Diante do juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que jamais teve interesse em adquirir o tríplex no edifício Solaris, no Guarujá (litoral de São Paulo).
"Eu não requisitei o apartamento e não quis o apartamento. Pelo que fiquei sabendo este apartamento foi oferecido pela OAS como garantia umas cinquenta vezes para gente a quem a OAS devia", disse Lula, ao responder questionamento de Sergio Moro.
Lula admitiu ter visitado o apartamento em fevereiro de 2014. "O Léo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha outros apartamentos e o tríplex. Eu vi o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento", disse o ex-presidente.
O petista negou que ele ou a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em março) tenha solicitado ao dono da OAS fazer qualquer reforma no apartamento, assim como a instalação de elevador privativo ou compra de cozinha planejada.
"Quando fui ver, me dei conta de que jamais poderia ter um apartamento na praia das Astúrias [por ser uma pessoa pública] e que o apartamento era pequeno para uma família de 5 filhos e 8 netos", disse Lula.
"Até a dona Marisa tinha uma coisa importante: ela não gostava de praia. Ela nunca gostou de praia. Certamente ela queria o apartamento pra fazer investimento", completou.
O depoimento de Lula é uma das últimas fases da ação em que o ex-presidente é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em vantagens indevidas, da empreiteira OAS. Os procuradores sustentam que Lula teria sido beneficiado em troca de contratos da Petrobras.
Ao final do depoimento, o ex-presidente Lula ficou irritado com o procurador que lhe perguntava se, em algum momento, havia questionado o ex-tesoureiro do PT João Vaccari sobre recebimento de vantagens indevidas.
“Eu aprendi com vocês, advogados, que todo mundo é inocente até provar que ele é culpado. Portanto, o Vaccari era tratado por mim como um dirigente nacional do Partido dos Trabalhadores. E eu não conversava de finanças do PT porque não era da direção do PT”.
O procurador Roberson Pozzobom insiste.
“Ele sempre negou. Não importa se eu perguntei ou não. Ele sempre negou. Negou pela imprensa, negou publicamente. Sinceramente, não interessa se eu perguntei. Não é que eu não gostaria de responder. É que o Vaccari não devia explicações a mim. Ele era da executiva nacional do PT e eu não era. E o PT não tinha de prestar contas para mim”.
A resposta não pareceu suficiente para Pozzobom e Lula ficou mais irritado:
“Para acabar nossa polêmica aqui vamos dizer: eu perguntei e ele disse que não. Tá bom? Tá bem assim? Porque você precisava de qualquer jeito de uma resposta, então eu estou dando, ué. Vai ficar nesse trocadilho entre o procurador e um ex-presidente, então eu quero resolver isso. Espero que não seja por essa resposta minha que eu seja condenado.”
Ao ser questionada se queria fazer um intervalo, a defesa de Lula disse que não. Mas o ex-presidente reclamou: “Vamos fazer um intervalo aqui, de dois minutos? Sou o único velhinho aqui, gente!”.