"Sou gordinho, alto." Assim o frei franciscano Sérgio Görgen, 62 anos, explica seus 113 quilos. Nos últimos oito dias, perdeu cinco deles, alimentando-se apenas de água e soro. Frei Sérgio é um dos seis militantes de movimentos sociais que, na semana passada, deram início a uma greve de fome em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva.
O frei é o veterano de greves desse tipo entre os ativistas. Já fez cinco. A mais longa delas durou 22 dias. "Foi em 1992, no início do governo Itamar Franco. Foi para cessar a violência contra os sem-terra, que estava muito forte no Rio Grande do Sul. E foi vitoriosa", disse o frei. Segundo Sérgio Görgen, na ocasião o governo promoveu uma série de desapropriações para a reforma agrária.
Em entrevista ao BuzzFeed News nesta terça-feira (7), o frei contou que ele e seus companheiros não sentem mais fome. "Estamos aqui sobrevivendo".
No início, frei Sérgio conta que era possível "sentir cheiro de comida a 200 metros". "A fome desapareceu no terceiro dia. A gente está com fome, mas não sente a fome".
Agora começam outras complicações, disse o veterano de jejum. São náuseas e mal-estar. A pressão do frei, que geralmente é alta, baixou.
Ao grupo de seis militantes de movimentos sociais, somou-se ontem um ativista do Levante Popular da Juventude. Todos estão alojados no Centro Cultural de Brasília. Eles são monitorados por uma equipe médica.
Nesta terça, os grevistas vão ao STF (Supremo Tribunal Federal) protocolar pedidos para serem ouvidos pelos 11 ministros da Corte. Eles pedem a libertação de Lula e a condição de que ele seja candidato a presidente.
Frei Sérgio, que já foi deputado estadual pelo PT, disse não se importar que a data de registro da candidatura de Lula, sobre a qual o tribunal pode se manifestar, ocorra só na próxima semana, no dia 15.
Para ele, a decisão da greve foi "bem calibrada". "Os ministros podem colocar em votação [decisões sobre Lula] a qualquer hora. E têm de saber que não é só o Lula que eles estão prendendo. É o desmonte de uma nação", disse o religioso.
"Não temos a quem recorrer a não ser eles [o STF]. E vamos dizer que, se acontecer qualquer coisa conosco, eles são os responsáveis."
Chegam hoje ao oitavo dia de greve de fome Vilmar Pacífico, Jaime Amorim e Zonália Santos, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Rafaela Santos, do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), e Luiz Gonzaga (Gegê), da CMP (Central dos Movimentos Populares). O militante do Levante Popular da Juventude que começou a greve ontem chama-se Leonardo Armando.