A propina de Cabral ficou tão grande que os doleiros do Rio não deram conta, diz delator

    Aqui estão as contas onde o ex-governador escondeu mais de US$ 100 milhões em cinco países, segundo investigadores. Filhote da Lava Jato levou à decretação da prisão de Eike Batista.

    Pivôs da decretação da prisão do empresário Eike Batista ao ligá-lo ao pagamento de 16,5 milhões de dólares ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral, os irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar traçaram um do crescimento "surreal" das propinas pagas ao peemedebista.

    Os irmãos Chebar e Cabral (preso desde 17 de novembro) se conheceram no final dos anos 1990 por uma relação de família.

    A mulher do pai de Renato e Marcelo era secretária do então deputado estadual.

    Segundo Renato, naquela época Cabral o procurava apenas para pequenas compras de dólar para viagens anterior.

    Isso mudaria radicalmente no Carnaval de 2002, meses antes de Cabral ser eleito, aos 39 anos, para o Senado.

    Assustado com um escândalo que envolveu nomes de políticos com o pagamento de propinas, Cabral bateu à porta de Renato Chebar com um pedido de ajuda.

    "Sérgio Cabral não estava envolvido com o referido escândalo, mas ficou preocupado com conta que possuiria no Israel Discount Bank of New York (IDB/NY)", relembrou Renato, em depoimento aos investigadores da Lava Jato no Rio.

    Segundo a versão do delator, o peemedebista perguntou se o doleiro podia receber os valores que possuía em sua conta de nome “Eficiência”. Chebar topou e passou a esconder US$ 2 milhões do senador em duas contas de sua titularidade, a “Silver Fleet” e a “Alpine Grey”.

    Na prática, Renato Chebar se tornara o guardião de uma pequena fortuna secreta do político.

    A partir daí, Cabral e o doleiro passaram a ter uma relação próxima.

    Era Sérgio Castro de Oliveira, o Serjão, pessoa de confiança de Cabral, que procurava Chebar para entregar reais no Brasil que eram transformados em dólares em contas secretas no exterior. A operação financeira clandestina é chamada de dólar-cabo.

    De acordo com Chebar, Cabral acumulou US$ 6 milhões entre 2002 e 2007 nas contas do doleiro fora do país. Ele praticamente triplicou o volume do dinheiro sem origem lícita escondida, mas isso nem chegaria perto dos voos que iria alçar.

    Eleito governador do Rio em 2006, Cabral assumiu uma poderosa máquina de arrecadação de propina. De acordo com as investigações que resultaram na sua prisão no ano passado, seu grupo montou um esquema de cobrança de 5% do valor das grandes obras públicas do Estado.

    "O alto valor acumulado por Sérgio Cabral no período – durante o exercício dos mandatos de Deputado Estadual do Rio de Janeiro e Senador da República – em nada se compararia às surreais quantias amealhadas pelo ex-governador nos anos seguintes", escrevem os procuradores, no pedido de prisão de Eike Baptista.

    "Durante sua gestão à frente do governo do Estado do Rio de Janeiro, quando logrou acumular mais de USD 100.000.000,00 (cem milhões de dólares) em propinas, distribuídas em diversas contas em paraísos fiscais no exterior", continuam os investigadores.

    Renato e Marcelo Chebar foram fundamentais para esclarecer o tamanho do propinoduto.

    Em 2007, ano da posse de Cabral no governo, Sérgio Castro de Oliveira, o Serjão, foi substituído em 2007 por Carlos Miranda como o homem que entregava o dinheiro vivo dos fornecedores do Rio para as mãos dos irmãos doleiros que, por sua vez, através do dólar-cabo, lavavam o dinheiro da propina de Cabral no exterior.

    Apesar do homem da mala do governador ter mudado, o esquema permaneceu o mesmo até entrar em colapso por uma razão prosaica: excesso de dinheiro.

    "A partir de 2007, no entanto, o volume de propina recebida começou a ficar tão grande que os colaboradores não conseguiram mais encontrar pessoas no Brasil para fazer as operações fragmentadas de dólar-cabo", escrevem os procuradores.

    Renato Chebar contou que precisou arranjar, ele próprio, um doleiro no Uruguai para ajudar a lavar a dinheirama. Recorreu a um brasileiro residente em Montevidéu identificado apenas como "Juca Bala" para fazer as operações de Cabral.

    "Que já se encontrou com JUCA em três oportunidades no Uruguai; Que se encontrava com Juca geralmente em hotel que o colaborador se hospedava; Que uma vez chegou a ir no escritório de Juca em Montevidéu, no centro da cidade; Que apesar de Juca residir em Montevidéu, o mesmo possuía estrutura no Rio de Janeiro para operacionalizar seus negócios: com a retirada e entrega de valores", disse Chebar, em depoimento.

    Os irmãos Chebar entregaram planilhas com pagamentos feitos em nome de Cabral e documentos de 10 contas bancárias em cinco países, onde o dinheiro do ex-governador foi escondido. A maior parte deste dinheiro, segundo os investigadores, foi repatriado.

    Quando governador do Rio, Cabral alimentava o sonho de chegar à Presidência da República. Nos próximos dias, contudo, pode obter um novo posto de destaque no país.

    De acordo com investigadores que atuam na Lava Jato e em seu desdobramento fluminense, Cabral pode ser tornar o maior corrupto do país em volume de recursos desviados individualmente, o “zero um”, superando o petrolão.

    Apesar de os desvios na Petrobras somarem bilhões, investigadores apostam que, após o “oceano" de Cabral ser desbravado, ele será aquele que, individualmente, mais juntou recursos provenientes de esquemas criminosos.

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