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Para atrizes pornôs, é arriscado dizer #MeToo. Pergunte a Nikki Benz.

Nikki Benz disse que foi agredida sexualmente durante a gravação de um filme pornô. Agora ela enfrenta um processo de calúnia e sua ação penal está parada. “Por que eu tenho de lutar tanto para provar que fui fisicamente/sexualmente abusada quando isso foi filmado?”

Quando o movimento #MeToo foi lançado, em outubro do ano passado, já fazia quase 10 meses desde que Nikki Benz escreveu no Twitter que havia sido abusada sexualmente no set de um filme pornô. E havia passado nove meses desde que seus supostos agressores a processaram por calúnia e danos morais em razão de desgaste emocional. Os homens deram entrada no processo (ainda em curso) em 11 de janeiro de 2017, o mesmo dia em que a atriz denunciou o ataque à polícia de Los Angeles.

No fim de semana de maio em que a estrela pornô Stormy Daniels foi aplaudida por ridicularizar Donald Trump no programa Saturday Night Live, Benz estava se preparando para ser ouvida por um promotor de justiça.

No total, Benz aguardou 16 meses por um encontro de 15 minutos (segundo estimativas da própria atriz) com o promotor em 7 de maio de 2018. Menos de duas semanas depois, ela recebeu a ligação que temia: o promotor não seguiria com o seu caso.

“Todas as minhas esperanças na justiça se esvaíram”, Benz falou ao BuzzFeed News.

Ela vem contando a mesma história desde que caiu em prantos em um voo para as Filipinas com seu amigo (e também ator pornô) Jesse Jane em 18 de dezembro de 2016. Jane contou ao BuzzFeed News que Benz “chorou muito no avião” e descreveu o brutal ataque sofrido durante a gravação de uma cena no dia anterior. Outro amigo também presente na viagem, que não trabalha na indústria dos filmes pornô e que pediu para não ser identificado neste texto, lembrou de uma abalada Benz contando que tinha entrado em choque ainda durante a gravação da cena.

Os documentos juntados ao processo, apresentados tanto por Benz quanto por Tony T, diretor da cena, confirmam que apenas Benz, Tony T e Ramón Nomar, parceiro de Benz na cena, estavam presentes durante a gravação – o diretor havia pedido que o restante da equipe saísse da sala. Benz disse à polícia que, “apesar de haver concordado com a realização de sexo anal na cena, não havia consentido com aquele tipo de cena violenta de estupro. [...] Tony T não havia discutido sobre a natureza da cena [com ela], limitando-se a dizer que se tratava de uma cena ‘Anal Homem/Mulher’”. Benz não havia recebido o roteiro previamente, que descreveria quais atos sexuais deveria realizar.

Segundo o depoimento de Benz à polícia, após Nomar rasgar sua calcinha e utilizá-la para amordaçar sua boca, a atriz de 52 quilos, cujo rosto estava coberto por uma máscara de esqui preta, “começou a entrar em pânico em razão do nível de violência que estava ocorrendo durante a cena”. No depoimento, a atriz declara que Tony T, que estava atrás das câmeras, estendeu os braços e a asfixiou. Em determinado momento, Nomar a penetrou tão violentamente que “o sangue espirrou nas paredes brancas”. Os documentos juntados ao processo por seus advogados afirmam que, segundo os padrões da indústria, uma cena “homem/mulher” envolve contato físico apenas entre dois atores – não dois atores e o diretor. Em uma mensagem de texto datada de 19 de dezembro, citada no em seu depoimento e apresentada por Benz ao BuzzFeed News, a atriz diz a um funcionário da produtora pornô: “Eu fui praticamente estuprada no set”.

Nomar, parceiro de Benz na fatídica cena, abandonou o processo de difamação contra a atriz no início de 2017, mas Tony T continuou como único requerente na ação legal em curso. No processo, ele negas as alegações de Benz e afirma que tais “afirmações inverídicas” o fizeram perder trabalhos. Respondendo a um contato do BuzzFeed News, o advogado de Tony T disse que o diretor tirou a equipe da sala para facilitar a filmagem com uma câmera de mão e que, de acordo com o material bruto da cena, “não havia respingos de sangue nas paredes ou no chão”.

Em sua ação, Tony T afirma que o asfixiamento foi “simulado” e que Benz havia concordado previamente com aquilo. O seu advogado também apresentou declarações feitas pelo maquiador e pelo fotógrafo das filmagens, afirmando que Benz não disse nada sobre ter sofrido abuso naquele dia. Uma terceira declaração, prestada por um gerente de produção que não estava presente no set, atesta que em uma ligação, feita antes das filmagens, Tony T disse a Benz: “Queremos que você ultrapasse seus limites”.

