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"É um pesadelo", diz artista que teve pintura retirada por polícia em museu de Campo Grande

Obra de Alessandra Cunha foi feita para denunciar a pedofilia, mas delegado e deputados disseram que se tratava de incentivo ao crime sexual contra crianças.

A tela chama Pedofilia. Mostra uma menina acuada, contra a parede, entre a sombra de dois homens nus com os pênis eretos. A frase "o machismo mata violenta humilha" está escrita duas vezes sobre a pintura. Era para ser uma denúncia, mas virou caso de polícia por suspeita de incentivo à pedofilia.

A tela foi apreendida por policiais civis em uma exposição em Campo Grande nesta quinta-feira, dias depois da censura à mostra "Queermuseu", em Porto Alegre.

Um grupo de deputados estaduais procurou a polícia para denunciar a pintura. Eles chegaram a falar que o nome da autora, a artista plástica Alessandra Cunha, 39, deveria constar na lista de pedófilos do estado. O delegado Fábio Sampaio, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança (Depca), considerou que se tratava de "incentivo à pedofilia" e mandou confiscar a obra. "Entendi, sim, que existiu o crime de apologia", disse ontem o delegado à TV Morena, de Campo Grande.

O BuzzFeed Brasil conversou com Alessandra por telefone nesta sexta-feira (15), enquanto em Campo Grande é organizada uma manifestação de artistas para repudiar a apreensão do quadro pela polícia.

"É um pesadelo. Só por que usei o nome 'Pedofilia' como título de um quadro dizem que é incentivo. A pintura é uma denúncia. Ainda estou muito assustada com tudo isso", contou a artista, que vive em Minas Gerais. Ela disse que suas obras pretendem propor discussões sobre machismo, violência e pedofilia.

Campo Grande é a segunda cidade por onde passa a exposição Cadafalso, de Alessandra. São 32 obras expostas no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, o Marco. A coordenadora do museu, Lucia Montserrat, foi intimada a prestar depoimento nesta tarde na delegacia.

"Isso tudo é uma coisa obscura. A gente vive tempos retrógrados, estamos meio que andando para trás", disse Alessandra.

A artista disse que jamais imaginou que passaria por qualquer tipo de censura. "É de deixar a gente sem chão. Mas, por isso mesmo, a gente tem de se levantar e lutar", completou Alessandra, que é conhecida também como "Ropre".

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