O ex-presidente da CBF José Maria Marin, que cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos, recebeu ao menos US$ 1,5 milhão em propina em uma conta que mantinha no banco Morgan Stanley em Nova York, segundo documentos que a Procuradoria apresentou no tribunal nesta quinta (7).
A conta foi aberta em nome de uma offshore intitulada Firelli International Ltd. — registrada por Marin e pela mulher dele — e recebeu três pagamentos mensais de US$ 500 mil cada, em julho, agosto e setembro de 2013.
Para provar que Marin usava a conta para gastos pessoais, os procuradores apresentaram dois extratos em que constam compras em lojas de luxo.
Em março de 2014, por exemplo, houve um pagamento de US$ 20.977, no débito, na Hermès, em Paris. No mês seguinte, gastos de US$ 50 mil na Bvlgari em Las Vegas e — no mesmo dia — US$ 10 mil na Chanel, em Nova York.
Segundo a Procuradoria, os US$ 1,5 milhão eram propina por contratos de transmissão da Copa América. Houve uma edição do torneio em 2015 e outra em 2016 (em comemoração ao centenário da competição).
Duas contas no Andbanc, sediado em Andorra — pequeno país entre a Espanha e a França conhecido por ser um paraíso fiscal —, foram usadas como intermediárias para repassar o dinheiro a Marin. Ambas estão em nome de offshores que pertencem ao empresário brasileiro Wagner Abrahão.
Abrahão é dono do Grupo Águia, que mantém contratos com a CBF há décadas. Assim como Marin e o atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, o empresário foi investigado na CPI do Futebol no Senado, por suspeita de favorecimento ilegal.
A origem do dinheiro foi uma conta na suíça, em nome de FPT Sports. A Torneos, empresa argentina que foi uma das compradoras dos direitos da Copa América, era a verdadeira dona da conta e dos US$ 1,5 milhão.
Segundo ex-funcionários da Torneos contaram à Justiça americana, a empresa pagou US$ 6 milhões em propina, ao todo, para conseguir o contrato.
O dinheiro era destinado, segundo o delator Alejandro Burzaco, a três dirigentes: o então presidente da Federação Argentina de Futebol (AFA), Julio Grondona — que morreu em 2014 —, e aos brasileiros Marin e Del Nero. Segundo o delator, Grondona ficaria com metade do total (US$ 3 milhões), e os brasileiros com US$ 1,5 milhão cada.
No tribunal, os advogados de Marin têm negado que ele tenha recebido pagamentos ilegais. A revelação de todo o caminho que o dinheiro fez de uma conta da Torneos até uma dele, portanto, complica a defesa do cartola.