Deflagrada nesta terça (21), a operação Satélites, sétima etapa da Lava Jato autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, teve como alvos operadores ligados a quatro senadores do PMDB e do PT: o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), Valdir Raupp (RO) e Renan Calheiros (AL), todos do PMDB, e o petista Humberto Costa (PE).
As buscas feitas hoje visam obter provas em casos de propina que foram citados por delatores da Odebrecht e do grupo Hypermarcas.
Estas são as suspeitas contra cada senador:
Eunício Oliveira (PMDB-CE) — R$ 7,1 milhões
Apelidado pela Odebrecht como "Índio", o senador recebeu R$ 5 milhões para sua campanha ao governo do Ceará em 2014 da empresa Hypermarcas, de acordo com a delação de ex-diretor de relações institucionais do grupo, Nelson Mello.
Para justificar os pagamentos em sua contabilidade, a Hypermarcas usou contratos falsos de prestação de serviços, de acordo com o delator.
Além disso, José Carvalho Filho, da Odebrecht, também relatou o pagamento de outros R$ 2,1 milhões ao peemedebista, entre 2013 e 2014.
Nesta terça-feira, um sobrinho do senador, Ricardo Augusto, também foi alvo. Ele é sócio da empresa Confederal, que faz transportes de valores no Distrito Federal e é apontada por delatores como o caminho do dinheiro.
Valdir Raupp (PMDB-RO) — R$ 7 milhões
O senador aparece como "Alemão" na planilha da Odebrecht. Segundo o delator Henrique Valladares, ele recebeu R$ 7 milhões para garantir o apoio político para a empreiteira, em Furnas, na obra da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, sua base eleitoral.
O pagamento foi por meio do então diretor de Furnas Márcio Porto cujo apelido era "flamenguista", que foi alvo da operação desta terça-feira.
Renan Calheiros (PMDB-AL) — R$ 2,5 milhões
A PGR pediu ao Supremo para buscar provas em um hotel em Alagoas, onde teria ocorrido encontros entre Renan e executivos da Odebrecht para tratar de dinheiro. Segundo a delação de Cláudio Melo, o senador recebeu R$ 500 mil em 2010 e, em 2014, R$ 2 milhões por meio de doações eleitorais.
Humberto Costa (PT-PE) — R$ 1 milhão
O empresário Mário Beltrão foi alvo de busca e apreensão na Satélites. Ele é acusado pela Odebrecht de ser o intermediário de R$ 1 milhão de caixa 2, durante a campanha eleitoral de 2010.
O que dizem os senadores:
Por meio de nota, Eunício Oliveira disse que, em 2014, autorizou "que fossem solicitadas doações, na forma da lei, para sua campanha ao governo do Ceará". Segundo a nota, a apuração das versões de delatores, cujo conteúdo diz desconhecer, é "o caminho natural do rito processual."
O presidente do Senado encerrou dizendo que "a verdade dos fatos prevalecerá."
Os senadores Valdir Raupp e Renan Calheiros foram procurados, mas a reportagem não conseguiu localizá-lo até a publicação desta reportagem. Na tribuna do Senado, Raupp disse que "não sabe do que se trata" a operação desta segunda e que ninguém que ele conhece foi alvo das medidas autorizadas pelo STF.
Em outras ocasiões em que falou sobre a delação da Odebrecht, Renan disse que nunca autorizou ou credenciou qualquer pessoa a usar seu nome. Disse ainda que ele jamais recebeu vantagens de quem quer que seja. Destacou também que todas as contas eleitorais e pessoais do senador são regulares e com recursos de origem conhecida.
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que considera "absolutamente absurda" a informação que consta na delação da Odebrecht.
Costa acrescentou, ainda, que "reitera a total lisura de sua campanha, bem como a regularidade de suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral", e que "já demandou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o acesso ao teor da ação cautelar cujos mandados foram cumpridos nesta terça".
A reportagem ainda não conseguiu contato com os advogados de Ricardo Augusto e de Márcio Porto.
(Colaboraram: Severino Motta, Alexandre Aragão e Graciliano Rocha)