Os indícios de adulteração ou edição na gravação feita por Joesley Batista na conversa que teve com o presidente Michel Temer, conforme levantado pelo próprio Palácio do Planalto e pelos Jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo, desaceleraram alguns movimentos no Congresso em partidos da base que pretendiam deixar o governo.
Tal situação, no entanto, não causou maiores preocupações no Ministério Público Federal, que ainda deve apresentar novas provas ao inquérito ou até mesmo pedir a abertura de uma nova investigação sobre o presidente.
No lado político, alguns dos aliados que não viam mais saída para Temer, entraram em compasso de espera. Não que a dúvida sobre possíveis edições tenham reforçado apoios no Congresso, mas os questionamentos permitiram que Temer ganhasse tempo e parte da base quer saber se houve ou não adulteração antes de anunciar formalmente o rompimento.
Por outro lado, independentemente do áudio, partidos como o PSB, PTN e PHS já decidiram deixar a base. O PPS, que tinha dois ministérios, já entregou um deles: o da Cultura, que tinha como titular Roberto Freire.
No aspecto jurídico, procuradores que atuam na Lava Jato comentam que fizeram análises iniciais do material e não identificaram indícios de edição, uma vez que conversa segue uma ordem lógica.
Lembram ainda que o encontro e a conversa nunca foram negadas pelo presidente, pelo contrário, chegou a confirmar a visita.
Ainda creditam que muitos dos picos no áudio, que poderiam levar à impressão de adulteração, podem ter sido causados pelos movimentos bruscos de Joesley, batidas na mesa, e a fricção das roupas do empresário contra o microfone.
No PGR, também existe uma certa desconfiança se Joesley seria capaz de fazer uma delação tão grande e sofrer penalizações em seu acordo ao adulterar um arquivo de áudio.
Há, ainda, um fato que pode ser interpretado como um reforço à tese de que não houve edição no material. A rádio CBN identificou que Joesley estava ouvindo a emissora quando chegou ao Jaburu, e seguiu ouvindo a rádio após deixar a residência. O tempo entre os programas que estavam no ar batem com a minutagem da gravação.
De acordo com os procuradores, seria muito difícil se fazer edições sem alterar o tempo total da conversa e de tal maneira que mudasse todo o sentido do diálogo.
E, caso realmente tenha havido algum tipo de adulteração, a PGR entende que mesmo a invalidação deste áudio não colocaria um ponto final sobre as suspeitas que pesam contra Temer.
As consequências, acreditam, refletiriam em penalidades para Joesley em seu acordo, mas, na visão dos procuradores, a gravação não é a peça mais importante do inquérito.
Dizem que o conjunto probatório levantado pelos empresários e a relação do presidente com o deputado Rocha Loures apontam para crimes graves, com ou sem a presença do áudio de Joesley.
Há ainda uma série de interceptações telefônicas que estão em poder da PF e ainda não chegaram formalmente ao Ministério Público. Mas o MPF já tem conhecimento de seu conteúdo.
Tais gravações podem levar à inclusão de novos fatos no inquérito já aberto para investigar o presidente, ou ainda gerar até mesmo um novo pedido de indiciamento.
Na nova leva, a relação de Temer com empresas que atuam no porto de Santos serão esmiuçadas, e para o MPF há fortes indícios de corrupção.