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"Ele não olha no espelho", diz tio de adolescente tatuado na testa

Vaquinha para pagar remoção da tatuagem e tratamento contra dependência química arrecadou quase R$ 20 mil em dois dias.

O adolescente R., 17, que foi forçado a ter tatuada na testa a frase "Eu sou ladrão e vacilão", passará por exame de corpo de delito e atendimento médico nesta segunda (12).

Os dois homens que fizeram a tatuagem por supor que R. tentara roubar uma bicicleta foram presos e levados ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo, ABC Paulista, onde aconteceu o caso na sexta-feira.

"Ele não olha no espelho. Ele tem vergonha", contou ao BuzzFeed Brasil o tio do adolescente, Vando Rocha, 33. R. mora com o tio e a avó em São Bernardo desde um ano de idade. Ele estava desaparecido desde o dia 31 de maio.

Na sexta (9), ele foi pego pelo tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27, e pelo vizinho dele, Ronildo Moreira de Araújo, 29.

Reis forçou R. a ser tatuado e Araújo teria ajudado o vizinho a segurar o adolescente e filmar as cenas, que correram rapidamente pelas redes sociais.

"Um primo meu me avisou: pegaram seu sobrinho e zoaram ele. Ele falou e eu desabei. Eu não tinha nem como o ver vídeo porque estava sem crédito para internet no celular. Meu primo mandou para o motorista de caminhão com quem eu estava trabalhando."

Vando contou que avisou a irmã, mãe do adolescente, que mora em Itapecerica com outros quatro filhos. E que a família juntou vizinhos e amigos para localizar o adolescente, que continuava desaparecido.

"Ele não voltou para casa. Ficou andando pela rua, com vergonha e com medo. Quando trouxeram ele para casa, ele só me olhou, abraçou a mãe a e avó e entrou no quarto para conversar comigo. Cortou meu coração ver ele assim".

Depois do relato do adolescente, Vando foi à polícia, que decretou a prisão do tatuador e do vizinho. O adolescente não tinha ideia de que o vídeo com as imagens dele estava espalhada pelas redes sociais.

"Eu esperei a justiça ser feita. Eu não tenho raiva deles, acho que agiram pela emoção e se enganaram porque o meu sobrinho é um menino bom. Mas, mesmo que não fosse, não se pode fazer isso com ninguém. Eu fico com pena das famílias deles."

R. abandonou os estudos no ensino básico. Segundo Vando, ele tem distúrbio de atenção e não era medicado porque a família não tem condições de arcar com um tratamento.

O adolescente se viciou em drogas e álcool. "Ele via a situação em casa e caía para o mundo", disse Vando.

De acordo com o tio, que está desempregado e faz bico como descarregador de caminhão a R$ 50 a diária, a família vive sob extrema pobreza. A mãe e a avó do adolescente estão desempregadas.

"Faz três meses que estamos sem luz nem água. Cortaram tudo. Eu não tenho vergonha de falar que a minha situação financeira é muito ruim", disse Vando.

Uma vaquinha virtual já arrecadou quase R$ 20 mi para pagar a remoção da tatuagem e custear despesas jurídicas e um tratamento de reabilitação contra dependência química para R.

De acordo com Vando, R. sequer estava roubando uma bicicleta, que seria de um deficiente físico: "Ele esbarrou na bicicleta. O dono da bicicleta estava no hospital e ficou indignado com o que fizeram com o meu sobrinho".

O tio de R. diz que se revolta ao ver que há pessoas endossando a atitude do tatuador.

"Eu fico revoltado, me sinto mal com isso, porque apoiaram uma coisa muito covarde. Se fossem tatuar todo mundo que pensam que roubou, o pessoal da Lava Jato não ia ter espaço. Não há nada que justifique fazer o que fizeram", disse ele.



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