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Como o Facebook e o YouTube deixaram teóricos da conspiração transformarem Bill Gates no vilão da pandemia

Após meses de disseminação de teorias da conspiração, pessoas do mundo todo querem que Gates seja preso por crimes contra a humanidade. Veja como as coisas chegaram a esse ponto.

Em 14 de maio, a política italiana Sara Cunial carregou um vídeo em seu perfil no Facebook, chamando o ex-CEO da Microsoft Bill Gates de criminoso e exigindo que ele fosse julgado por crimes contra a humanidade.

Foi um discurso que ela fez no parlamento italiano no início de maio, em que Cunial, que representa um distrito no norte da Itália, alegou que Gates estava desenvolvendo uma vacina para a COVID-19 escravizar a população mundial.

"O verdadeiro objetivo de tudo isso é o controle total, domínio absoluto dos seres humanos, transformado-os em cobaias e escravos, violando a soberania e o livre arbítrio. Tudo isso graças a truques disfarçados de compromissos políticos", disse Cunial.

O discurso de Cunial foi visto em sua página mais de 500 mil vezes e compartilhado 30 mil vezes, e foi carregado em inúmeras outras páginas nos canais do Facebook e do YouTube. Apesar dos fact-checkers terceirizados do Facebook marcarem o vídeo como "parcialmente falso", uma versão dele foi assistida quase 1 milhão de vezes.

Cunial está errada sobre Gates estar usando uma vacina para COVID-19 para cometer genocídio — mas ela não é a única a acreditar nisso.

A campanha on-line contra ele abrange uma miríade de realidades alternativas criadas por usuários de mídias sociais ansiosos e isolados, incluindo alegações desmitificadas sobre a tecnologia de celular 5G, retórica antivacinação, conteúdo QAnon e a teoria da conspiração, como a ideia de que a luz solar pode matar o coronavírus. E isso não se limita apenas a esse grupo: de acordo com uma pesquisa do Yahoo News/YouGov, 44% dos republicanos nos EUA acreditam que Gates planeja usar a vacinação contra COVID-19 como forma de implantar microchips nas pessoas e monitorar seus movimentos.

"Estamos preocupados com as teorias da conspiração que estão sendo divulgadas on-line e com os danos que elas podem causar à saúde pública", disse Mark Suzman, CEO da Fundação Bill & Melinda Gates, ao BuzzFeed News. “Em um momento como este, quando o mundo está enfrentando uma crise econômica e de saúde sem precedentes, é lamentável que haja pessoas divulgando informações erradas quando todos nós deveríamos estar procurando maneiras de colaborar e salvar vidas. Neste momento, uma das melhores coisas que podemos fazer para impedir a disseminação da COVID-19 é divulgar os fatos.”

Há poucas chances de Gates ser preso pelo governo italiano — ele mora no estado de Washington, por exemplo —, mas a reação contra ele reflete uma recusa muito real e perigosa de aceitar uma vacina contra COVID-19, caso uma se torne disponível. Mesmo antes da pandemia, entre 10% e 22% das pessoas em países da Europa não confiavam que as vacinas eram seguras.

A paranoia em torno do ex-CEO da Microsoft vem aumentando há meses, inflamando nas seções de grupos do Facebook e de comentários do YouTube. Veja como os teóricos da conspiração, pessoas em pânico e ignorantes, e as plataformas de tecnologia que permitiram o crescimento dos boatos transformaram Bill Gates no vilão da pandemia de coronavírus.


A versão mais popular do boato deriva de um tabloide em Gana.

Em 2010, uma ex-funcionária de uma iniciativa de saúde do governo em Gana afirmou que uma iniciativa de saúde comunitária, parcialmente financiada pela Fundação Gates, havia testado o contraceptivo Depo-Provera em aldeões inocentes em Navrongo, uma cidade remota no país, como parte de um “experimento populacional” ilícito.

A mulher encarregada da acusação, Maame-Yaa Bosumtwi, formada nos EUA e de origem ganesa, era a responsável pelas comunicações para uma iniciativa separada financiada por Gates pelo governo de Gana e pela Universidade de Columbia. O programa utilizava celulares para melhorar o acesso à saúde de mulheres e crianças nas áreas rurais. Bosumtwi havia entrado em conflito com outro membro da equipe, James Phillips, um demógrafo da Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia; quando seu contrato não foi renovado, ela levou suas queixas profissionais com Phillips à imprensa ganesa e entrou com uma ação contra a Columbia por milhões de dólares em danos.

