O Ministério Público americano enviou a um tribunal de Nova York uma série de anotações e um áudio para usar como provas de que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e seu antecessor, José Maria Marin, cobravam propina para liberar contratos envolvendo o futebol brasileiro.
Uma das anotações revela um plano para pagar propina anual de até US$ 4 milhões para Marco Polo e Marin, entre 2013 e 2023.
A Justiça em Nova York julga o caso Fifa, onde diversos dirigentes são acusados de montar um esquema de cobrança de propina e lavagem de dinheiro junto com empresários. Marin está preso.
O julgamento será retomado nesta segunda-feira (4).
Tudo começou em 2015, quando José Hawilla, dono da empresa Traffic, tinha um acordo de delação com o governo americano e gravou diversas pessoas.
Conhecido como J.Hawilla, ele gravou um diálogo com Kleber Leite, da empresa Klefer. Tanto a Klefer como a Traffic negociavam transmissão de eventos esportivos e, por isso, precisavam do aval de dirigentes da CBF.
Na conversa, Leite afirma que paga US$ 1 milhão para Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e que Marco Polo e Marin dividem outro US$ 1 milhão.
J.Hawilla pergunta se eles sabem que Ricardo Teixeira ganha mais. Essa foi a resposta de Leite. "É claro que eles sabem. Ele [Marin] divide, como eles fazem eu não tenho a menor ideia."
Kleber Leite, Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin têm negado as acusações.
Esse diálogo ganhou importância para o julgamento porque, em determinado momento, Kleber Leite afirma que tem anotações guardadas num cofre com o controle dos pagamentos. "Eu mantenho anotações porque não confio na minha memória."
Essas anotações foram apreendidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público brasileiros e enviadas à Justiça americana.
Os documentos tratavam de valores para MP e M, que a procuradoria americana entende como Marco Polo e Marin. Eles receberiam US$ 1 milhão para cada edição da Copa do Brasil, até 2022, e outros US$ 3 milhões para cada Copa América, além de um bônus de US$ 3 milhões pela assinatura do contrato.
Esse é o conteúdo da anotação, traduzido para o inglês pelos procuradores:
"Copa America
Parties: Full Play – Traffic – Torneos
Period 2015-2023
MPM US$3M for each CA played + US $3M for contract signing
Copa do BrasilParties: Klefer
Period: 2013-2022
MPM: R$1M per year"
Além de citar os valores, os investigadores americanos consideram essas anotações importantes porque corroboram outras acusações. Os dirigentes da Torneos, por exemplo, também admitiram propinas aos cartolas brasileiros.
A defesa dos acusados, contudo, põe sob dúvida a autenticidade dos papéis. Por isso, a procuradoria pediu à Justiça que aceite como prova.
"Os documentos da Klefer são relevantes e admissíveis como provas de conspiração para cometer lavagem de dinheiro e fraudes em conexão com a Copa do Brasil e Copa América", diz o documento enviado pelo Ministério Público americano à Justiça.