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Queria ter sido mais eu aos 15 anos. Também aos 16 ou aos 20. Fiquei tão preocupada em me sentir mais eu, em gostar do filme X porque sou o tipo de pessoa que gosta do filme X, em ouvir uma música porque cresci ouvindo a banda e faz parte de mim, em usar uma blusa roxa porque sempre foi minha cor preferida, em escrever poesia porque queria ser o tipo poeta.Me preocupei todos os dias de uma vida tão curta em ser eu, quando mal sabia quem era, quando mal sei quem sou. Perdi as contas das vezes em que sentada na van para a aula, ou no ônibus ou no avião, me impedi de mexer ou respirar porque tinha que ser menor do que sou, porque lá no fundo nunca quis ser assim, tinha que me sentir magra como sempre idealizei.Me preocupei imensamente em não deixar ninguém me ver com os fios cacheados, porque deus me livre de não ser lisa como sempre idealizei. Pintei meu cabelo de preto, mudei o tom quando saiu de moda. Perguntei ao meu namorado (que me vê melhor do que eu via a mim mesma) qual cor de esmalte deveria usar.Perguntei a minha colega se eu havia compreendido a matéria corretamente. Perguntei a minha mãe se aquela saia chamava atenção demais para a minha bunda. Pedi para as minhas irmãs que me ensinassem a pentear o cabelo corretamente ou passar maquiagem para ficar bonitinha.Pedi aos meus amigos que desculpassem a minha falta de jeito, a minha maneira de falar e que me perdoassem, em avanço, possíveis ofensas e pisei em ovos. Ainda piso, às vezes. Não me permiti fazer na pele os desenhos que tanto sonhei, quando fiz não permiti que vissem. Chorei muda no cinema porque não queria passar vergonha. Segurei o riso alto porque mocinha não faz escândalo. Não contei para ninguém meu fascínio por piano e também por rap, não quis ser incoerente. Não contei que li Machado e Sparks no mesmo ano porque não queria regredir. Emprestei pedacinhos de mim para qualquer um que pedisse para ajudar a completar quem precisava (nunca vi esses pedaços de novo, se tiver visto, por favor, devolva). Achei que ser eu mesma, era ser quem os outros gostariam. Que pena que ninguém avisou antes que para ser você, só é preciso ser.
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