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Doria vai para o Nordeste, onde é desconhecido por metade do eleitorado

Sem dizer que é candidato a presidente, prefeito de SP faz agenda em região onde Lula ainda reina.

Considerado como cada vez mais forte como alternativa tucana à Presidência da República, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), investirá nas viagens pelo país. Em agosto, já são duas agendas no Nordeste, onde o prefeito é desconhecido por 52% dos eleitores.

Segundo a última pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial, Doria tem 10% de intenção de votos, mas seu eleitorado se concentra maciçamente na região Sudeste (66%). O Nordeste tem 14% de seus potenciais eleitores, empatado com o Sul.

O grau de desconhecimento dos eleitores sobre Doria é alto: 41% (Lula, que lidera com 30% das intenções de voto, é conhecido por 99% dos entrevistados).

As regiões onde Doria é mais desconhecido são o Nordeste e o Norte (52% e 53%, respectivamente, sendo que 25% e 28% dos entrevistados disseram conhecê-lo só de ouvir falar).

No dia 18, Doria estará em Fortaleza, onde visitará a redação do jornal O Povo. Deve também participar de um evento organizado pela Lide, empresa de relacionamento com empresários, criada pelo próprio prefeito.

No dia 31, o destino é Campina Grande, na Paraíba. A cidade é reduto do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que já foi prefeito e também governou o Estado. Antes do Nordeste, Doria vai a Curitiba – berço da Lava Jato – no dia 3.

O Nordeste é alvo também do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já se declarou pré-candidato à Presidência. O mês escolhido também é agosto.

Só que a ideia dos petistas é fazer uma caravana, com eventos públicos, reunindo prefeitos e governadores aliados. O Nordeste é onde Lula tem sua maior fortaleza.

O anti-Lula

Apesar de não se declarar pré-candidato, Doria tem um discurso que foge do script de um prefeito. Ele foca diretamente em Lula, seu potencial adversário em 2018. O rival petista de 2016, o ex-prefeito Fernando Haddad, por exemplo, acaba esquecido nas críticas do tucano.

O antipetismo de Doria divide opiniões entre os tucanos, mas ganha força entre os eleitores. Um dos temores de seus auxiliares, no entanto, é que Doria fique apenas "pregando para convertidos" e não aumente o eleitorado.

O prefeito tem incomodado também uma ala do PSDB que discorda publicamente de seu comportamento de hiper-exposição nas redes sociais e de seu antipetismo fervoroso.

Na ocasião em que Doria foi ao Facebook comemorando a condenação de Lula por Sergio Moro, o ex-governador Alberto Goldman estocou o prefeito, dizendo que ele "parece um papagaio".

O ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilella, chamou Doria de "prefeito desfocado".

"A cidade está piorando, os buracos aumentando, os faróis estão quebrados, o capim aumentando e ele desconhece isso. Fica brigando com o Lula e nomeando gente na Executiva. Esse cara está delirando", disse Aníbal ao Estadão.

Um aliado do prefeito desdenhou as críticas de Goldman e Aníbal como falatório de "gente sem voto".

O estilo trombador do prefeito causou incômodo em recente encontro do alto tucanato em São Paulo.

Doria foi para cima do senador Aécio Neves (PSDB-MG), sugerindo que ele se desligasse de vez da presidência do partido.

Aécio foi abatido pela delação de Joesley Batista, do grupo JBS, mas a abordagem direta de Doria estarreceu o senador e mesmo tucanos que desejam sua saída do comando da legenda, que acharam que Doria acabou tensionando ainda mais a situação.

Mesmo bastante ferido, Aécio ainda conseguiu mobilizar o partido para evitar a degola no Conselho de Ética do Senado.

Um homem chamado Geraldo

O maior problema de Doria é que até a candidatura, que deve ser definida em março, a pedra do caminho é justamente seu mentor na política, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O governador já declarou o desejo de se candidatar à Presidência de novo (disputou com Lula em 2006 e saiu derrotado). Tucanos próximos a ele dizem que é difícil que ele desista da disputa.

O relacionamento de Alckmin e Doria tenta resistir ao desempenho de Doria nas pesquisas. O prefeito tem 10% e o governador 8%, segundo o Datafolha em junho, mas a rejeição de Alckmin é maior.

Segundo pessoas do entorno de Doria, a relação do prefeito com o governador é boa, mas "recados" do Palácio dos Bandeirantes chegam sempre à sede da prefeitura, a maioria dizendo "você está aparecendo muito".

No entorno do prefeito, a voz corrente é que Doria não vai mudar seu jeito de fazer política apenas para evitar risco à pretensão presidencial de Alckmin.

O entendimento dos pró-Doria é que a candidatura de Alckmin tende a desmanchar, ainda mais se ele for incluído nas investigações da Lava Jato.

O principal passivo de Alckmin na Lava Jato é o cunhado Adhemar Ribeiro, acusado pelos delatores da Odebrecht de participar dos repasses ilegais nas campanhas do governo de São Paulo em 2010 e 2014.

Outro front judicial acompanhado pelos partidários e adversários do governador é a denúncia de cartel e superfaturamento nos contratos dos trens com o governo de São Paulo. Por enquanto, os denunciados são executivos da estatal CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Para aliados do governador, Doria poderia concorrer ao governo do estado no ano que vem em um cenário de Alckmin disputando o Planalto. A ideia já é defendida publicamente por parlamentares e pelo presidente estadual da legenda, Pedro do Tobias.

Falta combinar direito com o prefeito. No quintal de Doria, a avaliação corrente é que, mesmo que Alckmin passe ileso pela Lava Jato, o governador não é tão competitivo quanto o prefeito, principalmente se o nome do PT for Lula.

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