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26 coisas que você talvez não saiba sobre Lima Barreto, o homenageado da Flip de 2017

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, exatamente sete anos antes da promulgação da Lei Áurea (13 de maio de 1888).

Homenageado deste ano na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), Lima Barreto apresenta em sua obra uma perspectiva única do Brasil do início do século 20.

Ele documentou em seus textos algo que viveu na pele: negro, descendente de escravos, o escritor estudou engenharia civil junto a estudantes que faziam parte da elite do país, "todos eles, ignorantes e arrotando um saber que não têm", conforme anotou, e com o costume de "criar obstáculos aos honestos de inteligência, aos modestos que estudaram."

A homenagem ao escritor foi completa pelo lançamento da biografia "Lima Barreto — Triste Visionário", da historiadora e professora titular da USP Lilia Moritz Schwarcz, que revela detalhes inéditos sobre o autor, garimpados em arquivos públicos e outras fontes. Na abertura da Flip, ela protagonizou, ao lado do ator Lázaro Ramos, uma aula sobre o homenageado, que incluiu leitura dramática de alguns de seus textos.

Abaixo, algumas das informações mais curiosas na biografia.


1. Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, exatamente sete anos antes da promulgação da Lei Áurea (13 de maio de 1888).

2. Ele era descendente de escravos: a avó paterna, Carlota Joaquina dos Anjos, e a avó materna, Geraldina Leocádia da Conceição. A bisavó materna de Lima Barreto, Maria da Conceição, foi trazida ao Brasil a bordo de um navio negreiro.

3. A protagonista do último romance de Lima Barreto, "Clara dos Anjos", publicado após a morte do escritor, foi inspirada em sua avó paterna, que tinha o mesmo sobrenome. Na história, Clara é uma mulher negra que engravida após ser enganada por um homem branco. Ela termina a história humilhada.

4. Filhos de escravos, os pais do escritor nasceram livres. O pai, João Henriques Lima Barreto, trabalhou como tipógrafo e administrador de um manicômio, e a mãe dele, Amália Augusta, foi professora.

5. O escritor era o filho mais velho da família e teve três irmãos: Evangelina (nascida em 1882), Carlindo (1884) e Eliézer (1886).

6. Lima Barreto foi alfabetizado pela mãe.

7. Seu nome de batismo, Afonso, foi escolhido em homenagem a Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, que o apadrinhou. O pai de Lima Barreto trabalhou como tipógrafo em um jornal do monarquista.

8. O futuro escritor ganhou seu primeiro livro da professora Teresa Pimentel do Amaral, em novembro de 1890, aos 8 anos. Na dedicatória, ela escreveu: "Afonso, guarda esse livro como uma lembrança de quem se orgulha de ter desenvolvido um pouco tua grande inteligência da qual muito espera nossa cara pátria."

9. O livro, aliás, era "As Grandes Invenções Antigas e Modernas nas Ciências, Indústrias e Artes: Obra Para Uso da Mocidade".

10. Também foi a professora Teresa quem contou a Lima Barreto, em seu aniversário, que a Lei Áurea havia sido promulgada, como o escritor recordaria em um texto publicado em 1911, no jornal Gazeta da Tarde:

"Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não lhe imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. Eu me recordo, nunca conheci uma pessoa escrava. Criado no Rio de Janeiro, na cidade, onde já os escravos rareavam, faltava-me o conhecimento direto da vexatória instituição, para lhe sentir bem os aspectos hediondos."

11. Após a proclamação da República, o pai de Lima Barreto, que era monarquista, perdeu o emprego de tipógrafo e passou a administrar um manicômio na Ilha do Governador — à época, praticamente desabitada. O escritor passou boa parte da infância entre a natureza e os pacientes da instituição.

12. Tanto as paisagens como as pessoas dali provocaram reflexos na obra de Lima Barreto, como afirma Lilia Schwarcz:

"Em cima de um dos morros da Colônia São Bento se destacava a casa dos Barreto, agora arranjada como um novo lar. Era bastante arejada e dispunha de muito terreno e árvores para os filhos de João Henriques brincarem (...) Lima descreve a casa como sendo velha e roceira, porém vasta e cômoda. O que o encantava, mesmo, era o terreno que cercava a residência e o bambuzal verde. O certo é que os arredores da ilha serviram de inspiração para seu romance mais conhecido, Triste Fim de Policarpo Quaresma (publicado pela primeira vez em 1911, na forma de folhetim). O Curuzu, o lugar para onde o protagonista da história se muda, apresenta muitos paralelos com a imagem que Lima guardou do local de infância."

