"Aluguel" vira palavra proibida entre moradores do prédio incendiado

    Para morar na ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida, que despencou em um incêndio no Largo do Paissandu, era preciso pagar uma taxa (valor médio de R$ 210) e seguir regras rígidas.

    Para morar na ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida, que despencou em um incêndio no Largo do Paissandu na terça-feira (1), era preciso pagar uma taxa e seguir regras rígidas. Ontem, quando moradores começaram a dizer a jornalistas que pagavam "aluguel" aos coordenadores do MLSM (Movimento de Luta Social por Moradia), o clima entre os moradores acampados no largo piorou.

    "Não existe aluguel. Essa palavra não existe na ocupação. O que há é uma contribuição", disse o coordenador do movimento, Ricardo Luciano Lima, o Careca, que passou toda a quarta-feira dando entrevistas e conversando com autoridades para mediar a situação dos moradores: "Eles [o poder público] querem que nós vamos para o abrigo e nós não vamos".

    O BuzzFeed News conversou com diversos moradores acampados no Largo do Paissandu. A maioria confirmou que paga aos coordenadores do MLSM uma taxa de R$ 210, apesar de alguns integrantes do movimento dizerem que não passava de "R$ 100, R$ 150".

    Uma parte dos moradores chama de "aluguel", mas logo é corrigida por outros moradores, que dizem ser "contribuição". Um integrante de movimento social que estava apoiando os desabrigados chegou a discutir com a repórter, aos gritos, dizendo que falar em "aluguel" se tratava de má-fé jornalística.

    Embora seja uma taxa obrigatória, um desempregado não seria expulso do prédio se ficasse sem pagar. O BuzzFeed News localizou ao menos uma moradora que havia deixado de pagar a taxa e continuou morando no local.

    A auxiliar de enfermagem Marta Maria Maia da Fonseca ficou três meses sem pagar porque não tinha emprego. "Eles me ajudaram, me deram cesta básica."

    Na hora do incêndio, ela estava fora do prédio, dormindo na casa da irmã. Agora, ela, o marido e a filha perderam tudo. Nesta semana ela começa em um emprego. "Arrumei um emprego e perdi a casa. Sorte é que tenho o respaldo da minha irmã."

    O prédio fechava o portão às 20h e tinha uma série de regras, como ocorre em ocupações de moradia. "Não pode beber dentro do prédio, não pode usar droga, não pode bater nas crianças nem maltratar a mulher", disse Lourival Correa de Oliveira Filho, que trabalhava na ocupação como segurança.

    Lourival ganhava uma diária de R$ 30. "Nosso dever era proteger a vida de cada um lá dentro. Quando o sujeito maltratava a mulher, a gente botava ele para fora para esfriar a cabeça. A gente fechava a porta porque é perigoso aqui fora."

    De acordo com Lourival, havia segurança na portaria dia e noite. Era sempre um morador remunerado, assim como faxineiro para cuidar da escadaria. O abastecimento de água era um "gato" e a luz era tirada do semáforo. Por isso, a iluminação era intermitente.

    A coordenadora do prédio é uma mulher chamada pelos moradores de
    "dona Nil". Parte dos moradores estava revoltada porque ela não estava acampada com eles e se abrigou em casa de parentes. "Ela ficou muito abalada. Acho que a gente não pode ficar julgando as pessoas. E aquelas pessoas que nos deram uma dignidade que a gente não tinha", disse Lourival.

    "Sou da coordenação. A Nil não está, mas estou aqui. E tem outros. Ninguém abandonou a ocupação", disse Careca.

    Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

    Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.