O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou nesta quinta-feira que nomeará a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu para o segundo escalão de seu governo. A notícia foi adiantada pela coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Em 2007, Denise era um dos alvos do movimento Cansei, criado por Doria para criticar a corrupção e justamente a área de atuação de Denise: o caos aéreo.
O Cansei foi criado dias depois do acidente com um Airbus da TAM que matou 199 pessoas em São Paulo. Com outros empresários e artistas, Doria saiu às ruas e bradou contra a crise aérea, a Anac, e sobretudo o governo Lula (2002-2010).
Depois de ser chamada de afilhada política do ex-ministro José Dirceu, condenado e preso nos processos do mensalão e Lava Jato, Denise passou a ter uma atuação política à direita. Hoje, preside o Partido da Mulher Brasileira (PMB). Queria concorrer à prefeitura, mas o partido desistiu. Entrou então na campanha de Doria.
Denise vai presidir o Departamento de Iluminação Pública (Ilume) da prefeitura. No Facebook, ela comemorou a indicação.
A indicação não foi bem recebida pelos parentes das vítimas do acidente aéreo, que aguardam o julgamento do recurso do processo do acidente, movido pelo Ministério Público Federal (MPF). Em primeira instância, Denise foi inocentada. Para o MPF e as famílias das vítimas, ela deveria ser responsabilizada por, entre outras medidas, ter pedido alteração em normas de segurança da pista de Congonhas.
O vice-presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo TAM JJ3054 (Afavitam), Archelau Xavier considerou "muita estranha" a nomeação. Ele disse que a associação vai protestar, por meio de uma carta a Doria, contra a indicação de Denise Abreu.
"Não é possível que uma pessoa que deveria estar presa esteja com um cargo público. Acho muito estranho tudo isso", disse Archelau, que perdeu uma filha no acidente.
Já o assessor de comunicação da Afavitam Roberto Gomes criticou a decisão do prefeito eleito. Seu irmão Mário era um dos passageiros do voo.
"Se o Doria quer nomear uma pessoa que é ré, é um problema dele. Eu lamento pelo Doria. Denise Abreu é de uma pequenez tão grande. O que não entendo é que Doria mesmo comandou um movimento contra ela e a Anac. Na época, eu até discuti com ele na Praça da Sé porque achei que ele estava usando as famílias para fazer uma mobilização contra o governo Lula. Eu disse: tu nos usou, tchê", disse Gomes.
Durante todo o dia desta quinta-feira, o BuzzFeed Brasil tentou contato com Denise Abreu, mas ela não quis se manifestar. À Justiça, Denise negou qualquer responsabilidade ou implicação no acidente aéreo. O procurador da República Rodrigo de Grandis pediu sua condenação por até 24 anos de prisão por atentado contra a segurança de transporte aéreo, entre outros réus. A denúncia foi rejeitada em primeira instância e aguarda decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.