Contatado via telefone, Nomar disse que não responderia a perguntas sobre as ações e que poderia processar o BuzzFeed News após a publicação do artigo. Após desligar após dois telefonemas nossos, o ator nos ligou de volta e disse que “a chamada estava sendo gravada”, que o BuzzFeed News não tinha permissão para publicar o seu nome na reportagem e pediu para que não ligássemos mais para ele. Respondendo a uma mensagem de texto ele afirmou: “Se algum dia eu tiver de responder... Responderei perante um júri... entendeu?”.

Vendo-se quase que completamente abandonada – por muitos de seus colegas no ramo, pelo seu estúdio, pelo sistema penal –, Benz decidiu dar entrada em uma ação própria em abril, não apenas contra Tony T e Nomar, mas também contra a MindGeek, a gigantesca produtora pornô que, segundo a atriz, não foi capaz de estabelecer medidas que poderiam protegê-la. A ação busca indenização, incluindo por danos materiais, por agressão, lesão corporal, agressão sexual, violência de gênero e alega, dentre outras coisas, negligência na contratação e supervisão por parte da empresa.

“Quando falamos sobre abusos ocorridos, as pessoas imediatamente nos culpam. Imagine uma garota em um um bar com roupas curtas e maquiagem pesada. Agora multiplique isso por mil.”

Como boa parte do dia havia sido filmada, Benz acreditava que sua ação penal seria “uma barbada”. Mas ela disse que o promotor de Justiça explicou, durante a breve reunião, que ele teria de convencer o júri de que a cena no vídeo não representava algo consensual. “Ele disse que não conseguia diferenciar o que era atuação e o que não era. Eu falei, você não está vendo o sangue? Não está vendo a asfixia? Eu não concordei com aquilo.” Quando o BuzzFeed News a informou que um porta-voz da Promotoria disse que o seu caso fora recusado “em razão de evidências insuficientes”, a atriz respondeu: “Para mim, isso é nojento. Tem o vídeo”.

E, enquanto o movimento #MeToo fez Benz se sentir menos só, ao mesmo tempo fez com que se sentisse à parte da manifestação. Ela não viu a solidariedade difundida entre as atrizes pornôs da mesma forma que viu entre as atrizes do cinema mainstream, porque as mulheres que trabalham na indústria do pornô têm ainda mais medo de serem desacreditadas e acabarem com suas carreiras do que suas homólogas no cinema mainstream. Como Tasha Reign, uma atriz pornô e presidente do Comitê de Defesa de Atores de Filmes Adultos (APAC, na sigla original), explicou em uma entrevista: “Quando falamos sobre os abusos ocorridos, as pessoas imediatamente nos culpam. Imagine uma garota em um um bar com roupas curtas e maquiagem pesada. Agora multiplique isso por mil”.

Vendo o apoio sem precedentes do público às pessoas que foram vítimas de assédio sexual, Benz escreveu um e-mail suplicante ao detetive responsável pelo seu caso em 22 de novembro de 2017. “Estou perplexa com o fato de as atrizes do cinema mainstream estarem recebendo o devido reconhecimento/justiça pela denúncia de seus abusadores, porém fiz uma denúncia sobre isso há quase um ano e nem sequer entraram em contato comigo”, ela afirmou. “Por que eu tenho de lutar tanto para provar que fui fisicamente/sexualmente abusada quando isso foi filmado?”

Essa dúvida a corrói. E também revela o quão difícil é a comprovação da falta de consentimento – principalmente para quem trabalha na indústria do sexo. Ela disse ao promotor que seu desespero no filme era real, mas isso não foi o bastante. Benz ainda acrescentou, na mensagem de ao detetive em novembro: “Escrever este e-mail é vergonhoso para mim. Estou arrasada por ter de praticamente implorar para ser considerada humana”.

Havia muitos motivos para que Benz não revelasse sua história, mas ela não pensou neles quando começou a postar em suas mídias sociais. Após a gravação, ela enviou um WhatsApp para um funcionário da Brazzers, o estúdio pornô controlado pela MindGeek e com o qual ela tinha contrato. Ela forneceu capturas de tela da mensagem ao BuzzFeed News: “Eu saí do set hoje querendo largar o pornô?... Sim. Eu não fui contratada para que pisassem em minha cabeça ou para ser asfixiada por Tony para um ângulo em primeira pessoa”, ela escreveu. “Cenas hardcore eu aguento e topo. [...] Hoje a degradação foi levada a um outro nível.” Benz recorda-se de que, pelo telefone, o funcionário disse que a Brazzers divulgaria a cena mesmo assim.

