Esses são alguns dos rostos por trás da crise de refugiados na Europa

Depois de atravessar o Mar Mediterrâneo e chegar ao Velho Continente, imigrantes em busca de asilo chegavam a ficar dias na estação Keleti Pályaudvar, em Budapeste, capital húngara, à espera de um trem para seguir viagem. Enquanto aguardavam, dividiam o espaço, a comida e suas histórias

Joman-Patal e Samera-Patal, irmãs

Rafaela Carvalho

Da esquerda para a direita: Joman (24), Silin (5 meses), Nesan (4), Samera (26) e Mohmad (5)

Origem: Síria

Destino: Alemanha

"Somos irmãs e estamos viajando juntas porque nossos maridos não estão nos acompanhando. Meu marido já está na Alemanha, mas o da minha irmã ficou na Síria para cuidar da casa. Sentimos medo todos os dias, por eles e por nós. Fazer essa travessia ou ficar na Síria são escolhas igualmente arriscadas, mas decidimos sair por causa dos nossos filhos. Parece que, a qualquer momento, eles podem ser sequestrados, levados embora, mortos. Não dá mais para ficar em um lugar onde se ouvem bombas caindo o dia inteiro. Não tínhamos escolha a não ser ir embora."

Família Abdalgewad

Rafaela

Da esquerda para a direita: Radwan (14), os gêmeos Iazn e Khald (no chão, dormindo, 2), Mohamad (25), Mohamd (3), Hmza (10) e Marwa (20)

Origem: Síria

Destino: França

"Estamos viajando há 33 dias desde que saímos da nossa província, Idlib. As bombas são o nosso despertador e, também, o que nos impede de dormir nas madrugadas. Há dias que a quantidade de bombas é tão grande que não conseguimos sair para trabalhar ou levar as crianças à escola. Agora, precisamos chegar na França para trabalhar, ganhar dinheiro e trazer para a Europa os parentes que deixamos para trás."

Alaa Abdul Ibrahim (36)

Rafaela Carvalho

Origem: Iraque

Destino: Alemanha

"Fui embora de casa há 18 dias e quero chegar na Alemanha, onde tenho dois irmãos esperando por mim. É muito triste ter que abandonar o Iraque, mas, hoje, há mais de 80 milícias tomando conta do país. É só sair nas ruas de Bagdá para sofrer ameaças e ter armas apontadas em sua direção várias vezes ao dia. Eu já não me importo. Passo reto por elas. Tenho mais medo da situação por causa da minha filha de 1 ano e 7 meses. Minha esposa está com ela na Turquia, fazendo o mesmo trajeto que eu fiz até aqui. Cinco dias atrás, conversei com elas pelo telefone e ouvi minha filha dizer 'papai' pela primeira vez. Não consegui parar de chorar até encerrar a ligação."

Maryum Sayed (33)

Rafaela Carvalho

Com os filhos Naya (2) e Khaled (5)

Origem: Síria

Destino: Alemanha

“Eu e meu marido trabalhávamos como médicos na Síria, mas o Estado Islâmico tornou a nossa vida muito mais complicada: na minha província, Alraqqa, já precisei ficar até seis dias dentro do hospital onde trabalho, com medo de sair. Agora, apesar de ter esperanças de encontrar uma vida melhor na Alemanha, já desencorajei minha família a fazer o trajeto rumo à Europa, porque é sofrido demais. É a maior batalha que já enfrentei na minha vida. Cada vez que paramos em algum lugar, meus filhos perguntam se é ali que está a nossa nova casa; quando estão cansados, perguntam por que não viemos até aqui de carro. Não sei dar uma resposta para eles. A única coisa que sei é que estou sendo privada de viver uma vida normal com a minha família. E tudo que eu quero é isso: a chance de viver uma vida normal.”

