Geddel omite escândalo e diz que se demitiu por causa do "sofrimento da família"

    Um dos mais próximos de Temer, ministro da Secretaria de Governo é o sexto a cair desde maio. Depoimento de ex-ministro da Cultura à PF envolveu o presidente em manobra para liberar obra privada de interesse de Geddel.

    Pivô da crise política, Geddel Vieira Lima pediu demissão da Secretaria Geral de Governo invocando "o sofrimento dos familiares" como motivo para deixar a articulação política do governo.

    Na curta carta de demissão endereçada a Michel Temer, o ex-ministro começa: "Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair". Aqui o texto:

    Na carta, o ministro não fala do escândalo que protagonizou e que levou as suspeitas de tráfico de influência e advocacia administrativa para dentro do gabinete de Michel Temer.

    O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou-o de fazer pressão para rever uma decisão do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) que barrava a construção de um projeto imobiliário onde Geddel adquiriu apartamento. A obra foi suspensa pela Justiça Federal da Bahia nesta semana.

    A temperatura da crise subiu após a revelação de que Marcelo Calero contou à Polícia Federal que Michel Temer o "enquadrou" para atender o interesse privado de Geddel Vieira Lima.

    Há rumores de que Calero tenha gravado suas conversas com Temer e com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

    Na última quarta (23), o BuzzFeed Brasil revelou o teor do depoimento do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho que afirmou aos procuradores que Geddel recebeu propina para liberar obras quando era ministro da Integração do governo Lula, entre 2007 e 2009.

    Segundo o delator, a empreiteira deu um relógio suíço Patek Phillippe, que vale US$ 25 mil (R$ 85 mil) de presente no aniversário de 50 anos de Geddel, em 2009. Leia aqui.

    O ministro negou que tenha recebido o relógio e a propina e disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o depoimento do ex-executivo da Odebrecht era uma medida desesperada para fechar o acordo de delação.

    Geddel é o sexto ministro a cair desde que Temer assumiu a Presidência da República, em 12 de maio. Os outros foram:

    1. Romero Jucá (Planejamento), 24 de maio.

    Gravado pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB), Romero Jucá (PMDB) deixou o governo por ter insinuado, nas conversas, um "pacto" para "estancar" a Lava Jato. Investigado no âmbito da operação e em outro inquérito, que corre no STF, Jucá é o atual líder do governo no Senado. O então secretário-executivo da pasta, Dyogo Oliveira, até hoje está como ministro-interino.

    2. Fabiano Silveira (Transparência), 30 de maio.

    Assim como no no caso de Jucá, a queda do segundo ministro do governo Temer ocorreu por uma gravação em que há críticas à Operação Lava Jato. Titular da pasta da Transparência, que substituiu a Controladoria-Geral da União (CGU), Silveira também foi gravado pelo ex-senador Sérgio Machado. No áudio, revelado pelo Fantástico, Silveira critica a condução que a Procuradoria-Geral da República faz das investigações.

    3. Henrique Eduardo Alves (Turismo), 16 de junho.

    Terceiro ministro a cair no governo Temer, Henrique Eduardo Alves (PMDB) foi também o terceiro a ser atingido pela Operação Lava Jato. Alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente da Câmara pediu demissão após vir à tona a informação de que o ex-senador Sérgio Machado o havia citado em seu acordo de colaboração com o Ministério Público.

    4. Fabio Medina Osório (AGU), 8 de setembro.

    Demitido pelo presidente Michel Temer por telefone, Fabio Medina Osório deu uma entrevista à revista Veja, no mesmo dia em que deixou a Advocacia-Geral da União, acusando o governo de querer abafar a Operação Lava Jato. Segundo o ex-ministro, ele tentou instaurar ações contra empreiteiras e políticos envolvidos no esquema de corrupção, mas o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o teria atrapalhado.

    5. Marcelo Calero (Cultura), 18 de novembro.

    Assim como Fabio Medina Osorio, o agora ex-ministro da Cultura Marcelo Calero deixou o Planalto acusando integrantes do governo Temer de crimes. Pivô da demissão de Geddel, Calero também deu uma entrevista no mesmo dia em que se demitiu, mas para o jornal Folha de S.Paulo.

    No texto, publicado um dia após ele deixar o governo, o diplomata de carreira acusada os principais auxiliares políticos de Temer — Geddel e Eliseu Padilha —, além do próprio presidente, de terem atuado pela liberação de uma obra na Bahia.

    Veja também:

    Geddel ganhou relógio de R$ 85 mil da Odebrecht e dinheiro para liberar obras, diz delator

    Geddel diz a jornal que não recebeu nem relógio e nem dinheiro

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