Vitor Germano chegou sobressaltado ao hotel em que passa férias, já que o celular dele não parava de tocar. Eram repórteres à procura de explicações sobre o Babel Book Award, um prêmio literário do qual ninguém nunca tinha ouvido falar e sobre o qual pairam fortes suspeitas de ser uma fraude.
"Estou apavorado, a minha empresa é só um quarto, eu vivo de fazer site", afirmou o publicitário ao BuzzFeed News que criou a página do suposto prêmio na internet.
"Nenhuma vírgula do site eu botei, nada do que está ali fui eu que criei. Se isso estava fazendo mal para alguém, ou se era um golpe, eu não tenho como checar", continuou, dizendo ter recebido o conteúdo pronto e só feito a programação do site.
O caso veio a público após a revista Quatro Cinco Um publicar um post, no Facebook, levantando suspeitas sobre a veracidade do prêmio. "O objetivo seria, segundo esses boatos, se apropriar de originais inéditos enviados por autores inscritos", diz o texto.
Na verdade, ninguém sabe se pode se tratar de um golpe ou mesmo uma ação publicitária. O fato é que, ao oferecer 200 mil euros (quase R$ 800 mil) ao ganhador, despertou o interesse e as esperanças de muita gente.
Vitor conta que foi procurado em dezembro, por email, por uma pessoa que se identificou como Claudia Mueller.
Segundo o publicitário, a cliente em potencial tinha pressa para criar o site do prêmio, porque o prazo de inscrição era 31 de março e o anúncio dos vencedores deveria acontecer em maio. "Pensei comigo mesmo: 'São seis meses, vou fazer rápido'", diz Vitor, explicando por que o domínio está registrado em seu nome.
Ele conta que a maior parte do contato foi feito por email, exceto uma vez, em que falou pelo Skype com um homem que se identificou como César. A conversa foi em áudio, segundo Vitor, porque o interlocutor misterioso disse que sua câmera estava quebrada. "Esse César era carioca, eu acho. É um brasileiro, com certeza, e ele que fez o pagamento", afirma.
O publicitário afirma ter recebido cerca de R$ 3.000 pelo serviço, em euros, via transferência internacional. "Nunca tinha recebido depósito internacional, eu nem sabia como funcionava", diz. "Eu sou ignorante nessas coisas, eu recebo de boleto. Sou um cara simples que trabalha num quarto e faz site, estou tremendo desde as 17 horas."
A página na Wikipédia do prêmio aparentemente falso foi criada por um usuário que se identificava como Claudia Mueller, no dia 2 de fevereiro. Não há qualquer outro registro da existência do prêmio.
O anúncio na revista
O editor da revista Quatro Cinco Um, Paulo Werneck, disse que entrou em contato pela primeira vez com os organizadores do suposto prêmio após tomar conhecimento dele num site dedicado ao mercado editorial.
Werneck diz que enviou um email que estava no site do tal prêmio para perguntar se havia interesse em publicar um anúncio na revista que edita, que é especializada em literatura. Os contatos foram por email com uma mulher que se apresentou como Claudia.
A resposta da mulher foi que não havia verba prevista para este tipo de divulgação no Brasil, mas a conversa prosseguiu. No fim, Werneck e a pessoa que respondia os emails chegaram a um acordo.
A Quatro Cinco Um publicaria um anúncio por 500 euros em vez dos R$ 6.000 que costuma cobrar por uma publicidade similar — um desconto por se tratar de um prêmio de interesse cultural, disse o editor da revista.
Foi só hoje que, com os rumores de que o prêmio Babel nunca existiu crescendo no mundinho literário, Werneck passou a investigar o que poderia ser. Sua desconfiança aumentou quando percebeu que os dados da página da Wikipedia tinham sido inseridos em fevereiro.
"Imagina um prêmio oferecendo 200 mil euros para um autor brasileiro. Isso deu esperança a muita gente. Quando a gente percebeu que poderia não ser uma coisa séria, resolvemos publicar um apelo no Facebook para que as pessoas não enviassem seus originais até que a situação se esclareça", disse Werneck.
Por enquanto, não há pistas do que é nem quem está por trás do tal Babel Book Award.