Depois que o processo foi encerrado, Bosumtwi voltou à imprensa com uma alegação muito mais chocante: sem evidências, ela disse que o projeto de Phillips na zona rural de Gana havia experimentado Depo-Provera em mulheres como teste para uma campanha mais ampla de controle populacional. Os pacientes haviam sido abusados. Alguns haviam morrido.

Cartazes de procurado com o rosto de Phillips surgiram em todo o país. Manifestantes se mobilizaram do lado de fora do centro de pesquisa da Columbia em Navrongo. As autoridades de saúde ganesas classificaram suas alegações como difamação, e líderes comunitários e mulheres da área rural as condenaram como falsas. Mas as ameaças de morte aumentaram tanto que dois membros da equipe de Phillips tiveram que ser evacuados através da fronteira para Burkina Faso.

Enquanto as acusações de Bosumtwi de genocídio financiado por Gates estavam se espalhando por todo o Gana, em 2011, um grupo de direitos das mulheres nos EUA chamado Rebecca Project for Human Rights publicou um relatório intitulado "Non-Consensual Research in Africa: The Outsourcing of Tuskegee" (Pesquisa não consensual na África: a terceirização de Tuskegee). O relatório alegava, sem evidências, que experimentos médicos antiéticos haviam sido realizados por pesquisadores norte-americanos na África — com foco em Phillips.

"Os pesquisadores supostamente injetaram milhares de mulheres ganesas pobres e analfabetas com um contraceptivo da Pfizer, Depo-Provera, e administraram outros contraceptivos orais não identificados durante experimentos com pesquisas em humanos para reduzir a população e modificar os cuidados de saúde", dizia o relatório.

O relatório foi escrito por Kwame Fosu, diretor financeiro e diretor de políticas do Rebecca Project. Filho de diplomatas ganeses, nascido na Itália, Fosu deixou de fora um detalhe importante — ele era o pai do filho de Bosumtwi. Embora essa conexão pudesse ter minado sua credibilidade se fosse divulgada publicamente, em 2013, Fosu divulgou um segundo relatório, intitulado "Depo-Provera: Deadly Reproductive Violence Against Women" (Depo-Provera: violência reprodutiva mortal contra as mulheres). O relatório alegava que uma enorme conspiração envolvendo organizações internacionais — incluindo a Fundação Gates, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, o Fundo de População da ONU e a Pfizer — havia imposto um contraceptivo perigoso para as mulheres negras que vivem na pobreza nos países africanos.

"Melinda Gates anuncia sua estratégia contraceptiva de quatro bilhões de dólares, apresentando o Depo-Provera como a escolha ideal para mulheres não brancas", escreveu Fosu. "Essas belas mulheres, alheias ao fato de estarem sendo insidiosamente exploradas como apoios cínicos diversificados para mascarar a intenção egrégia de Gates, estão em uma campanha sem precedentes do Depo-Provera com sérias implicações racistas para impedir seus próprios partos."

Nos EUA, os "white papers" de Fosu circulavam entre os grupos de direita que alegavam que "o aborto era uma forma de genocídio negro". E eles também tiveram um impacto na África. Em 2014, Tobaiwa Mudede, secretário-geral do Zimbábue, advertiu as mulheres a evitarem contraceptivos porque eles eram uma manobra ocidental para limitar a população do continente. No mesmo ano, no Quênia, todos os 27 membros da Conferência Nacional dos Bispos Católicos declararam uma campanha da Organização Mundial da Saúde-UNICEF para administrar vacinas neonatais contra tétano em mulheres grávidas como “um programa de controle populacional disfarçado”.

Nos anos seguintes, as alegações de um genocídio negro liderado pela Fundação Gates na África podem ter diminuído, mas a teoria da conspiração de que Gates poderia estar usando vacinas para despovoar o planeta se manteve.

Em sua essência, essas teorias da conspiração giram em torno da ideia de que Gates está usando sua riqueza para controlar o planeta. Tão antigas quanto as alegações infundadas de que os Illuminati ou os maçons controlam o mundo, e tão novas quanto a revolução digital, elas misturam preocupações imaginárias sobre os mestres ocultos do mundo e mal-entendidos básicos da ciência.

Nomeada em homenagem ao cofundador da Microsoft e sua esposa, a Fundação Bill & Melinda Gates foi lançada em 2000 e é a maior fundação privada do mundo. Em 2008, Gates deixou de exercer sua função na Microsoft para dedicar mais tempo a seus programas e subsídios, que se concentram principalmente no aprimoramento da assistência médica, na redução da pobreza extrema e na expansão de oportunidades educacionais e acesso à tecnologia da informação.

