• newsbr badge

Jordan Peterson diz que a carne curou sua depressão, e sua filha pode explicar melhor essa dieta – por uma módica quantia

Mikhaila Peterson, 26, está ganhando dinheiro com um novo tipo de dieta que supostamente curou sua depressão e artrite: só carne, o tempo todo.

Mikhaila Peterson come carne bovina três vezes ao dia. Ela frita ou assa a carne, põe um pouco de sal e bebe água com gás durante a refeição – e só isso. Nada de frutas ou legumes. Apenas carne.

É a “dieta carnívora”, a última moda a virar febre na internet, e a jovem de 26 anos jura que isso curou sua depressão e artrite reumatoide. Sim, ela admite, “parece absurdo” e não há nenhuma pesquisa que comprove isso, além de Mikhaila não ser qualificada para dar diagnósticos médicos. Mas agora ela está oferecendo “consultas” via Skype sobre a dieta por cerca de US$ 90 a hora, seguindo os passos financeiros de seu famoso pai.

O pai dela é Jordan Peterson, psicólogo da Universidade de Toronto que virou estrela do YouTube, autor de best-sellers e um influente líder que se manifesta contra o politicamente correto e a política de identidade. Ele também é o maior incentivador do regime.

O professor tuíta sobre a dieta da sua filha e recentemente falou sobre ela no popular podcast de Joe Rogan. Ele disse a Rogan, no início de julho, que estava no regime 100% carne há dois meses, após um ano comendo muita carne e alguns legumes. Ele sofria com de depressão grave desde os 13 anos de idade e sempre teve dificuldades para acordar, afirmou, mas a dieta da sua filha acabou com isso.

“Perdi 22 quilos”, disse a Rogan. “Meu apetite provavelmente diminuiu em 70%. Não tenho problemas de glicose no sangue. Preciso de menos sono.” Sua depressão e ansiedade desapareceram, sua mente estava afiada. “E minha gengivite também sumiu. Tipo, como assim?”

Mikhaila Peterson defende sua causa em seu blog (“Don’t Eat That”; Não Coma Isto, em tradução livre) e está atrás de doadores no Patreon. Seu site atrai entre 50.000 a 100.000 visitantes mensalmente, segundo ela. No mês passado, após receber uma montanha de e-mails e pedidos para um bate-papo, ela começou a cobrar por consultas via Skype. Em seu site, ela esclareceu: “Estou aqui para ouvir vocês e explicar com mais detalhes sobre o que fiz para me sentir melhor”. Meia hora custa 75 dólares canadenses e uma hora custa 120. Mikhaila disse que não conseguiria blogar o tempo todo, tendo de criar uma filha, de graça (seu marido é consultor empresarial).

Médicos especialistas disseram ao BuzzFeed News que não há provas de que uma dieta composta apenas por carne possa tratar a depressão ou a artrite. Também é pouco provável que cause algum prejuízo grave. Ainda assim, alguns deles se preocupam com a venda de falsas esperanças.

“Principalmente para alguém sem formação e sem muito conhecimento, creio que é perigoso ela tentar empurrar isso como um estilo de vida”, disse Ethan Weiss, cardiologista na Universidade da Califórnia, São Francisco (EUA).

“As pessoas são muito impressionáveis, principalmente pessoas doentes. Elas querem melhorar e tentarão de tudo. Eu me preocupo que isso seja tirar vantagem de pessoas que estão realmente sofrendo.”

My daughter @MikhailaAleksis created a FB page for her blog https://t.co/Th4mHjVNCI. It will chronicle how diet has affected our family, give it a follow if interested: https://t.co/rPUR95RqR1

Mikhaila não inventou a dieta carnívora – que é uma evolução das dietas cetogênica e paleolítica (ricas em gordura e pobre em carboidratos). A World Carnivore Tribe (Tribo Carnívora Mundial), grupo do Facebook criado para adeptos da moda, conta com 15.000 membros. Ele é gerido por Shawn Baker, ex-cirurgião ortopédico que vende um programa de nutrição e exercícios (a US$ 49 mensais) chamado de “Carnivore Training System (Sistema de Treinamento Carnívoro)” e possui 40.000 seguidores no Instagram (o registro médico de Baker foi cassado). Há uma hashtag no Instagram, #MeatHeals (#CarneCura), ligada a 17.000 publicações.

Segundo subfóruns do Reddit, como /r/carnivore e /r/zerocarb, as regras da dieta são simples: comer carne e outros produtos animais, beber água e preferir carnes gordas a carnes magras. Os defensores da dieta acreditam que a carne possui todos os nutrientes de que o corpo precisa. E a eliminação completa de carboidratos força o corpo a utilizar a gordura para obter energia.

No entanto, os médicos não acreditam que seja saudável comer apenas carne, o tempo todo. Para evitar doenças cardíacas, a Associação Americana do Coração e a Federação Mundial do Coração recomendam uma pequena quantidade de gorduras saturadas, do tipo encontrada em carne bovina, suína, de aves e outras comidas. Pesquisam ligam a carne vermelha ao câncer colorretal. E a insuficiência de vitaminas e fibras, normalmente encontradas em frutas e vegetais, é porta de entrada para doenças como escorbuto e constipação intestinal.

