CPI da Merenda vai terminar poupando políticos suspeitos de receber propina

    Presidente da Assembleia de SP, Fernando Capez (PSDB), foi citado por delatores como destinatário de suborno da merenda mas relator não pediu o indiciamento dele.

    O relator da CPI da Merenda, deputado Estevam Galvão (DEM), entregou nesta quarta-feira (7) o relatório final da comissão que investiga fraude na compra de merenda para escolas da rede pública. O documento pede o indiciamento de 15 pessoas, a maioria integrantes da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), fornecedora de suco de laranja.

    Deputado Estevam Galvão (DEM), relator da CPI da Merenda: "Esta CPI não está acabando em pizza, não!"

    Citado por delatores como beneficiário do propinoduto da cooperativa Coaf para vender alimentos superfaturados à merenda escolar, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), foi poupado no relatório. O texto final não pede o seu indiciamento (para que seja formalmente investigado).

    Capez nega que tenha recebido propina da fornecedora de alimentos para a merenda escolar.

    "Não pedi nem autorizei ninguém a solicitar, junto à cooperativa investigada, dinheiro ou bens para minha campanha. O delator foi categórico ao afirmar que jamais tratou de dinheiro comigo e que nunca lhe pedi nada, pessoalmente ou por interposta pessoa", defendeu-se Capez em um artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo. Veja a íntegra aqui.

    Entre os 15 pedidos de indiciamento, estão os nomes de Jeter Rodrigues Pereira e José Merivaldo dos Santos, que assessoravam Capez, e Luiz Roberto dos Santos, que foi chefe de gabinete da Casa Civil do governo Alckmin.

    Questionado se a corda não tinha estourado para o lado mais fraco, o relator Estevam Galvão (foto baixo) negou.

    "Não é verdade. Os nomes que foram citados constam no relatório. Se eu não me engano, o nome do Capez foi citado, o deputado Baleia Rossi [hoje líder do PMDB na Câmara] deve constar no relatório também", disse ele.

    A oposição acusa os governistas de forçar o encerramento sem ouvir personagens relevantes para o processo, como advogada que assinou um contrato de R$ 13 milhões e destinou 4,5% deste valor em propina.

    Dominada pelo governo, a CPI só foi instaurada depois de pressão dos estudantes e funcionou com apenas um integrante da oposição, o deputado Alencar Santana (PT), que afirmou que entregará um relatório separado do de Galvão.

    O PT pediu vistas ao relatório de Galvão, mas o pedido não foi concedido. No entanto, a sessão foi suspensa até terça-feira, quando Alencar entregará o relatório petista. A oposição acusa os governistas de forçar o encerramento sem ouvir personagens relevantes para o processo.

    Uma das personagens é a advogada Vanessa Paciello Laurino, dona da Paciello Consultoria Jurídica, que firmou um contrato de R$ 13 milhões com a Coaf e, segundo o lobista Marcel Julio, 4,5% desse valor, seria propina. Marcel Julio é intermediário nesse contrato.

    De acordo com Alencar Santana, o contrato ligaria parlamentares ao esquema. O presidente da CPI, deputado Marcos Zerbini (PSDB) disse ao BuzzFeed que Marcel Julio e o presidente da Coaf não ratificaram junto à Justiça essas acusações e que não viu necessidade de convocar a advogada para depor.

    Citado pelo deputado Estevam Galvão, o deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP) informou, por meio de sua assessoria, que o chefe do esquema de propina, o ex-presidente do Coaf, Cássio Chebabi, o isentou de participação no caso das fraudes na merenda escolar.

    Em nota enviado ao BuzzFeed Brasil, a assessoria de Baleia afirma que, em depoimento à Polícia Civil em fevereiro, Chebabi, que fez acordo de delação premiada, disse que "Baleia não abriu (as portas de) nenhuma prefeitura". "Além disso, o advogado de Chebabi, Ralph Tórtima, também deu declarações a veículos de comunicação confirmando o conteúdo deste depoimento", informa a nota.

    Principal representante do governador Geraldo Alckmin na CPI, o deputado Barros Munhoz (PSDB) também insistiu em dizer durante a sessão que a comissão não seria encerrada em pizza. Ele defendeu que o PT tivesse tempo de ler o relatório.

    De fora do plenário, os estudantes esperavam o encerramento da sessão para protestar durante a entrevista coletiva de Estevam Galvão com palavras de ordem contra o governador Alckmin e Fernando Capez.


    Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

    Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.