O senador Aécio Neves (PSDB-MG) move uma ação de direito de resposta contra a Editora Abril, que publica a Veja, por causa de uma reportagem de capa publicada na revista em março deste ano.
A ação de direito de resposta pode ser a antessala de um pedido de indenização milionária. Aécio, que disputou e perdeu por pouco a eleição presidencial, foi abatido na delação de Joesley Batista, que gravou o tucano pedindo R$ 2 milhões ao dono da JBS.
Intitulado "A Vez de Aécio", o texto diz que o ex-executivo da Odebrecht Benedicto Júnior relatou em seu acordo de delação que o tucano seria dono de uma conta bancária em Nova York.
Segundo a reportagem, publicada no site da Veja em 31 de março, Benedicto Júnior "afirmou que a construtora baiana fez depósitos para Aécio em conta sediada em Nova York operada por sua irmã e braço-direito, a jornalista Andrea Neves".
Os pagamentos teriam sido feitos, de acordo com a revista, em contrapartida a contratos que o senador arranjou à empreiteira nas obras da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, e da hidrelétrica Santo Antônio, no Estado de Rondônia. A Cidade Administrativa foi a principal vitrine da gestão de Aécio no governo de Minas (2003-2010).
A informação da conta em Nova York, entretanto, jamais se confirmou.
A íntegra da delação da Odebrecht tornou-se pública no dia 11 de abril, duas semanas após a publicação da reportagem. Em seu depoimento, o ex-executivo Benedicto Júnior de fato relatou ter pago propina a Aécio em troca de facilidades que o senador arranjara nas obras em Minas e em Rondônia.
No entanto, o delator não citou nenhuma conta em Nova York. Em vez disso, Benedicto disse que Aécio recebeu pagamentos em uma conta em Cingapura, registrada em nome do empresário Alexandre Accioly, amigo do senador tucano e dono da rede de academias Bodytech — informação que havia sido revelada pelo BuzzFeed News em março.
Em nota, Accioly nega ser "titular de recursos de qualquer conta ou estrutura financeira em Cingapura" e diz que jamais recebeu "depósito em favor de terceiros em conta alguma no Brasil ou no exterior".
O dado sobre a conta em Cingapura foi corroborado por outro delator da Odebrecht, o ex-executivo Henrique Valladares.
Na ação de direito de resposta, os advogados de Aécio requisitaram à Veja provas de que o senador possui conta em Nova York, como está na reportagem.
Os defensores requisitaram à revista dados sobre a conta, como “o nome da instituição financeira, a identificação da agência e o número da conta corrente mencionada na matéria e supostamente constante do documento a cujo conteúdo sigiloso a revista afirma ter obtido 'acesso com exclusividade'", conforme consta no processo.
Em resposta à notificação inicial, a Veja mencionou o direito ao sigilo da fonte e afirmou que a reportagem "consiste em material jornalístico que consulta o interesse público, sem cometimento de excesso ou abuso no direito de informar".
A réplica da revista, que segundo os advogados de Aécio foi "evasiva", ocasionou a ação na Justiça. Segundo o criminalista Alberto Toron, titular da defesa de Aécio, a resposta da Veja "é
mais um indício, não só da falsidade da origem da informação indicada na
matéria, como da própria inexistência da acusação na realidade".
O pedido do tucano é que a revista Veja publique um direito de resposta com o mesmo destaque que a reportagem sobre sua suposta conta em Nova York recebeu — como esta capa, confeccionada pela equipe de defesa de Aécio e anexada à ação.
Nas páginas internas da revista, os advogados do senador pedem que um texto seja publicado desmentindo a reportagem.
Este é um dos trechos que os advogados de Aécio pedem que a Veja publique como direito de resposta: "Na sua edição de número 2.524, a revista Veja trouxe, na capa e em reportagem, acusação falsa de que a Odebrecht teria feito depósitos ilegais para Aécio Neves em conta sediada em Nova York operada por sua irmã Andrea Neves."
Procurada pelo BuzzFeed News, a Editora Abril não quis comentar o assunto.
Delação da Odebrecht pegou de raspão, mas JBS atingiu em cheio
Embora a delação da Odebrecht tenha apresentado indícios de corrupção contra Aécio, foi a delação da JBS que o levou ao ocaso político.
Joesley Batista, dono da empresa, gravou uma conversa em que acerta com o senador o pagamento de R$ 2 milhões.
Aécio indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para pegar o dinheiro — posteriormente, Fred, como ele é conhecido, foi filmado pela Polícia Federal recebendo R$ 500 mil de um funcionário da JBS.
Várias outros dados e gravações que constam na delação da JBS comprometem Aécio, que chegou a ser afastado do Senado. A irmã e braço-direito dele, Andrea Neves, foi presa, e hoje cumpre prisão domiciliar.