Pivô da crise política, Geddel Vieira Lima pediu demissão da Secretaria Geral de Governo invocando "o sofrimento dos familiares" como motivo para deixar a articulação política do governo.
Na curta carta de demissão endereçada a Michel Temer, o ex-ministro começa: "Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair". Aqui o texto:
Na carta, o ministro não fala do escândalo que protagonizou e que levou as suspeitas de tráfico de influência e advocacia administrativa para dentro do gabinete de Michel Temer.
O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou-o de fazer pressão para rever uma decisão do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) que barrava a construção de um projeto imobiliário onde Geddel adquiriu apartamento. A obra foi suspensa pela Justiça Federal da Bahia nesta semana.
A temperatura da crise subiu após a revelação de que Marcelo Calero contou à Polícia Federal que Michel Temer o "enquadrou" para atender o interesse privado de Geddel Vieira Lima.
Há rumores de que Calero tenha gravado suas conversas com Temer e com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Na última quarta (23), o BuzzFeed Brasil revelou o teor do depoimento do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho que afirmou aos procuradores que Geddel recebeu propina para liberar obras quando era ministro da Integração do governo Lula, entre 2007 e 2009.
Segundo o delator, a empreiteira deu um relógio suíço Patek Phillippe, que vale US$ 25 mil (R$ 85 mil) de presente no aniversário de 50 anos de Geddel, em 2009. Leia aqui.
O ministro negou que tenha recebido o relógio e a propina e disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o depoimento do ex-executivo da Odebrecht era uma medida desesperada para fechar o acordo de delação.
Geddel é o sexto ministro a cair desde que Temer assumiu a Presidência da República, em 12 de maio. Os outros foram:
1. Romero Jucá (Planejamento), 24 de maio.
Gravado pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB), Romero Jucá (PMDB) deixou o governo por ter insinuado, nas conversas, um "pacto" para "estancar" a Lava Jato. Investigado no âmbito da operação e em outro inquérito, que corre no STF, Jucá é o atual líder do governo no Senado. O então secretário-executivo da pasta, Dyogo Oliveira, até hoje está como ministro-interino.
2. Fabiano Silveira (Transparência), 30 de maio.
Assim como no no caso de Jucá, a queda do segundo ministro do governo Temer ocorreu por uma gravação em que há críticas à Operação Lava Jato. Titular da pasta da Transparência, que substituiu a Controladoria-Geral da União (CGU), Silveira também foi gravado pelo ex-senador Sérgio Machado. No áudio, revelado pelo Fantástico, Silveira critica a condução que a Procuradoria-Geral da República faz das investigações.
3. Henrique Eduardo Alves (Turismo), 16 de junho.
Terceiro ministro a cair no governo Temer, Henrique Eduardo Alves (PMDB) foi também o terceiro a ser atingido pela Operação Lava Jato. Alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente da Câmara pediu demissão após vir à tona a informação de que o ex-senador Sérgio Machado o havia citado em seu acordo de colaboração com o Ministério Público.
4. Fabio Medina Osório (AGU), 8 de setembro.
Demitido pelo presidente Michel Temer por telefone, Fabio Medina Osório deu uma entrevista à revista Veja, no mesmo dia em que deixou a Advocacia-Geral da União, acusando o governo de querer abafar a Operação Lava Jato. Segundo o ex-ministro, ele tentou instaurar ações contra empreiteiras e políticos envolvidos no esquema de corrupção, mas o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o teria atrapalhado.
5. Marcelo Calero (Cultura), 18 de novembro.
Assim como Fabio Medina Osorio, o agora ex-ministro da Cultura Marcelo Calero deixou o Planalto acusando integrantes do governo Temer de crimes. Pivô da demissão de Geddel, Calero também deu uma entrevista no mesmo dia em que se demitiu, mas para o jornal Folha de S.Paulo.
No texto, publicado um dia após ele deixar o governo, o diplomata de carreira acusada os principais auxiliares políticos de Temer — Geddel e Eliseu Padilha —, além do próprio presidente, de terem atuado pela liberação de uma obra na Bahia.