Embora seja completamente falso dizer que a Fundação Gates está tentando despovoar o planeta, o trabalho que a fundação faz é, na verdade, influenciado por preocupações de superpopulação popularizadas nos anos 60 e 70. O próprio Gates reconheceu publicamente várias vezes na última década sua dívida com o trabalho do biólogo Paul R. Ehrlich, cujo livro de 1968 The Population Bomb trouxe o conceito de superpopulação global para a consciência pública e foi mencionado na carta anual da Fundação Gates em 2012.

Gates escreveu sobre Ehrlich novamente em 2013, chamando-o de "Cassandra ambiental mais proeminente do país e talvez do mundo" e elogiando seu trabalho, mesmo que o cofundador da fundação tenha concluído que era fatalístico demais:

"Sabemos agora que Ehrlich estava extremamente errado, e que seguir suas certezas científicas teria sido terrível para os pobres."

Portanto, embora Gates não esteja passando sua aposentadoria tentando cometer eugenia em escala global e, na verdade, oponha-se ativamente à ala do movimento ambientalista que defende isso, essa é uma conexão que tem sido difícil de desfazer. Passe tempo suficiente em sites de política e suscetíveis a teorias da conspiração e você começará a ver as mesmas palavras repetidamente — "Bill Gates", "controle populacional" —, ignorando de cara o fato de que Gates é contra a ideia.

Gates tem permanecido um alvo popular para aqueles com relações atenuadas com a realidade. Em 2016, o Infowars o conectou a uma teoria da conspiração de que a febre por zika poderia ser uma arma biológica. Em 2018, o Infowars escreveu que Gates era “indiretamente responsável por surtos de ebola e zika” e estava planejando uma pandemia global conhecida como “Doença X”. No mesmo ano, o site de teoria da conspiração NewsPunch publicou um artigo com o título "Bill Gates admite que 'as vacinas são a melhor maneira de despovoar'", que se tornou viral o suficiente para que o site de verificação de fatos Snopes desmistificasse isso. Conspirações sobre Gates também têm se proliferado no Facebook e no YouTube. Em janeiro de 2019, um artigo — agora desmistificado e excluído — do Transcend International, um veículo de mídia sem fins lucrativos, se tornou viral, alegando que Gates acreditava que as vacinas eram perigosas demais para serem administradas nos seus próprios filhos.

Essas alegações costumam ter uma valência política: em 2018, vazaram imagens de Gates zombando do presidente Donald Trump por não saber a diferença entre HPV e HIV. Mas, além do partidarismo, Gates — com seu dinheiro ganho com tecnologia e seus esforços filantrópicos para melhorar a saúde pública — tem se tornado um avatar de raiva populista daqueles que possuem fluência técnica, educação de elite e passaportes carimbados.

O primeiro boato conectando Gates à COVID-19 foi espalhado no início do surto por Jordan Sather, youtuber adepto da teoria da conspiração QAnon. Em janeiro, quando o vírus ainda estava localizado em Wuhan, na China, Sather alegou que o novo coronavírus era uma "nova doença da moda" que havia sido "planejada" por Gates.

A comunidade QAnon acredita que Trump está travando uma guerra secreta contra um estado profundo, com mensagens secretas vazadas em fóruns anônimos on-line, como 8chan, por um informante com autorização de segurança de "nível Q". Acredita-se que Gates e outros liberais ricos como George Soros sejam parte de uma cabala global de satanistas que secretamente controlam o mundo.

O cerne da conspiração de Sather dependia de uma patente de 2015 registrada pelo Pirbright Institute em Surrey, Inglaterra, que cobria o desenvolvimento de uma forma enfraquecida de um coronavírus que poderia ser usado como uma vacina para prevenir doenças respiratórias em pássaros e outros animais. Essa é uma maneira padrão de como as vacinas são produzidas, para tudo, desde a gripe até a poliomielite.

À medida que o vírus se espalhou para fora da China, houve também boatos sobre Gates, com empresas de mídia social apenas tentando limitar seu alcance semanas depois de eles começarem. Melanie Smith, analista de ciberinteligência da Graphika, uma empresa de análise de redes, disse ao BuzzFeed News: "Acho que as plataformas de mídia social só reagiram de verdade para lidar com as desinformações sobre o coronavírus em março."

