A delação da Odebrecht jogou o senador Aécio Neves (PSDB) numa espiral de suspeitas de corrupção que envolvem obras de seu governo em Minas Gerais, a construção de usinas hidrelétricas das quais a Cemig era sócia do governo federal na Amazônia e ainda em milhões de reais em fundos não declarados para sua campanha presidencial em 2014.
O inquérito 4436, aberto pelo ministro Edson Fachin, apura o suposto pagamento de R$ 50 milhões – R$ 30 milhões pela Odebrecht e R$ 20 milhões pela Andrade Gutierrez – em propina pelas obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira. A Cemig, estatal mineira, era sócia dos empreendimentos.
O acerto da propina, segundo a acusação, ocorreu em fevereiro de 2008, quando o então governador Aécio recebeu Marcelo Odebrecht e o responsável pelo setor de energia do grupo, Henrique Valladares, em Belo Horizonte.
Segundo Valladares, agora delator, Aécio na despedida disse que o diretor de Furnas Toledo iria procurá-lo.Os delatores contaram que parte da propina foi paga em uma conta de Cingapura em nome do empresário Alexandre Accioly, dono da academia Bodytech e amigo de Aécio – informação revelada pelo BuzzFeed Brasil no mês passado.
Em outro inquérito, executivos da Odebrecht dizem que Aécio recebeu propina pela obra da Cidade Administrativa, obra-símbolo de seu governo em MG. Pelo relato dos delatores, o acerto começou antes mesmo da licitação da obra, quando foi combinado que a empreiteira ficaria com um dos lotes da obra.
Segundo o ex-executivo Benedicto Júnior, a propina acertada foi de 3% da obra – o que, no caso da Odebrecht, correspondeu a R$ 5,2 milhões. Os valores foram pagos ao amigo e então presidente da estatal Codemig, responsável pela obra, Oswaldo Borges da Costa, e destinados a Aécio.
Campanha de 2014
A Odebrecht também irrigou com recursos não contabilizados a campanha presidencial do tucano, em 2014, quando ele foi derrotado no segundo turno por Dilma Rousseff (que também recebeu recursos por fora das empreiteiras).
Os primeiros repasses a Aécio para a campanha daquele ano ocorreram por meio de um contrato fictício entre a Odebrecht e uma empresa do marqueteiro Paulo Vasconcelos, que atendia o tucano.
Inicialmente, o acordo era de R$ 6 milhões, mas a empreiteira pagou apenas a metade em duas prestações de R$ 1,5 milhões em 15 de maio e 15 de junho de 2014.
Sobre aquele mesmo ano, Marcelo Odebrecht contou ter combinado com Aécio um repasse de R$ 15 milhões, fora da doação oficial de R$ 5 milhões.
Os R$ 15 milhões sairiam do setor de operações estruturadas, o departamento da propina, em repasses semanais de R$ 1 milhão, mas aí surge uma contradição importante: enquanto alguns delatores.
Enquanto Marcelo Odebrecht e outros delatores dizem que o valor foi pago, Sérgio Neves — outro ex-executivo da companhia — afirma que os R$ 15 milhões não foram entregues por dificuldade de gerar e repassar as parcelas via caixa dois.
OUTRO LADO
Em ocasiões anteriores, o senador Aécio Neves negou ter recebido qualquer tipo de vantagem ilícita da Odebrecht.
Em nota, o empresário Alexandre Accioly disse que jamais foi dono de conta ou estrutura financeira em Cingapura.
Aqui a íntegra da nota:
Tenho os seguintes esclarecimentos a prestar diante de referência a meu nome em depoimento de ex-executivo da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato:
1. Não sou nem jamais fui titular de recursos de qualquer conta ou estrutura financeira em Cingapura.
2. Nunca recebi depósito em favor de terceiros em conta alguma no Brasil ou no exterior. Minhas declarações de bens comprovam a licitude dos recursos que ingressaram em minhas contas e que são resultado unicamente de minhas atividades empresariais.
3. Meu êxito profissional é fruto de suor e trabalho. Ao longo de minha trajetória, sempre agi com ética e respeito a valores e princípios republicanos. É o que de mais valioso legarei a meus filhos.
4. Vou ingressar com interpelação judicial e processo criminal contra o ex-executivo da Odebrecht e não descansarei até que tenha obtido a reparação devida.
Alexandre Accioly