A Polícia Federal deflagrou nesta sexta (17) a Operação Carne Fraca, que investiga um esquema de fraudes na fiscalização de frigoríficos. Empresas pagavam propina a fiscais agropecuários a fim de driblar regras sanitárias e vender produtos estragados.
Segundo a PF, o chefe do esquema era Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura. Ele possui carros de luxo cujo valor é "incompatível com a sua renda".
A investigação começou após o fiscal Daniel Gouvêa Teixeira prestar um depoimento à Polícia Federal em que detalhou parte do esquema, referente à empresa Peccin Agroindustrial.
Teixeira disse que a empresa pagava propina a superiores dele em troca de vista grossa na fiscalização. Isso permitia à Peccin várias irregularidades, como usar carne estragada para fazer salsichas e ácido sórbico — produto cancerígeno proibido — para "maquiar", de acordo com a PF, os produtos vencidos.
A partir do depoimento voluntário, a PF passou a investigar e descobriu que o esquema era maior, envolvendo dezenas de empresas, inclusive as maiores do ramo — BRF, JBS e Seara.
A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, por exemplo, pagou uma viagem à Europa a uma servidora para burlar a regra que limita quantos frangos podem ser abatidos por hora.
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, deputado licenciado pelo PMDB-PR, teve um telefonema com Gonçalves Filho interceptado pela PF — que é subordinada à pasta dele.
O então deputado ligou ao superintendente em fevereiro do ano passado, para questioná-lo sobre a fiscalização no Frigorífico Larissa. O dono da empresa, Paulo Rogério Sposito, foi preso nesta sexta acusado de pagar propina a fiscais.
O magistrado responsável pelo caso, Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, considerou que não há indícios de que Serraglio cometeu crime.
Leia o diálogo abaixo.
Osmar Serraglio — Grande chefe, tudo bom?
Daniel Gonçalves Filho — Tudo bom.
OS — Viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
DGF – Não.
OS — O cara lá, que... O cara que tá fiscalizando lá apavorou o Paulo [Rogério Sposito, dono do Frigorífico Larissa] lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico, botou a boca. Deixou o Paulo apavorado! Mas pra fechar tem o rito, não tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desses?
DGF — Deixa eu ver o que tá acontecendo, tomar pé da situação lá, tá? Falo com o senhor.