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Maria Clara foi confundida com cúmplice do agressor de Bolsonaro e a vida dela virou um inferno

Na hora do ataque ao candidato, ela estava trabalhando a quase 300 km do local do crime. Quando a Polícia Federal foi à casa dela, ela achou que tinham ido para matá-la. "Me senti em um episódio de Black Mirror", conta a estudante de 27 anos.

Um dia depois do atentado contra o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), a estudante Maria Clara de Paula Ribeiro Tarabal, 27, de Belo Horizonte, aproveitava o feriado de 7 de Setembro para ver um filme sozinha em casa. De repente, as notificações de seu celular começaram a aparecer sem parar: eram ofensas, acusações e ameaças.

Maria Clara, que no dia do atentado estava trabalhando em Belo Horizonte, a 272 quilômetros de Juiz de Fora, fora "identificada" como uma suposta mulher que teria entregado a faca para o agressor de Bolsonaro, Adelio Bispo de Oliveira. A Polícia Federal jamais confirmou que Adelio teve ajuda.

Na foto divulgada nas redes, há uma mulher morena, de óculos de sol. "Associaram a mulher com o meu nome. Não sei como. A única coisa que temos em comum é a pele clara e o cabelo preto. Mas acharam uma foto minha, de óculos, e disseram que eram os mesmos óculos. Foram criando teorias", contou ao BuzzFeed News a estudante.

"O teor das mensagens me assustava muito. 'Seus dias estão contados'. 'Você está morta', escreveram".

Até a irmã de Maria Clara passou a receber mensagens. Tinha gente que perguntava se Maria Clara já havia estado em Montes Claros, onde Adélio Bispo nasceu e viveu parte da vida. Era a "investigação" paralela à da Polícia Federal. Nessa investigação, a jovem já havia sido condenada.

"Eu tive um ataque de pânico. Não consigo dormir sozinha mais. Peço para a minha irmã para dormir comigo. Fiquei com muito medo. É um medo que não dá para explicar. Meus pais estão assustadíssimos e eu choro o tempo inteiro. Acho que estou um pouco deprimida porque é horrível ver pessoas dizendo que eu sou terrorista, que eu sou criminosa".

Os pais de Maria Clara abreviaram a viagem porque ficaram com medo de deixar a filha sozinha. Um tio advogado passou a orientá-la. Ela foi à polícia registrar um boletim de ocorrência. E ficou ainda mais assustada quando recebeu por Whatsapp uma mensagem de uma pessoa que dizia ser da Polícia Federal.

"Eu pensei que era outra ameaça. Nem sabia que a Polícia Federal mandava mensagem por Whatsapp. De repente, no domingo, dois agentes foram até minha casa".

Maria Clara diz que, desesperada, ligou para a Polícia CIvil, que já estava ciente das ameaças. "Juro que eu pensei que era alguém querendo me matar".

Ela passou o telefone para um dos agentes da PF, que conversou com o policial do outro lado da linha. "Ele deu o número de sua matrícula e só assim acreditei que eram agentes".

A estudante diz que, acompanhada do tio, foi à delegacia da Polícia Federal prestar depoimento. "Eu disse que, no dia do atentado, estava no trabalho. E os agentes e o delegado deixaram bem claro que eu não era suspeita, mas que queriam entender toda essa confusão. Eu falei que estava com medo e eles se dispuseram a colocar dois policiais para fazer minha proteção", contou ela.

"Eu tinha visto um episódio de Black Mirror sobre fake news e me senti dentro dele", lamenta a estudante. Ela saiu de suas redes sociais, mas não consegue deixar de checar seu nome no Google, para saber se a situação já está se acalmando.

"Fui ao Ministério Público e eles me explicaram que é preciso um mandado judicial para conseguir tirar essas coisas do Google, mas que isso é muito difícil". A Polícia Civil está investigando o caso, mas ainda não se chegou à pessoa que originou a informação falsa. Maria Clara diz não saber se seu nome foi usado aleatoriamente ou se alguma pessoa mal intencionada o divulgou para prejudicá-la.

Como a universidade e mesmo a faculdade que ela faz foram divulgadas nas redes sociais, Maria Clara só voltou a assistir às aulas na quinta-feira (14). Ficou com medo de ser perseguida por algum agressor no campus. Os perseguidores também divulgaram dados de seus familiares e republicaram fotos de suas redes sociais.

No trabalho, os colegas foram solidários. Ela diz que estava no local quando uma colega contou sobre a facada em Bolsonaro. Seus amigos também têm sido solidários, mas Maria Clara perdeu a vontade de sair de casa.

"Não tenho nada a ver com essa história e minha vida virou de cabeça para baixo."






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