 2010, Dilma disse: "A mulher pode". Em seu discurso de saída, na semana passada, disse:

"A história vai mostrar como o fato de eu ser mulher me tornou mais resiliente, mais lutadora. Queriam que eu renunciasse, e jamais passou a renúncia pela minha cabeça. Só pela cabela deles, não pela minha. Por que falo isso? Porque sou uma figura incômoda. Sou incômoda porque enquanto eu permaneço de pé, de cabeça erguida, honrando mulheres, ficará claro que cometeram contra mim uma inominável injustiça. A história ainda vai dizer o quanto da violência contra a mulher, o quanto de preconceito contra a mulher tem neste processo de impeachment golpista. Sabemos que um dos componentes deste processo tem sempre uma base no fato de eu ser a primeira mulher presidenta eleita pelo voto popular no Brasil".

Se a realidade está sofrível, é legal lembrar que o passado pode ser inspirador.