O apelido "brasileiro" era usado para se referir a Marco Polo Del Nero, atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, como um dos recebedores de propina.
No total, de acordo com uma testemunha do caso Fifa, em Nova York, o atual presidente da CBF recebeu quase US$ 4 milhões junto com José Maria Marin, seu antecessor no cargo.
Marin e Ricardo Teixeira, outro ex-presidente da CBF, também levavam a mesma alcunha, de acordo com uma testemunha do caso Fifa no julgamento que acontece em Nova York.
Nesta quarta-feira (29), quem depõe é Eladio Rodriguez. Ele era dirigente da empresa argentina Torneos, que administrava os direitos de transmissão da Libertadores e da Copa Sul-Americana.
Ele fez um acordo de delação com o governo americano, em março deste ano. Eladio Rodriguez passou a colaborar com as investigações e pagou multa de US$ 675 mil.
De acordo com Eladio, o codinome "brasileiro" era usado na lista de propinas da empresas como forma de controlar as propinas para Del Nero, Marin e Teixeira.
Segundo ele, José Maria Marin, que está preso em Nova York, e Marco Polo Del Nero receberam US$ 3 milhões pela Copa América.
Esse pagamento, de acordo com a testemunha, ocorreu em 5 de julho de 2013. Houve, ainda, US$ 900 mil, referentes à Libertadores, que foram pagos um mês antes, no dia 7 de junho.
Eladio Rodriguez apresentou uma espécie de livro com dados das transações, que ele mantinha em segredo num servidor no Uruguai.
Outro citado no mesmo contexto é Julio Grandona, ex-presidente da confederação argentina, morto em 2014. Ele tinha o codinome “Papa” e recebia em dinheiro vivo. No total, quase US$ 5 milhões. Esse foi um exemplo de anotação "5/8/13 Entrega efectivo al Papa $300,000".
De acordo com o depoimento, Alejandro Burzaco, chefe de Eladio, disse que estava preocupado, mas depois autorizou o pagamento de US$ 900 mil. Ele mandou um e-mail: "vamos correr o risco!".
RECLAMAÇÃO
No depoimento, Eladio disse que reclamava da relação com Marin e Marco Polo Del Nero, que cobravam a propina mas não davam instruções de como receber o dinheiro. "Para nenhum deles tenho formas de cumprir e a culpa é deles", registrou Eladio em e-mail a seu chefe, Alejandro Burzaco.
Procurado pelo BuzzFeed News, o advogado de Marco Polo Del Nero, José Roberto Batochio, negou as acusações e criticou o depoimento.
"É um depoimento inseguro, movediço. Não merece credibilidade e não é verdade. Marco Polo não recebeu qualquer valor. Se recebeu, quando? Qual a conta? Qual banco? Uma acusação dessa só deveria vir a público com essas informações. Porque falar é grátis, pode falar qualquer coisa", disse o advogado.