A revelação de quatro contas secretas atribuídas ao ex-presidente da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi feita por autoridades suíças em uma comunicação espontânea ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional do Ministério da Justiça, em Brasília.
Paulo Preto é apontado como operador de propinas do PSDB e, segundo os investigadores da Lava Jato, ele manteve um bunker com mais de R$ 100 milhões para esconder dinheiro pago pelas empreiteiras com contratos com os governos tucanos de São Paulo.
Datado de 17 de agosto de 2017, o ofício de cinco páginas, assinado pela procuradora suíça Graziella de Falco Haldeman, trazia os dados de quatro contas numeradas no banco Border & CIE, com sede em Genebra, em nome da offshore Groupe Nantes cujo controlador seria Paulo Preto. Na ocasião, as contas tinham 35 milhões de francos suíços (R$ 130 milhões, pelo câmbio de hoje), que foram bloqueados.
No ofício, a procuradora Haldeman lista informações que tornariam Paulo Preto, ex-dirigente de estatal, uma pessoa politicamente exposta, exemplificando com as suspeitas de desvios no Rodoanel e recebimento de propina da Camargo Corrêa, que foram alvo da operação da Castelo de Areia (que foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça).
Mas, em seguida, a procuradora suíça afirma que Paulo Vieira de Souza teria pago a pessoas vinculadas ao PCC. Diz o trecho: "Verifica-se igualmente que Paulo Vieira de Souza teria pago comissões ocultas a pessoas vinculadas com uma organização chamada
'Primeiro Comando da Capital'."
Aqui trecho da tradução juramentada para o ofício da procuradora suíça.
O ofício foi repassado à Procuradoria Geral da República e, de lá, a procuradores de São Paulo e do Paraná – no caso destes últimos, dando origem à fase deflagrada hoje da Lava Jato, que levou Paulo Preto para a cadeia.
A suposta ligação de Paulo Preto com o PCC provavelmente pode ter sido um erro dos analistas suíços que instruíram a procuradora, de acordo com investigadores da Lava Jato que falaram ao BuzzFeed News na tarde desta terça (19).
Fontes em Brasília e Curitiba disseram que não havia elementos concretos ou qualquer indício de ligação entre o operador de propinas do PSDB e a facção criminosa que domina os presídios de São Paulo e de vários Estados brasileiros.
"A organização criminosa dele é outra", disse, com ironia, um investigador ao BuzzFeed News.
O BuzzFeed News ainda não conseguiu contato com a defesa de Paulo Vieira. Assim que isso acontecer, este post será atualizado.