Nos primeiros meses do surto, disse Smith, muitos usuários comuns foram expostos a ideias extremamente sérias, incluindo uma que afirmava falsamente que Gates estava despovoando o planeta. "Gates criou uma vacina e ela será testada nos países africanos antes de ser testada em qualquer outro lugar", disse ela, explicando a teoria da conspiração.

Independentemente de como o Facebook, o Twitter e o YouTube tenham combatido o conteúdo conspiratório sobre a COVID-19, isso não foi suficiente. Em abril, Gates havia se tornado o principal alvo.


Em abril, a narrativa do "genocídio negro" foi reacendida. Diamond e Silk, influenciadoras pró-Trump e ex-personalidades da Fox News, declararam que jamais tomariam a vacina contra COVID-19 criada por Gates porque ele havia usado o povo africano como "cobaia". A comentarista conservadora Candace Owens tuitou no mesmo mês que “o criminoso das vacinas Bill Gates” havia usado “crianças tribais africanas e indianas para experimentar vacinas com drogas não aprovadas pela FDA”.

Em 10 de abril, uma petição pedindo a prisão de Gates foi publicada na página da Casa Branca referente a questões dos cidadãos. Ela tinha mais de meio milhão de assinaturas, em parte graças ao compartilhamento em grupos do Facebook, como o "Refuse Corona V@X and Screw Bill Gates", e um grupo de teoria da conspiração búlgaro chamado "Hidden Knowledge 2". A petição recebeu ainda mais atenção depois que foi coberta pelo NewsPunch.

Nesse mesmo mês, um vídeo do YouTube, agora excluído, cheio de informações erradas sobre Gates, intitulado “Dr. SHIVA Ayyadurai, MIT PhD Crushes Dr. Fauci Exposes Birx, Clintons, Bill Gates, And The W.H.O” (O Dr. SHIVA Ayyadurai, PhD do MIT, arrasa o Dr. Fauci e expõe Birx, Clintons, Bill Gates e a OMS) foi assistido mais de 6 milhões de vezes, com quase meio milhão de compartilhamentos no Facebook. Ao mesmo tempo, muitos grupos explicitamente contrários a Bill Gates se formaram no Facebook, sendo o maior deles o “Collective Action Against Bill Gates. We Wont Be Vaccinated!!” (Ação coletiva contra Bill Gates. Não seremos vacinados!!). De acordo com o site de medições sociais CrowdTangle, seus mais de 100 mil membros publicam regularmente parte do conteúdo mais compartilhado na plataforma sobre o ex-CEO da Microsoft. "Este é o sorriso de merda de Bill quando fala sobre o coronavírus", diz uma recente publicação.

Em 10 de abril, uma petição pedindo a prisão de Gates foi publicada na página da Casa Branca referente a questões dos cidadãos. Ela tinha mais de meio milhão de assinaturas.

Mas o "Collective Action Against Bill Gates" não é o único grupo. A reação contra ele é um ponto focal para várias comunidades de informações erradas anteriormente desvinculadas, como os antivacinas, conspiradores do 5G, New Agers e apoiadores do QAnon. Esses grupos, que variam em tamanho, têm nomes como “#SayNoToBillGates”, “STOP BILL GATES: He’s A Treasonous Murderous Psychopath & Must Be Stopped”, “TAG DONALD J TRUMP: STOP BILL GATES” e “Fauci & Gates to prison worldwide Resistance”.

Um porta-voz do Facebook disse ao BuzzFeed News que muitos grupos que apresentam conteúdo antivacinas recebem um aviso pop-up quando um usuário se junta a eles, alertando-os sobre informações erradas prejudiciais.

"Qualquer pessoa que procura e se junta a um grupo relacionado à COVID-19 ou às vacinas é então direcionada a informações precisas das organizações de saúde", disse o porta-voz. "Além disso, estamos trabalhando para remover esses tipos de grupos das recomendações que mostramos às pessoas."

No início de maio, pouco mais de 100 pessoas se reuniram nos degraus do prédio do parlamento estadual em Melbourne, na Austrália, e entoaram "prendam Bill Gates". Um dos oradores do protesto, Fanos Panayides, administra um grupo no Facebook chamado "99% unite Main Group 'it's us or them'", que desde o seu início em 8 de abril aumentou para mais de 37 mil membros, os quais fizeram mais de 900 mil publicações, comentários e reações, de acordo com o site de análise de mídia social CrowdTangle.

