Na segunda-feira (19), o governo federal admitiu que não irá cumprir a promessa de votar a reforma da Previdência, parte do pacote de reformas econômicas aventado desde o início do mandato de Michel Temer (MDB), em maio de 2016.
Desde o ano passado, auxiliares e aliados do presidente juravam de pés juntos que, apesar de todos os sinais em contrário, a reforma seria votada pelo Congresso.
Em janeiro de 2017, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que os deputados votariam a reforma e dariam "exemplos de que a irresponsabilidade não gera benefícios".
Um mês depois, em fevereiro de 2017, o deputado Carlos Marun (MDB) — que em dezembro virou ministro de Governo — disse que a reforma teria um trâmite "sereno" e seria aprovada.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que busca viabilizar sua candidatura à Presidência, também deu declarações esperançosas sobre a reforma.
Em abril de 2017, após a reforma ter sido aprovada na comissão especial dedicada ao tema, Meirelles disse que a discussão estava sendo feita "na hora certa". Detalhe: a delação da JBS estourou em maio, um mês após a declaração.
Meirelles, de novo ele, voltou à carga em agosto do ano passado, depois de a Câmara ter votado pelo arquivamento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.
Ao comentar as reformas tributária e da Previdência, o ministro afirmou que a previdenciária deveria ser prioridade e seria votada até outubro. Até hoje, ambas não saíram do papel.
Foi nesta época que analistas políticos começaram a afirmar que o governo Temer já havia gasto todo o seu capital político nas votações das denúncias e a Previdência corria risco.
Aí o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), foi a público, em setembro, dizer que não havia chance de a reforma não ser votada. "A reforma da Previdência será votada neste ano."
O fim do ano se aproximou, junto com o recesso parlamentar.
Marun, já empossado ministro, cravou uma data para votar na Câmara: "Confio que até o dia 18 [de dezembro] teremos, sim, os votos necessários", ele disse.
O recesso chegou e foi embora. O Natal e o Réveillon também, mas o governo manteve o discurso de que a votação ocorreria.
Questionado sobre quantos dos 308 votos para aprovar a emenda o governo ainda precisava, Temer disse: "Só 40 votos".
Na segunda (20), Marun cumpriu o papel de coveiro oficial da reforma, mas eximiu o governo de culpa: "O governo não precisa se desculpar por não aprovar a reforma da Previdência, o governo não precisa se desculpar por isso".
A Constituição proíbe que o Congresso aprove uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) durante a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro.
Quando a intervenção foi anunciada, na semana passada, integrantes do governo disseram que ela seria temporariamente suspensa para a votação da reforma. Nesta semana, porém, eles recuaram.
"A questão da segurança assumiu um caráter tão explosivo que tornou necessária a tomada de medidas excepcionais e essas o governo tomou e o efeito colateral nesse momento é a suspensão da tramitação da reforma da Previdência”, afirmou Marun.