“Eles apenas cortariam as partes mais 'fortes' na edição”, Benz disse em uma entrevista, horrorizada com a noção. “Eu achei que nada aconteceria e que eles se dariam bem, por isso tive de denunciar a situação.”

On set bullying, rape, & violence should never happen. #NoMeansNo on camera, off camera. Just NO!

A Brazzers não divulgou a cena, e o estúdio logo emitiu duas declarações informando que estava investigando o caso e depois que havia demitido Tony T após determinar que “algumas das condutas denunciadas poderiam ter ocorrido”. A primeira declaração enfatizou que “nós [do estúdio] não produzimos o nosso conteúdo, mas contratamos produtores para o fazer em nosso nome”, enquanto a segunda se concentrou no apoio da empresa a Benz, escrevendo que “Nikki sabe que conta com o nosso apoio neste caso perturbador e que estamos à sua disposição para ajudá-la neste momento difícil”.

Falando ao BuzzFeed News, Benz disse que a resposta era uma “bobagem” – uma tentativa de afastar a própria responsabilidade por parte de uma empresa conhecida pela meticulosidade na escolha de suas cenas.

A MindGeek, que também foi acusada de difamação por Tony T até um juiz decidir por retirar a empresa do polo passivo da ação em julho de 2017, não respondeu aos pedidos para comentar sobre o caso.

Apesar da aparente onipresença do pornô, uma atriz disse ao BuzzFeed News que a indústria é, na verdade, pequena, comparando-a a uma escola de ensino médio onde a fofoca corre solta. “Eu conheço muitas pessoas na indústria com histórias dignas do #MeToo, que estão aterrorizadas demais para revelá-las”, disse Jacky St. James, uma diretora de filmes pornô. Caso uma atriz reclame após uma cena, ou até mesmo se disser “não” a algo durante uma cena, ela pode ser considerada uma encrenqueira ou “uma diva” e acabar perdendo trabalhos, disse a atriz Gen Padova. Quando Benz apresentou as denúncias pela primeira vez, em 2016, a atriz Dana DeArmond afirmou no Twitter: “A Brazzers comanda a indústria pornográfica. As mulheres não têm outra opção a não ser aceitar o abuso ou perder o ganha-pão”.

Ainda assim, o clima atual no que diz respeito ao abuso e às agressões baseadas em gênero também atingiu a indústria de filmes adultos: quando Benz tuitou pela primeira vez sobre a sua experiência, em 2016, diversas outras mulheres da indústria disseram que já haviam reclamado sobre Tony T no passado. A atriz pornô e música Carter Cruise disse ao BuzzFeed News que, durante uma cena dirigida por Tony T para a Brazzers em 2015, ele tentou pressioná-la a fazer um fisting anal e fingiu ligar para o agente dela após a insistência da atriz de que não faria aquilo. O diretor ainda ficou com raiva com a sua recusa, disse ela (o advogado de Tony T não respondeu quando interpelado para comentar sobre a afirmação de Cruise). A atriz Tasha Reign disse ao BuzzFeed News que antes de uma gravação, por volta de 2015, Tony T a trancou em uma sala, tomou o seu celular e ficou gritando com ela pelo fato de a atriz se recusar a entrar em um carro com ele e o resto da equipe, sem comunicação prévia, para prosseguirem à outra locação a uma hora de distância. “Não aconteceu”, disse o advogado de Tony T. “Tasha é amiga íntima de Nikki, como dá para perceber pelo Twitter.”

O então agente de Reign, Derek Hay, presidente da LA Direct Models (agência voltada para profissionais do sexo), disse ao BuzzFeed News que se lembrava de Reign reclamando sobre Tony T na época. “Tony T pediu que Reign chegasse em um local para a maquiagem e depois queria levá-la de carro para um local desconhecido, o que não havia sido comunicado a ninguém”, disse Hay. Ele se recorda de Reign dizendo que Tony T agarrou seu celular e gritou com ela — ele “estava puto porque a atriz queria ir dirigindo em seu próprio carro”.

Em março, Leigh Raven e Riley Nixon disseram que foram abusadas por um ator, Rico Strong, em sets de filmagem na presença do produtor e diretor independente Just Dave. Strong e Just Dave negaram as acusações. Just Dave divulgou posteriormente a filmagem da cena de Raven, em uma tentativa de desacreditá-la. Apesar de Raven e sua esposa, Nikki Hearts, terem dito ao New York Times que perderam oportunidades de trabalho após as denúncias de Raven, que levou o caso à polícia, ainda é muito cedo para dizer se os homens enfrentarão consequências criminais ou profissionais.

