Entre os 27 alunos expulsos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) nesta sexta-feira (14), havia pessoas loiras que atestavam ter tataravós negros. Segundo o presidente da Comissão Geral de Averiguação de Autodeclaração, o professor doutor em Comunicação Juarez Xavier, esses estudantes ingressaram na universidade no sistema de cotas raciais com alegações de ascendência negra, mas não possuíam o fenótipo adequado para obter o benefício.
"A justificativa mais recorrente desses alunos é a ascendência. Se dizem filhos, netos, bisnetos e tataranetos de negros", disse o professor Xavier, afirmando que, entre os alunos, havia alunos loiros e sem nenhuma característica que indicasse ser da raça negra.
A comissão é formada por nove pessoas, entre elas três profissionais de Antropologia Negra e Indígena. "Tivemos vários casos dessa natureza [pessoas loiras ou muito claras]. O que dissemos a essas pessoas é que seu fenótipo não é considerado preto ou pardo, não estamos dizendo se são ou não são negros", explicou o professor.
Juarez Xavier afirmou que a comissão não é um "tribunal racial", mas que analisa os cotistas de acordo com entendimentos estabelecidos pelo meio acadêmico e jurídico, como o Supremo Tribunal Federal (STF).
"Não trabalhamos com a ideia de escala de cor, mas com o fenótipo. Consideramos a cor da pele, a textura do cabelo e aspectos fisionômicos", disse Xavier, explicando ainda que, nas entrevistas, é considerado o histórico do aluno, se ele passou por situações de preconceito. "No caso desses alunos, eles não tinham relatos desse tipo".
A maioria dos alunos desligados da universidade ingressou nos cursos ainda este ano. Entre os estudantes, há alunos de diversos campi, como Araçatuba, Araraquara, Ilha Solteira e São Paulo.
Xavier evita usar a expressão fraude nas cotas. "Não assumimos que é fraude porque há uma questão de interpretação [do que é ser considerado negro para a cota] e não temos como aferir se houve uso de má-fé ou não'.
Os alunos expulsos perdem todo o período cursado. Na Unesp, 50% das vagas são reservadas a alunos oriundos da rede públicas. Entre esses alunos, reservam-se 35% das vagas para negros, pardos e indígenas.
No caso dos alunos expulsos, alguns deles tinham notas que tornariam desnecessário o pedido de cota racial. "Quando eles fizeram essa opção [de se autodeclarar negro ou pardo], eles não causaram só danos a si, mas impediram outro aluno de ingressar na universidade. Talvez tenham prejudicado alguém por uma vida toda", disse o professor Xavier.