Esta advogada foi a primeira pessoa trans a falar na tribuna do STF e sua defesa foi emocionante

    "Se estou aqui perante vossas excelências é porque sou uma sobrevivente."

    Com apenas dois anos de carreira, a advogada Gisele Alessandra Schmidt e Silva fez nesta quarta (7) sua primeira sustentação oral. Na tribunal do Supremo Tribunal Federal.

    Gisele é transexual e representou o Grupo Dignidade na defesa de um processo para que as pessoas trans tenham o direito de mudar o nome e o gênero de seus documentos oficiais sem que sejam obrigadas a fazer a cirurgia de redesignação de sexo.

    O discurso foi emocionante: "Sinto que estou fazendo história. Mas se estou aqui perante vossas excelências é porque sou uma sobrevivente." O VÍDEO ESTÁ NO FINAL DESTE POST.

    "Sobrevivi ao apedrejamento moral e físico, à proibição de estar nas ruas e nos espaços públicos mesmo à luz do dia; à mendicância e sepultamento como indigente, como acontece com a maioria das pessoas trans brasileiras."

    "Nem mesmo no momento extremo da morte tenham merecido respeito ao nome e ao gênero com o qual se identificam."

    "Também sei que falo de um lugar de privilégio, seja porque sou advogada, seja porque a minha documentação civil reflete meu nome verdadeiro e a minha identidade de gênero."

    "Não obstante estar hoje neste espaço e gozar de certa dignidade, não fui exceção no que concerne as agruras vividas pelas pessoas trans brasileiras: bullying no ambiente escolar, exclusão do seio familiar quando veio à tona minha identidade de gênero e exclusão do mercado de trabalho."

    "Essas situações que vivi por ser pessoa trans trouxeram feridas intratáveis em minha alma."

    "Não realizei a cirurgia de transgenitalização por não considerar que uma parte do meu corpo me defina enquanto mulher. E por não ter a mínima estrutura e coragem para realizar um procedimento tão invasivo, que pode colocar em risco a minha vida."

    "Não somos doentes como pretende a classificação internacional de doenças. Não sofro de transtorno de identidade sexual. Sofre a sociedade de preconceitos historicamente arraigados contra nós e nossos corpos, tidos como abjetos."

    "Somos obrigadas a demonstrar certo padrão de feminilidade ou de masculinidade, que varia ao sabor da subjetividade. E muitas vezes, se nos permitem mudar o prenome, não nos permitem mudar o designativo de sexo."

    "Temos que obter um laudo médico que ateste termos um transtorno mental. Somos ouvidas pela Justiça, pelo Ministério Público. São ouvidas testemunhas."

    "Nossas memórias e intimidades são escrutinadas através de fotografias que demonstrem ser quem dizemos ser. Tudo para provar que nossa identidade não é um delírio."

    "Negar a uma pessoa o direito ao nome, à expressão de sua identidade, é negar o direito de existir."

    O julgamento foi interrompido e deve ser retomado na próxima semana.

    Veja o vídeo aqui:

    Veja este vídeo no YouTube

    youtube.com


    Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

    Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.