Apesar de o movimento #MeToo ter desencadeado uma avalanche de apoio às mulheres em diversos setores, o movimento não abordou as histórias das profissionais do sexo, afirmou Cruise. “Você tem essa mulher, Nikki Benz, que é um dos maiores nomes do ramo, acusando uma das maiores empresas do ramo”, disse Cruise. “Você não vê nenhum reconhecimento por parte dos fundadores do movimento #MeToo.” E apesar de o movimento ter propiciado uma justiça célere às vítimas de assédio sexual em outros ramos, as mulheres que trabalham com pornô tiveram dois grandes exemplos de denúncias de agressão que não deram em nada. Pelo menos nove mulheres, incluindo atrizes famosas como Stoya e Joanna Angel, disseram em 2015 que o ator James Deen assediou ou abusou sexualmente delas. E mesmo assim, “hoje ele está numa boa”, afirmou Benz. Ron Jeremy foi banido da edição de 2018 da AVN Adult Entertainment Expo and Awards (premiação do cinema pornô norte-americano) por apalpar mulheres, mas Deen participou da premiação – e foi indicado a um dos prêmios (Deen negou todas as acusações das atrizes).

“Nikki é uma profissional e uma veterana. Se isso pode acontecer a ela, pode acontecer a qualquer uma de nós.”

Em 2016, quando Benz declarou publicamente que havia sofrido abuso, pouco mais de um anos após as denúncias contra Deen, ela acabou sendo processada. Tony T foi demitido da Brazzers, mas Nomar ainda trabalha regularmente na indústria, inclusive para a Brazzers.

A repercussão disso acabou passando uma mensagem assustadora para outras mulheres no pornô, disse Benz. “O medo é uma excelente maneira de controlar as pessoas.” Ela teve de assumir todo o ônus financeiro da sua defesa no processo com o fim do seu contrato com a Brazzers – e da renda fixa que ele proporcionava. O processo que a acusa de calúnia postula que a atriz inventou as alegações para poder quebrar o contrato. Benz riu da ideia. “Por que eu terminaria meu contrato inventando algo assim?” Para ganhar dinheiro após a saída da Brazzers, ela teve de recorrer a apresentações de danças em boates, bem como vídeos privados no Snapchat e assinaturas em sites como OnlyFans, onde ela produz o seu próprio conteúdo.

O tamanho de Benz na indústria – como uma atriz branca, bem-sucedida e atuando constantemente – é o que torna a história tão desoladora para outras mulheres na indústria, segundo a presidente do Sindicato dos Atores de Filmes Adultos, Alana Evans. “Nikki é uma profissional e uma veterana”, ela disse. “Se isso pode acontecer a ela, pode acontecer a qualquer uma de nós.”

E se uma agressão sexual foi possível, o baque financeiro em caso de reclamação era inevitável. “Muitas garotas sobrevivem com o salário que recebem”, disse Benz. “Elas têm medo de denunciar a Brazzers. Elas simplesmente têm medo.”

Além do medo, o que é aceitável, ainda há a confusão: dentro do pornô geralmente não existem canais formais para a denúncia de abusos ou assédio. A indústria é descentralizada e, no geral, não regulamentada, com exceção do protocolo de teste para infecções sexualmente transmissíveis que é realizado pela Aliança para a Liberdade de Expressão (FSC, na sigla original).

Na sua posição de presidente do APAC, Reign tem lutado para implementar um treinamento contra assédio e agressões sexuais em conjunto com o teste contra ISTs, obrigando os atores a apresentar evidências do treinamento antes das gravações, assim como eles têm de apresentar evidências de testarem negativo para DSTs. Mas ela não está otimista quanto ao sucesso da empreitada. O diretor executivo da FSC, Eric Paul Leue, disse que a implementação do treinamento é complicada por diversos fatores, incluindo as necessidades singulares de profissionais do sexo: um treinamento padrão contra assédio sexual não resolveria os problemas no seu local de trabalho.

“Não há má vontade com relação a isso, mas as coisas andaram mais devagar do que o originalmente planejado”, ele disse.

Igualmente, Evans vem tentando fazer com que mais produtores usem uma lista de controle por escrito com todos os atos sexuais consentidos antes da gravação das cenas. Esse foi um dos problemas na ação penal de Benz: a atriz não recebeu um roteiro antes da cena, então tudo virou uma troca de acusações e uma guerra de versões sobre o que foi concordado além do sexo anal violento e da utilização de uma máscara.