Placas e cartazes contra Gates apareceram no último mês em Long Island, Londres e Nottingham, na Inglaterra, e em Annapolis, Maryland. Gates também foi o foco de um violento protesto contra o lockdown devido à COVID-19 na Alemanha no fim de semana.

Teorias da conspiração também têm aparecido nas mídias sociais indianas. Baseando-se em uma alegação falsa que remonta a pelo menos 2014, o Health Impact News, um site de pseudociência que promove teorias da conspiração sobre 5G e vacinas, alegou em 19 de maio que a Fundação Bill & Melinda Gates havia sido processada e "levada a julgamento" perante a Suprema Corte da Índia com relação às mortes e lesões causadas pelos testes com Gardasil, a vacina contra o HPV. Uma versão da alegação apresentava uma foto de Gates e de Anthony Fauci, juntamente com o texto que dizia, em tradução livre: “Bem, bem, bem, o controlador populacional globalista Bill Gates logo após sua viagem à Índia com o Dr. Fauci.”

Embora na realidade não houvesse ação judicial, havia realmente um estudo na Índia financiado pela Fundação Gates. Em 2010, os testes, conduzidos pelo Program for Appropriate Technology in Health (PATH), foram cancelados depois que a mídia local reportou que sete garotas haviam morrido depois de participarem deles. Investigações realizadas pelo governo indiano determinaram que as mortes não estavam relacionadas à vacina.

Então, quando Cunial ficou diante do parlamento italiano na semana passada e exigiu que Gates fosse preso por "crimes contra a humanidade", isso não foi aleatório. Isso foi uma vitória cruzada para os teóricos da conspiração da COVID-19. Em meio a provocações e zombarias, Cunial convocou outros membros do parlamento a contrariarem qualquer plano de vacinação compulsória contra a COVID-19.

Cunial é um ex-membro do Movimento Cinco Estrelas (M5S), um partido antiestabelecimento que conquistou a maioria dos cargos nas eleições gerais de 2018 na Itália. Sua página no Facebook está cheia de informações erradas sobre antivacinas, anti5G e COVID-19. Ela também é apoiadora da teoria do microchip ID2020: a crença de que a ID2020 Alliance, uma organização não governamental que defende identificações digitais para pessoas e refugiados sem documentos, está trabalhando com Gates para criar um estado de vigilância com dispositivos de rastreamento na vacina contra COVID-19.

Ela está longe de ser a única antivacina entre o M5S ou seus ex-membros. O partido fez campanha com objeções a vacinações. Observadores da política italiana têm argumentado que o ceticismo com relação às vacinas é um dos princípios centrais do que o M5S representa.

Um membro da Câmara dos Deputados italiana condenou as “teorias absurdas e infundadas” de Cunial no Twitter, mas seu discurso foi, no entanto, aproveitado pela mídia estatal russa, amplificado pela extrema-direita americana e compartilhado de várias maneiras no Facebook e no YouTube.

Duas versões do discurso de Cunial foram removidas pelo YouTube após serem sinalizadas pelo BuzzFeed News. O porta-voz do YouTube, Farshad Shadloo, disse que os vídeos violavam as políticas do site sobre informações médicas erradas.

"Estamos comprometidos em fornecer informações oportunas e úteis neste momento crítico, aumentando o conteúdo confiável, reduzindo a disseminação de informações erradas prejudiciais e exibindo painéis de informações, usando dados do CDC, para ajudar a combater as informações erradas", disse Shadloo. "Temos políticas claras contra as informações erradas sobre a COVID-19, e removemos rapidamente vídeos que violam essas políticas quando sinalizados para nós."

Uma varredura dos comentários do YouTube sobre Cunial fará você se perguntar como resolver a confusão. Um relatório do RT sobre o discurso de Cunial foi compartilhado com o “X22 Report [Geopolitical], um dos maiores grupos QAnon do Facebook.

“Ironicamente, o verificador de fatos bloqueou isso mais cedo para mim. ... Isso é literalmente o que eles dizem. É ridículo", escreveu um usuário, referindo-se ao fato de que verificadores de fatos de terceiros do Facebook têm sinalizado várias versões do vídeo de Cunial como "parcialmente enganosas".

“O verificador de fatos e o Politifact é de propriedade de Gates e Soros, então você não saberá a verdade”, respondeu outro comentarista erroneamente, passando a praguejá-los em linguagem rebuscada: “Mas que o inferno seja seu lar e que o que eles mais temem na Terra seja 1.000 vezes seu tormento por toda a eternidade.” ●

Este post foi traduzido do inglês.

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