“Eu não vejo nenhum benefício para a saúde em uma dieta baseada primariamente em carne vermelha”, disse Kristen Smith, nutricionista especializada em dietas que vê a popularidade da dieta carnívora crescer nas mídias sociais. “Atualmente não há nenhuma pesquisa que comprove os benefícios a longo prazo desta dieta para a saúde.”

No entanto, Mikhaila acredita piamente na dieta. Antes de se tornar uma carnívora, ela disse ao BuzzFeed News, vivia doente. Aos 7 anos, foi diagnosticada com artrite reumatoide. A doença era tão grave que, aos 17 anos, ela teve de substituir o quadril direito e o tornozelo esquerdo por próteses. Além disso, começou a tomar antidepressivos na quinta série e, posteriormente, abandonou a Universidade Concórdia, em Montreal (Canadá), por problemas de saúde mental. A fadiga constante e a acne cística pioravam ainda mais as coisas. No auge dos problemas, ela tomava seis remédios de uma vez.

“Eu nunca acreditei que dietas pudessem tratar alguma coisa séria”, afirmou. No entanto, quando ela desenvolveu uma erupção cutânea que não melhorava, Mikhaila tentou cortar o glúten ao saber que isso tinha funcionado para algumas pessoas com doença celíaca e problemas de pele. A partir disso, começou a experimentar uma dieta cetogênica limitada. Houve certa melhora, mas os resultados não foram tão positivos. Até que ela se deparou com a história de uma mulher que afirmava ter curado sua doença de Lyme com uma dieta a base de carnes. “Naquela noite, decidi: 'Tudo bem, vou passar a comer apenas carne e ver o que acontece’. Mas foi algo no desespero”, relembra.

Isso foi em dezembro. Desde então, afirmou, perdeu peso sem se exercitar (4,5 quilos nas primeiras duas semana); não sente mais rigidez nas juntas; não acorda com medo do dia, nem sente vontade de comer outros alimentos e tem muita energia; e, o melhor de tudo, não está mais tomando remédios. “A cada mês que passa, me sinto melhor”, disse.

E, agora, seu pai também está nessa. Em abril, ela escreveu no blog sobre seu pai: “É muito estressante acompanhar como ele vem melhorando fisicamente, mas nem um pouco mentalmente, nos últimos 3 anos. Além disso, ele agora é uma estrela e por isso rola todo um estresse extra. Ficou difícil distinguir o que é por causa da vida e o que é resultado da dieta. Bem, a parte da ansiedade era a dieta! Então isso é ótimo”.

Procurado por meio do seu assessor de imprensa, Jordan Peterson preferiu não comentar.

Weiss, o cardiologista, não ficou surpreso com a perda de peso de Mikhaila Peterson, pois proteínas deixam as pessoas saciadas mais rápido, fazendo com que comam menos (além disso, nas palavras do médico: “Quanta carne você consegue comer em um dia?”). E, se houve melhora em suas doenças autoimunes ou depressão por causa da dieta, disse, isso provavelmente se deve a um efeito placebo. “Mas, se ela está se sentindo bem fazendo isso e prefere a dieta a tomar um monte de remédio, tudo bem. Se é o que ela quer fazer.”

O colesterol é uma das preocupações de Weiss, já que o excesso de um certo tipo de colesterol aumenta o risco de doenças e ataques cardíacos. (Há muito acredita-se que gorduras saturadas, encontradas em carnes vermelhas, aumentem esses riscos, apesar de novas evidências sugerirem que elas podem ser menos prejudiciais do que se presumia. Em um controverso editorial publicado no ano passado, indo de encontro às recomendações dos principais grupos de saúde pública, três cardiologistas defenderam que as gorduras saturadas não entopem artérias e que, por si só, não são um problema.)

Mikhaila disse que a mudança para a dieta carnívora não foi nem um pouco tranquila: ela teve diarreia durante as primeiras seis semanas. No entanto, afirma que agora sua digestão está estável e que seu nível de colesterol está normal. Ela ainda está aguardando os resultados de um exame de sangue para confirmar como estão seus níveis vitamínicos. Até onde sabe, porém, não tem escorbuto e também não está preocupada o suficiente para tomar suplementos vitamínicos.

Mikhaila alega que está apenas falando sobre sua própria experiência, não diagnosticando pessoas ou instruindo-as sobre o que fazer. “Eu me sentiria pior, eticamente, não contando às pessoas o que aconteceu comigo do que explicando o que aconteceu comigo”, acrescentou.

Sua filha, que está quase com um ano, é saudável e não apresenta nenhum problema. Até o momento, Mikhaila a alimenta com leite materno e, sim, carne.

No entanto, não planeja seguir esse menu para sempre. “Após o seu primeiro aniversário, vou acrescentar algo aos pouquinhos, um legume por vez, para ver se ela gosta”, disse.



Este post foi traduzido do inglês.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.