Os Estreitos Laços Entre O Grupo Dominó E A Arte Contemporânea

Referências, homenagens e a inspiração para a criação do Inhotim

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Já estava mais que na hora de falar do Dominó, os Backstreet Boys dos trópicos. Pode parecer, mas a tarefa não é nada simples. Antes de analisarmos com mais cautela o trabalho apresentado pelo quarteto formado por Marcos, Nill, Afonso e Marcelo, é comum que tendamos a enxergá-los como apenas mais um produto de massa. O que pouca gente se deu conta é que, pelo menos em sua formação original, nos anos 80, o grupo flertava fortemente com a arte contemporânea.

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Observe onde estão os integrantes do Dominó no começo do videoclipe de "Companheiro". Numa vernissage! E olha, não é qualquer exposição. Os trabalhos expostos são de videoarte e interagem com os visitantes. Eles emergem das paredes brancas da galeria suscitando questionamentos acerca da relação do homem com a natureza e a urbe, com o tempo e a construção das relações interpessoais.

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E o que faz o quarteto nesse espaço? Uma coreografia, apenas? Claro que não, oras. Se eles estão na abertura de uma mostra e executando tão peculiares movimentos, o que se passa não é uma mera dança, mas uma performance. Trata-se aí do desenvolvimento de um processo pautado pelas possibilidades corporais e pelo homem enquanto indivíduo e enquanto ser coletivo.

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Vamos a outro exemplo. O que faz Marcos logo nos primeiros segundos do clipe de "Com todos menos comigo"? Ele utiliza um spray para desenhar um coração sobre um portão metálico. Vandalismo? O nome disso é street art, meu caro! Sabe os Gêmeos? Sabe o Kobra? Sabe o Tec? O Marcos saiu na frente deles todos. Décadas à frente!

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Pouco mais adiante, no mesmo vídeo, Afonso avista uma exibição de afeto em público e, ligeiramente, aciona sua Polaroid para a produção de um registro, claramente influenciado pelo trabalho de Nan Goldin. O Dominó mais uma vez mostrando sua conexão com a vanguarda artística.

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Ao final de um outro videoclipe, “Tudo a ver com o teu olhar”, os integrantes do grupo quebram grandes quadros com molduras de madeira na cabeça de um homem – um sonoro grito por ruptura com o passado para a expansão dos horizontes, com novas perspectivas e soluções estéticas.

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Quer mais uma prova? Basta bater o olho da imagem acima. Marcos, Afonso, Nill e Marcelo posam com um pano – elemento fundamental na arte contemporânea, como já é sabido. Esta fotografia homenageia não apenas os sessentistas “Parangolé” de Hélio Oiticica e “Divisor” de Lygia Pape, mas o próprio pano, ainda tão em voga no segmento.

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As artes visuais devem muito ao Dominó. Restam dúvidas? Assista ao clipe de "Jura de Amor". No vídeo, uma garota sonha com um lindo lugar. Descrevo-o: um parque em meio a montanhas, com bastante área verde e objetos de grandes dimensões, de cores variadas e sem nenhuma funcionalidade. Aposto que você chegou à mesma conclusão que eu. Não é exagero afirmar, portanto, que o Dominó é muito provavelmente a grande inspiração por trás da criação do Inhotim.

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Eu já li diversos textos relacionando a obra de bandas como Sonic Youth e The Smiths e até da Lady Gaga com as artes visuais, mas nem uma vírgula sequer sobre o Dominó. Como corrigir tal injustiça, cometida por todos nós e por tanto tempo? No ano que vem tem mais uma edição da Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Fica aí minha dica.