O Facebook confirmou que políticos podem publicar o que quiserem, seja falso ou não

    "Está claro para mim que eles estão pulando de crise em crise," disse um estrategista digital.

    Na terça-feira, enquanto os Estados Unidos aguardavam a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, anunciar uma investigação formal de impeachment contra o presidente Donald Trump, o vice-presidente de assuntos globais do Facebook, Nick Clegg — que foi vice-primeiro-ministro do Reino Unido de 2010 a 2015 —, subiu ao palco no Atlantic Festival, em Washington, para esclarecer como a plataforma lida com autoridades eleitas: não se envolve.

    Em seus comentários, Clegg disse que o Facebook continuará a isentar os políticos da verificação de fatos feita por parceiros da plataforma e permitirá que eles publiquem conteúdo que, se fosse publicado por usuários comuns, seria considerado contrário às diretrizes da comunidade.

    "Quero deixar bem claro hoje: nós não enviamos discursos de políticos para nossos fact-checkers [os parceiros terceirizados que verificam as informações] e normalmente os permitimos na plataforma ainda que violem nossas regras normais sobre conteúdo", disse Clegg.

    "É claro, há exceções. Em termos gerais, são duas: quando o discurso ameaça pessoas e quando somos pagos, é por isso que temos regras mais rígidas em matéria de publicidade do que para o discurso e a retórica comuns"

    A política que isenta os políticos da verificação de fatos tem sido praticada desde o ano passado. Conforme está escrito, ela se aplica à políticos dos níveis executivo, nacional e regional, incluindo aqueles que se candidatam a cargos públicos. Parece claramente desenvolvida para evitar que o Facebook tome decisões de moderação de conteúdo que o coloquem no centro da campanha presidencial americana em 2020. Mas, à medida que os Estados Unidos entram em um momento político historicamente tumultuado, o anúncio de Clegg causou alguma confusão.

    "Eu ainda não entendo o que é a política do Facebook e quais implicações ela tem para as campanhas que trabalho," disse o estrategista digital republicano Eric Wilson ao BuzzFeed News. "É claro para mim que eles estão pulando de crise em crise, e não parece que eles têm uma firme compreensão sobre como ter isso sob controle a tempo para 2020."

    A principal preocupação entre os que foram contatados pelo BuzzFeed News era a incerteza sobre a quem exatamente se aplicava a regra. Como o Facebook aplicaria sua definição de "político"?

    "Essa política do Facebook levanta mais perguntas do que respostas", disse Renee DiResta, que pesquisa sobre a desinformação online. "A empresa precisa esclarecer o que eles querem dizer com 'político'." Será que qualquer maluco que preenche um formulário para concorrer a um cargo é agora um "político" ou há algum padrão?

    O porta-voz do Facebook se recusou a comentar.

    Chloe Colliver, uma das principais pesquisadoras digitais no Institute for Strategic Dialogue em Londres, disse que isentar os políticos da verificação de fatos no Facebook abre uma lacuna na integridade das informações na plataforma que o presidente Trump poderia explorar durante uma batalha contra o impeachment.

    "Temos visto uma onda de políticos da extrema-direita crescer rapidamente em posições de influência nos governos de toda a Europa e no mundo, apoiando-se, em parte, nas plataformas de comunicação que lhes permitem promover conteúdo abominável e discriminatório em uma escala e velocidade inteiramente novos e com elevados recursos de direcionamento", disse Colliver.

    "Os verificadores de fatos do Facebook deveriam verificar fatos de todo o conteúdo de maneira igual, não importa a origem desse conteúdo ou declaração."

    "Nesta área, assim como muitas outras, o Facebook está condenado se fizer e se não fizer."

    Mas, para o Facebook, uma abordagem sem interferência aos discursos de políticos tem benefícios, permitindo à empresa evitar o cabo de guerra entre os partidos políticos pedindo para censurar o outro lado.

    "Nesta área, assim como muitas outras, o Facebook está condenado se fizer e se não fizer", disse Nathaniel Persily, professor de direito de Stanford. "Se eles forem começar a censurar amplamente o presidente dos Estados Unidos, você pode imaginar quais seriam as mudanças para regulá-los e destruí-los. Já vimos isso com o Google, em que o presidente os acusou de tentar manipular os resultados das buscas. Esses são apenas os perigos que estas empresas enfrentam hoje."

    Na quarta-feira, a CEO do YouTube, Susan Wojcicki fez um comunicado parecido no Atlantic Festival, dizendo que o YouTube permitiria que os políticos violem as diretrizes da comunidade.

    "Quando você tem um dirigente político que está disponibilizando informações que são realmente importantes que seus eleitores vejam, ou para que outros líderes globais vejam, esse é um conteúdo que deveríamos deixar passar, pois achamos que é importante que outras pessoas vejam", disse Wojcicki.

    Contribuindo para a confusão em torno do discurso de Clegg, ele não estava realmente definindo uma política, mas duas. De uma maneira atrapalhada, Clegg também detalhou a política do Facebook em torno do conteúdo de "interesse jornalístico", que se aplica a todos os usuários. Se o site considerar algo como de interesse jornalístico, ele não será removido da plataforma.

    "Para usar o tênis como analogia, nosso trabalho é assegurar que a quadra esteja pronta — o piso esteja uniforme, as linhas pintadas e a rede na altura correta", disse Clegg. "Mas não pegamos uma raquete e começamos a jogar. Como os jogadores vão jogar o jogo é uma decisão deles, e não nossa."

    Este post foi traduzido do inglês.

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