Com o apoio de Benz, o sindicato criou a “Lista de Benz”, que foi enviada para agentes e grupos da indústria e postada no site do sindicato. Porém, atualmente, o sindicato não pode impor a sua utilização. Tanto Evans quanto Reign descobriram que não há conjuntura para uma mudança sistêmica.

“Obviamente não podemos ter as mesmas regras que uma empresa comum teria”, disse Cruise. “Mas provavelmente precisamos de algum tipo de diretriz a ser seguida.” Reign sugeriu que uma solução para o caso poderia ser a legislação. Porém, a indústria resistiu veementemente à supervisão externa no passado, incluindo a Medida B, a lei de Los Angeles que obrigava os atores a usarem camisinha na cidade. Após a aprovação da lei, em 2012, muitas produtoras pornô saíram da cidade ou filmavam às escondidas para evitar o cumprimento da lei.

A desconfiança para com a supervisão estatal é relacionada ao estigma que pode impedir que profissionais do sexo tenham acesso a serviços teoricamente oferecidos a eles. Em particular, mulheres que trabalham com pornô podem enfrentar obstáculos no que diz respeito ao sistema judiciário.

Evans era meio crítica em relação às mulheres que postavam suas histórias em mídias sociais, dizendo que sempre deveriam procurar a polícia primeiro. Porém, ela também relatou uma experiência negativa ao denunciar uma agressão. “Eu fui estuprada e dopada” em uma residência particular em dezembro de 2008, afirmou, algo que ela relatou à polícia no dia seguinte. “Eu queria que os policiais fizessem o seu trabalho. O que, obviamente, eles não fizeram. [...] Acho que na indústria do pornô, aparentemente, as leis sobre consentimento e álcool não se aplicam a nós, porque todos que estavam lá vão dizer que eu estava completamente embriagada.”

“Por ser uma estrela de filmes adultos, sinto que não sou prioridade. E odeio me sentir assim.”

Reign disse que também procurou a polícia em 2017 para denunciar um incidente no set em que um diretor deu um tapa em sua genitália sem o seu consentimento. A atriz recorda que o detetive responsável pelo caso a aconselhou a sempre levar uma testemunha "de fora" com ela para o trabalho. “Esse tipo de comportamento fez com que eu percebesse, de imediato, que trabalhava em uma indústria que não era vista como um 'trabalho normal' e que eu não possuía os mesmos direitos das outras mulheres”, Reign disse. “Em nenhum outro trabalho alguém vai dizer que você tem de levar a porra de uma testemunha para o set de filmagens.”

Em resposta às declarações das atrizes, o Departamento de Polícia de LA emitiu um comunicado ao BuzzFeed News onde se lia: “Qualquer pessoa que denuncia um crime, independentemente de raça, antecedente cultural, gênero ou situação profissional pode ter confiança na busca incessante por justiça por parte deste Departamento, principalmente em crimes como assédio sexual e estupro.”

Lembrando da história de suas colegas, a preocupação de Benz era de ser considerada uma “piranha” e não ser levada a sério quando fosse procurar o Departamento de Polícia de LA. “Minha cena não era uma cena homem/mulher normal. Era uma cena de anal, algo ainda mais vergonhoso de se falar a respeito”, ela disse. “Eu não queria ser ridicularizada.” Os policiais com quem ela falou foram, de modo geral, respeitosos, afirmou Benz, mas mesmo assim a atriz não estava otimista antes do encontro com o promotor. “Agora eu tinha de provar a eles, por favor, não me ignorem só porque sou estrela de filmes adultos. [...] Eu sinto que, se não fosse estrela de filmes pornôs e tivesse feito um filme do cinema mainstream, atuando em uma cena de estupro e acabasse estuprada de verdade, isso seria resolvido em uma semana. Por ser uma estrela de filmes pornôs, sinto que não sou prioridade. E odeio me sentir assim.” Quando recebeu a ligação informando que seu caso não seguiria adiante, ela ficou triste, mas não surpresa.

“Eu só quero uma indústria mais segura para todos”, afirmou. Ela destacou que listas de consentimento por escrito ajudariam a proteger os produtores e também os atores. Deveria haver um roteiro naquele dia em 2016, disse Benz, mas como ela era uma espécie de embaixatriz da marca Brazzers, presumiu que estaria segura. Ela acredita que ainda há uma árdua batalha pela frente no caso do seu processo.

“Como é aquela história sobre Golias? Eu me sinto assim”, disse Benz. Mas, não importa o quão assustador isso pareça, a atriz acredita que não há outra opção: “Eu tenho de fazer isso. Se eu não fizer, se eu não me defender, quem o fará?” ●


Este post foi traduzido do inglês.

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