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Por que a eleição da França é tão importante para o resto do mundo

As pesquisas apontam a vitória do centrista Emmanuel Macron, mas não é uma boa ideia subestimar Marine Le Pen (extrema-direita). Torcedores da Hillary Clinton e do Atlanta Falcons que o digam...

Os franceses vão às urnas neste domingo para escolher entre o centrista Emmanuel Macron e candidata da extrema-direita Marine Le Pen. A eleição vai determinar não só o futuro dos próximos cinco anos na França, mas potencialmente o futuro da própria União Europeia – maior bloco econômico do planeta.

No primeiro turno, o eleitor despachou os candidatos da centro-direita e a esquerda socialista – que vinham se alternando no poder desde que Charles De Gaulle fundou a Quinta República em 1958.

Sobreviveram Macron, um ex-banqueiro de investimentos e ex-ministro da Economia de François Hollande, que fundou um partido Em Frente ("En Marche"), no ano passado, e a veterana da extrema-direita Marine Le Pen, que disputa a sua segunda eleição presidencial. Em 2012, ela obteve 18% dos votos e ficou em terceiro lugar.

Em economia e questões sociais, os dois candidatos são antagonistas.Macron é a favor da continuidade da França na bloco europeu e da continuidade da moeda única. Moderado, ele obteve declarações de apoio dos candidatos derrotados dos Republicanos (centro-direita), François Fillon, e do Partido Socialista, Benoît Hamon, no primeiro turno.

Eurocética, Le Pen já se mostrou favorável à saída da França da zona do euro e da Otan (a aliança de defesa transatlântica), além de uma política linha-dura contra imigrantes e terrorismo. Ela acusa o adversário, favorável aos negócios e a reformas nas leis trabalhistas francesas, de defender a "uberização" da economia francesa.

"Depois do Brexit, o resultado da eleição da França se tornou cada vez mais importante porque o futuro do euro é uma questão central. Ao exacerbar o discurso de soberania nacional, Marine Le Pen prega uma ruptura com o projeto europeu", disse ao BuzzFeed News Marc Abélès, professor da prestigiosa Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS, na sigla em francês).

Todos os analistas e pesquisas apontam uma vitória folgada de Macron no domingo. Le Pen só lidera com mais da metade das intenções de votos em uma região do sul do país (Provence-Alpes-Côte d’Azur), uma fortaleza da Frente Nacional. Na Grande Paris, as intenções de voto dela caem para a casa dos 30% e ele, lidera.

As previsões de vitória de Macron, contudo, não devem levar Le Pen a ser subestimada.

Em um comunicado que distribuiu nesta sexta (5), a consultoria de risco político Eurasia Group falou sobre as chances de Macron obter uma "vitória confortável", segundo todas as pesquisas.

Os analistas, entretanto, tomaram uma cautela: "As pesquisas mostram Macron 20 pontos à frente. Mas nós vamos esperar [o resultado] porque os apoiadores de Hillary Clinton e os torcedores do Atlanta Falcons redefiniram o conceito de 'confortável'".

Ex-favorita, a democrata perdeu a eleição americana para Donald Trump.

Já o time Atlanta Falcons estava batendo o New England Patriots por 28 a 9 nos três primeiros quartos do Super Bowl, em fevereiro. Os Patriots empataram no último quarto e viraram o jogo na prorrogação.

Como a extrema-direita espera virar o jogo com os votos da extrema-esquerda

No primeiro turno, ela conquistou 7,7 milhões de votos (21% dos votos – apenas dois pontos percentuais abaixo de Macron) – um recorde para a Frente Nacional, partido fundado pelo pai da candidata Jean-Marie Le Pen, com origens no forte discurso xenofóbico.

Quando Jean-Marie Le Pen concorreu à Presidência pela primeira vez, em 1974, conquistou menos de 1% dos votos. Nos anos 1990, a Frente Nacional rompeu a barreira de 10% dos votos para a Presidência, mas foi em 2002 que ele sacudiu o sistema ao ultrapassar os socialistas e chegar ao segundo turno.

Mesmo com a derrota para Jacques Chirac no turno final em 2002, foi um resultado e tanto para uma agremiação que negava o Holocausto (o próprio Le Pen pai já disse que as câmaras de gás foram um "detalhe" na História da Segunda Guerra Mundial). O velho Le Pen não tinha uma plataforma política muito clara, exceto pela promessa de expulsar os imigrantes do país.

A filha e sucedeu o pai no comando do partido em 2011, distanciou-se politicamente dele e, mais tarde, expulsou-o do partido. A xenofobia do passado foi repaginada num discurso de "escolher a França" – uma espécie de version française do "America first" de Donald Trump.

Uma das chaves para compreender é a forte penetração da mensagem de Le Pen de protecionismo cultural e econômico, em um país cuja economia patinou na maior parte do mandato do impopular presidente socialista François Hollande (que, não por acaso, não se candidatou à reeleição).

Marine Le Pen prometeu aposentadoria mais cedo para os trabalhadores, benefícios maiores e uma semana mais curta de trabalho, além de serviços públicos de alto nível.

Ao propagar a crença de que os franceses conseguirão prosperar trabalhando menos, ela flerta com o eleitorado de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da extrema-esquerda e outro crítico das instituições europeias, que alcançou quase 20% dos votos no primeiro turno, no mês passado.

"Na verdade, o crescimento da extrema-direita nos antigos bastiões do antigo Partido Comunista é um fenômeno antigo, que vem do final dos anos 90, com o desemprego e a desconfiança crescentes contra os estrangeiros", disse Abélès, da EHESS.

Este fenômeno é mais agudo no norte do país, que vem passando por um processo de desindustrialização nos últimos 20 anos – no que traz similaridades com o "Rust Belt" ("Cinturão da Ferrugem", a região do norte dos Estados Unidos mais castigada pelo fechamento de postos de trabalhos industriais desde os anos 1990.

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