13. Manicômios, aliás, foram recorrentes na trajetória do escritor. Após o pai dele ter sido internado, Lima Barreto, por ser o primogênito, passou a cuidar dos irmãos. Durante sua vida, o autor foi internado em instituições do tipo duas vezes.

14. O pai de Lima Barreto também serviu de inspiração em sua obra. Nacionalista como o personagem Policarpo Quaresma, João Henriques era um "homem pequeno, magro (...), olhava sempre baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma coisa, os seus olhos tomavam, por trás das lentes, um forte brilho de penetração", segundo definiu o autor.

15. Lima Barreto estudou engenharia civil na Escola Politécnica. Durante todo o curso ele teve dificuldades com as disciplinas de cálculo.

16. Na universidade, ele sentia-se um peixe fora d'água. Um texto escrito por ele e publicado no livro Bagatelas (1923) dá uma ideia dos motivos:

"Na Escola Politécnica, é de praxe, de regra até, que todo o filho, sobrinho ou parente de capitalistas ou de brasseurs d'affaires ["magnatas", em francês], mais ou menos iniciado na cabala cremarística do Clube de Engenharia, seja aprovado. (...) E todos eles, ignorantes e arrotando um saber que não têm, vêm para a vida, mesmo fora das profissões a cujo exercício lhes dá direito o título, criar obstáculos aos honestos de inteligência, aos modestos que estudaram, dando esse espetáculo ignóbil de diretores de bancos oficiais, de chefes de repartições, de embaixadores, de deputados, de senadores, de generais, de almirantes, de delegados, que têm menos instrução do que um humilde contínuo; e, apesar de tudo, quase todos mais enriquecem, seja pelo casamento ou outro qualquer expediente, mais ou menos confessável."

17. Uma das poucas fotografias que mostram Lima Barreto na Escola Politécnica (veja abaixo) passou as últimas décadas no acervo do intelectual e colecionador José Mindlin, morto em 2010. Todo o acervo foi doado à USP e hoje compõe a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.

18. A crítica social ácida é um dos traços mais marcantes da obra de Lima Barreto. Durante a carreira, ele cunhou algumas frases sobre a política brasileira:

"É notório que aos governos da República do Brasil faltam duas qualidades essenciais a governos: majestade e dignidade."

"Nós, os brasileiros, somos como Robinsons: estamos sempre à espera do navio que nos venha buscar na ilha a que um naufrágio nos atirou."

"A República no Brasil é o regime da corrupção. (...) Todos querem comer. Comem os juristas, comem os filósofos (...), comem os romancistas, comem os engenheiros, comem os jornalistas: o Brasil é uma vasta comilança."

19. Ele tinha um grupo de amigos formado por jornalistas e escritores que se chamava "Esplendor dos Amanuenses".

20. O grupo se autointitulava de "novos" pois acreditavam ser os representantes de uma nova literatura. A principal crítica do grupo era destinada a Academia de Letras, que não dialogava com o povo.

21. Lima Barreto tinha certeza que ser negro e neto de escravos trazia a ele prejuízos sociais como "fracas amizades", frágeis possibilidades de contar com "auxílios" e proteções privados.

22. Ele já usou os pseudônimos Sherlock Holmes e Phileas Fogg. Phileas Fogg é o nome do protagonista do romance "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" de Júlio Verne.

23. Seu número da sorte terminava em sete.

"Em geral, os anos em sete fazem grandes avanços aos meus desejos. Nasci em 1881; em 1887 meti-me no alfabeto, em 1897, matriculei-me na Escola Politécnica. Neste (1907) andei um pouco, no caminho dos meus sonhos."

24. Ele costumava destacar que nasceu em maio, o mês das flores.

25. No dia 25 de outubro de 1907 nasceu a revista Floreal, cujo editor e diretor era Lima Barreto. O autor tinha apenas 26 anos e nenhum apoio econômico.

26. Ele admirava Dostoiévski e apreciava o recurso do memorialismo utilizado pelo ele. Lima também se aproximava do russo por se considerar um outsider e desprezar as elites intelectuais como o escritor.

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