"Ele está tentando criar um verniz de liberalismo para a campanha dele, mas, quando você cava um pouquinho, vê o nacional-desenvolvimentismo da ditadura."
É assim que o presidente interino do Livres, Paulo Gontijo, define a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (RJ) à Presidência da República.
Desde sua fundação, há dois anos, o Livres fazia parte do PSL. Desembarcou na semana passada após Bolsonaro fechar um acordo com o presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), para se lançar candidato à Presidência pela legenda.
O grupo é liberal na economia — defendendo ideias como redução de impostos — e também nos costumes. Ao contrário de Bolsonaro, o Livres defende abertamente o liberalismo social, com bandeiras como a descriminalização da maconha.
"Eu não sei qual é o acordo dele com o Luciano [Bivar], se ele vai trazer pessoas para aparelhar todos os Estados", afirma Gontijo.
"Assim que a gente saiu, começou a tentativa de construção de uma narrativa de que a gente era uma corrente menor, mas é importante ressaltar que temos 12 diretórios dos Estados, que nós controlávamos a comunicação do partido", ele continua.
"O PSL vai ficar uma casca vazia."
A entrada de Bolsonaro na sigla tem como pano de fundo a escolha de seu candidato a vice-presidente. Nos bastidores, comenta-se que a entrada do presidenciável no PSL está atrelada à escolha de Luciano Bivar para a vaga.
Integrantes do Livres se consideraram traídos por Bivar. Em texto publicado na Folha de S.Paulo, nesta terça (9), um dos membros do grupo classificou a manobra como "rasteira da velha política".
Até o filho de Luciano, Sérgio Bivar, deixou o PSL pelo Livres.
"A gente tinha um projeto para trazer um grupo de deputados mais jovens, de cabeças pretas do PSDB e outros, para montar uma bancada e refundar o partido", afirma Gontijo.
Ele diz que já havia até data para o PSL mudar de nome e se tornar Livres oficialmente: 6 de fevereiro. "Esse encaminhamento estava de pé até a quarta-feira passada [dia 3], mas em dois dias a coisa virou de cabeça para baixo."
Agora, o grupo negocia com outros partidos para lançar candidatos neste ano — não há mais tempo hábil para criar uma nova legenda. Algo semelhante ao que a Rede, da ex-senadora Marina Silva (AC), fez em 2014 ao lançar candidaturas pelo PSB — a própria Marina concorreu à Presidência pelo partido.
A opção mais natural seria o Partido Novo, que possui afinidade ideológica com o Livres e também é novato em eleições — até agora, disputou apenas o pleito de 2016.
"A gente sabe que vai ser muito difícil juntar todo mundo num partido só, mas também não queremos gastar energia à toa", afirma o presidente interino do grupo. "Antes de tomar qualquer decisão, vamos escutar os diretórios estaduais, para entender a conjuntura política de cada lugar."