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Maduro anuncia fechamento da fronteira com o Brasil, dois dias antes de Bolsonaro enviar mantimentos

Prevista para sábado, envio de ajuda humanitária à Venezuela é parte do alinhamento de Bolsonaro com Trump.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta (21) o fechamento da fronteira sul do país, com o estado brasileiro de Roraima, como reação ao anúncio do presidente Jair Bolsonaro de enviar ajuda humanitária para o país vizinho, cuja população vive uma profunda crise de hiperinflação e desabastecimento.

Prevista para começar sábado, a ação brasileira segue os passos do que o governo Donald Trump para, ao enviar comida e medicamentos, aumentar a pressão sobre o regime de Maduro e fortalecer o líder da oposição, Juan Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países como presidente interino da Venezuela.

A operação brasileira prevê o envio de leite, alimentos não perecíveis e kits de medicamentos para Pacaraima, na fronteira, onde caminhões venezuelanos conduzidos por cidadãos venezuelanos poderiam ser abastecidos para depois retornar ao seu país.

Em Cúcuta, cidade colombiana que faz fronteira com a Venezuela, os Estados Unidos montaram infraestrutura para fazer fluir dezenas de toneladas de alimentos e remédios. Partidários de Maduro, que acusa os Estados Unidos de usar a ajuda humanitária como preâmbulo para uma intervenção militar, bloquearam a ponte de Tienditas, que liga os dois países. Os americanos têm militares em solo colombiano, que coordenam a operação em Cúcuta.

O governo brasileiro teria recusado o pedido de Washington para permitir a entrada de militares americanos em solo brasileiro. A oposição vem principalmente de generais próximos de Bolsonaro, que não querem que o Brasil se envolva em uma crise que pode levar a um conflito armado no vizinho do Norte. Brasília também nega que aviões americanos entrem no país para participar da ajuda humanitária.

Mesmo com a negativa de tropas, o alinhamento automático de Bolsonaro a Trump é o maior desde a relação bilateral entre a Casa Branca de Nixon (1969-1974) e o general Emílio Médici (1969-1974), terceiro presidente da ditadura militar brasileira.

Ao decidir enviar ajuda humanitária para a Venezuela, o presidente Jair Bolsonaro disse a seus ministros e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que a entrega de medicamentos e itens de primeira necessidade ao país vizinho vai estimular a população venezuelana a se voltar contra Nicolás Maduro.

A expectativa do governo é de que a ação humanitária, que conta com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países que reconhecem Juan Guaidó como presidente interino, amplie a instabilidade política e empodere os venezuelanos na luta contra Maduro.

Generais ouvidos pelo BuzzFeed News comentaram que a entrada de alimentos e medicamentos na Venezuela, caso seja concretizada, será também um importante termômetro para verificar o apoio que Maduro ainda tem do que é hoje nas Forças Armadas, sua principal fonte de sustentação.

Se os venezuelanos que vierem ao Brasil para coletar os itens da ajuda humanitária conseguirem chegar a seus destinos sem confronto com o Exército local, esses generais avaliam que será um sinal claro de que as Forças venezuelanas começaram a capitular e deram início ao processo de abandono de Maduro.

Eles dizem que o risco de conflitos não é menosprezado e afirmam que hoje a possibilidade é de 50%.

Por isso, mesmo sem o ingresso de nenhum militar brasileiro em território venezuelano, uma vez que os próprios cidadãos daquele país ingressão no Brasil para coletar os mantimentos, os generais disseram que as Forças brasileiras trabalham com dados de inteligência e poderiam abortar a missão caso percebam a iminência de um conflito na fronteira.

Blindados na fronteira

Além do fechamento da fronteira, Maduro já reagiu ao anúncio de uma segunda frente de entrega de alimentos e remédios destinados à população venezuelana. O jornal O Globo informou que o ditador começou a mobilizar tropas na fronteira com o Brasil.

Segundo o jornal, moradores de Santa Elena, uma cidade venezuelana localizada 15 quilômetros da fronteira com o Brazil, relataram a chegada de blindados e tropas.

Ainda segundo o jornal, fotos dos tanques enviados pelo ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, que nesta semana mais uma vez declarou sua lealdade a Maduro, circularam em grupos de WhatsApp de moradores da região.

Em Brasília, a evolução da crise é acompanhada com apreensão pelos generais.

Fontes disseram ao BuzzFeed News que Guaidó pode ter superdimensionado sua capacidade política ao pedir essa operação internacional para colocar Maduro sob pressão. E mais: deixou os aliados na incômoda posição de ter de ajudar mesmo entendendo que a manobra tem risco alto.

DESTINO INCERTO

Mesmo com um eventual sucesso da operação de entrega de remédios e alimentos, o governo brasileiro não tem informações precisas sobre o destino da ajuda humanitária e nem como ela alcançará a população.

O receio de que os itens não cheguem à parte da população fragilizada que mais precisa dos itens foi um dos temas debatidos na reunião em que Bolsonaro manteve com os chefes dos Poderes e com os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo (Defesa) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).

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