Eles prestam atenção em tudo. Se revezam para fazer refeições improvisadas, sentados no corredor da Assembleia Legislativa, e já são chamados até por seus apelidos pelos policiais militares que fazem a segurança do prédio.
São os estudantes – de movimentos organizados ou independentes – que acompanham desde o ano passado cada passo da investigação sobre superfaturamento e corrupção nos contratos de fornecimento da merenda escolar no estado.
Nesta terça-feira (13), o dia na CPI foi longo, com uma rodada de depoimentos e muita discussão entre os deputados estaduais da oposição e da base do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
O clima desta manhã é muito tenso, bem diferente da terça-feira.
Antes do depoimento de Capez, houve tumulto com a polícia, que usou gás de pimenta contra os jovens. Os estudantes foram impedidos de entrar na audiência da comissão, que agora será feita apenas com parlamentares.
Já ontem a sessão não teve parada nem para o almoço. E os jovens fizeram uma vaquinha para comprar lanches. Keila Martins e a amiga Larissa tinham R$ 10 cada. Juntaram o dinheiro e compraram mortadela, pão de forma, suco e iogurte.
Quatro pessoas aproveitaram o almoço e outras duas meninas também foram chamadas para dividir o lanche, mas recusaram.
"Cada um dá o que tem", explica Keila, que participa da União Municipal de Estudantes (UMES) e é militante do PPL, antigo MR-8. E ela ainda guardou boa parte do lanche para um segundo round.
Os jovens acompanham da galeria o discurso dos deputados. A maioria dos membros é governista. E é por causa disso que os estudantes e a oposição consideram que a comissão é chapa branca.
Nesta terça, essa ala governista jogou pesado contra o promotor que investiga o caso no Ministério Público. Leonardo Leonel Romanelli foi ouvido como testemunha e teve seu trabalho contestado pelos parlamentares ligados a Alckmin.
Um deles, o delegado Olim (PP), chegou a perguntar se o promotor não estava só querendo se promover às custas de denúncias sobre os contratos firmados entre o governo do estado e a cooperativa de produtores agrícolas, a Coaf.
"Só queria saber se o promotor é que está sendo investigado", interveio a deputada Beth Sahão (PT). O depoimento de Romanelli foi uma queda-de-braço entre os petistas e os governistas. Eles pulavam de merenda para petrolão num piscar de olhos.
"A CPI é da Merenda", esbravejava da galeria o presidente da União Paulista de Estudantes (UPES), Emerson Santos, que não perde um dia de sessão. Assim como outros jovens que acompanham as audiências, ele acampou por três dias no plenário da Assembleia para forçar a criação da CPI.
Mas o lado governista também tem sua claque. A comerciante Nina Ares, de 49 anos, ria, aplaudia, se levantava e falava "é verdade" a cada vez que o ex-presidente da Assembleia Barros Munhoz (PSDB) subia o tom para fazer a defesa do governo.
Ela disse ao BuzzFeed Brasil que acompanha tudo porque gosta de política e negou que trabalhe para o deputado Munhoz. Semanas atrás, jornalistas flagraram um desses cidadãos animados, que, na verdade, era assessor de um dos membros da comissão.
O único momento em que petistas e governistas pareceram falar a mesma língua foi no depoimento de Jeter Rodrigues, ex-assessor do presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB). Ele é um dos principais investigados.
Jeter foi acusado de mentir o tempo todo. Barros Munhoz disse que ia pedir sua prisão, com o que concordava Alencar Braga (PT). Jeter entrava em contradição e os deputados disseram que ele mentia sobre tudo: motivo de um contrato de R$ 200 mi, local de assinatura desse contrato, propriedade de empresas e seu relacionamento com o suposto esquema criminoso. Nesse esquema, teve até cheque sem fundo, no valor de R$ 50 mil, que Jeter não soube explicar. A história foi descoberta pela "Folha".
Nesta quarta, os estudantes e parlamentares apostam que a temperatura vai subir ainda mais. Alguns jovens até acamparam na rampa da Assembleia. Quem prestará depoimento é o presidente da Assembleia, Capez. O deputado nega ter participado ou ter conhecimento da operação que envolvia pessoas ligadas a ele, como Jeter.