Paruiz Bahari (25) e Samira Hossini (23)

Rafaela Carvalho

Com os filhos Mahdis e Mahdigar (2 meses)

Origem: Afeganistão

Destino: Alemanha

"Saímos de Cabul quando eles estavam prestes a nascer. Poucos dias depois de deixarmos nossa casa para trás, eles vieram ao mundo, na Turquia. O caminho para a Europa é muito cansativo e nós sentimos muito medo, mas não paramos a viagem porque sabemos que, na Alemanha, nossos filhos terão uma vida melhor. Eles são uma bênção para nós. Estamos animados pensando no futuro."

Família Mahmood

Rafaela Carvalho

Origem: Iraque

Destino: Alemanha

"Dois familiares nossos foram assassinados pelo Estado Islâmico nos últimos meses. No Iraque, parece que o cerco está se fechando e a situação fica cada vez mais perigosa. Não temos mais coragem de sair de casa, e, lá, temos cada vez menos perspectivas de trabalho ou estudo para o futuro. Viemos para cá por causa das promessas da Alemanha. Esperamos que sejam verdade e que consigamos reconstruir nossa vida aqui na Europa."

Farahanaz Abhar (21)

Rafaela Carvalho

Origem: Afeganistão

Destino: Alemanha

“Quando saí de casa com meus seis irmãos e meus pais, todos nós sabíamos que, mesmo se apenas um de nós sobrevivesse à travessia, isso já seria suficiente. Nosso dever estaria cumprido. Acredito que todos teremos uma vida melhor na Alemanha: eu vou poder continuar a estudar Medicina, meus irmãos mais novos poderão voltar à escola e meus pais encontrarão algum trabalho. Também espero que, lá, eu seja respeitada como mulher. No Afeganistão, não temos voz e não conseguimos brigar pelos nossos direitos. Eu cresci vendo meninas se casando aos 15 anos e vivendo infelizes. Não quero isso. Quero me tornar ginecologista e ajudar outras mulheres a ter uma vida mais digna. Nós precisamos saber lutar pelos nossos direitos em qualquer lugar do mundo.”

Abdalmjed Shaadam (22) e Mohmad Altawil (26)

Rafaela Carvalho

Origem: Síria

Destino: Alemanha

"Ficamos amigos duas semanas atrás, na Turquia. Ele tinha internet no celular."

Família Aldeen

Rafaela Carvalho

Da esquerda para a direita: Deea (18), Rania (42) e Alaa (24)

Origem: Síria

Destino: Alemanha

"Não queríamos ter deixado a Síria. Vir para a Europa era nossa última escolha, porque sabíamos que isso significaria recomeçar nossas vidas e deixar um pedaço de nós para trás. Aqui, somos chamados de terroristas por causa da religião que praticamos; não falamos os idiomas nativos; não sabemos como vamos voltar a ter uma rotina. Estamos felizes que a Alemanha se habilite para nos receber e ficamos gratos pela ajuda de todos os voluntários aqui em Budapeste, mas o que queremos de verdade é paz no nosso país. Sentimos saudade da nossa vida lá."

Fatima Mohamad (23)

Rafaela Carvalho

Origem: Síria

Destino: qualquer país da Europa ocidental

"Eu, que não sei nadar, caí no mar durante a travessia para a Europa; hoje mesmo, sujei toda a minha roupa fugindo da polícia húngara que queria nos barrar na fronteira com a Sérvia. Ainda bem que você só apareceu agora, depois que eu me arrumei. Gostou do meu lenço e dos meus óculos de sol? Comprei na Turquia!"

Família Farhad

Rafaela Carvalho

Os pais Hsma (22) e Farhad Oso (30) e os filhos Selen (4) e Hamed (3)

Origem: Síria

Destino: Alemanha

Estamos viajando há mais de três semanas, mas não estamos cansados. O que nos cansa de verdade é a guerra. Desde 2011, a situação no nosso país só piora. Nossos filhos não sabem o que é uma vida em paz, sem bombas voando sobre as nossas cabeças. Viemos para cá em busca de paz. Claro que queremos trabalho e boas oportunidades de estudo para nossas crianças. Mas, antes de tudo, o que queremos é, simplesmente, paz."

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Veja, no vídeo acima, mais algumas imagens de refugiados que passaram pela Keleti Pályaudvar, em Budapeste.