O músico Peo Tavares, 25, tinha 18 anos quando contou para os pais sobre sua homossexualidade. A mãe logo o orientou a ir a uma psicóloga.
Foram dois anos de tratamento. No começo, segundo ele, parecia uma terapia convencional, mas a psicóloga, evangélica, passou a enxertar textos e passagens bíblicas e a questionar a orientação do músico.
A história de Peo indica que a prática da "cura gay" pode vir de forma sutil.
"Você já transou com uma mulher? Se você nunca ficou com mulher, como pode saber que é gay?"
"Eu fiquei muito mexido. Eu me senti ofendido, invadido. Como se viessem todas as minhas lembranças de infância, da religião, da culpa. Foi um tsunami", contou Peo ao BuzzFeed News.
O músico ainda conseguiu responder para ela: "A senhora já transou com uma mulher? Não? Então como sabe que é hétero?" Mas saiu do consultório desconcertado. "Fiquei uma semana arrasado, me sentindo muito mal".
O que mais pesou para o músico foi a relação de confiança que ele já havia estabelecido com a psicóloga. Ele conta que sequer pensou em se queixar ao Conselho de Psicologia ou fazer qualquer denúncia.
"Fiquei tão traumatizado na época que não passou pela minha cabeça fazer isso [denunciar]. Hoje, com a minha bagagem, eu faria diferente."
Ele diz que nunca a psicóloga falou que se tratava de uma terapia de "cura". "Aos poucos, a abordagem foi por esse caminho de Bíblia."
Ele afirma que a mãe também não disse que ele estava doente. "Ela não falou com essas palavras, mas tinha essa intenção".
Peo diz que sabia que a intenção de sua família não era apenas ajuda-lo e que havia uma expectativa de "reorientar" sua sexualidade. Por isso, foi escolhida a psicóloga evangélica.
A relação com os pais é boa, embora o tema da sexualidade seja sensível.
Hoje ativista dos direitos LGBTQ, Peo avalia que a decisão de um juiz federal de Brasília de permitir tratamento e pesquisa sobre reorientação sexual é fruto de um período de retrocesso no país.
"O remédio para a culpa que todo gay cristão carrega, que toda pessoa LGBT carrega, é o orgulho. Quando a gente se empodera, quando a gente tem orgulho de ser quem a gente é, a gente está medicando a culpa que querem colocar na gente. E é exatamente isso que eles não querem".