Michelly Fernandes Camargo, 27, realizou um sonho há dois meses. Tornou-se a primeira mulher a pilotar uma moto na Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) do 50º Batalhão da PM, em Parelheiros, São Paulo. No dia em que recebeu a promoção, a braçal, não conteve as lágrimas nem o fôlego para gritar "Rocam" três vezes. O vídeo emocionou os colegas do batalhão, que agora se revezam em orações e visitas a Michelly, no Hospital das Clínicas.
Na madrugada do último domingo (22), Michelly caiu com a moto durante uma perseguição a dois motociclistas e sofreu fraturas múltiplas no rosto. "O problema é que ela respirou sangue e há muitas manchas de sangue no pulmão. Seu estado é muito grave", conta o comandante da Força Tática do 50º, capitão Paulo César Braga. Ela está em como induzido e corre risco de morte.
Na noite do acidente, ela e seu pelotão faziam um bloqueio durante um pancadão e saíram em perseguição a dois motociclistas que tentaram desviar por uma estrada sem asfalto. Na perseguição, Michelly caiu da moto e, como seu capacete é articulado para acoplar o rádio de polícia, ela bateu com o rosto no chão, disse o capitão. Os dois homens fugiram.
Filha única, Michelly deixou os pais em Jacareí, a 82 km da capital, para ser policial em SP. Formou-se como PM há três anos e meio. "Desde que entrou para a Polícia Militar, seu sonho é ser da Rocam. Ela é apaixonada por motos. É o meio de transporte dela aqui [na polícia] e fora", diz a soldado Calissa Lisboa, uma de suas amigas próximas.
Preocupado com o futuro de Michelly, um grupo de amigos lançou uma vaquinha online de R$ 50 mil para ajudar a policial. Em pouco mais de um dia, 46 pessoas doaram R$ 2.060, mas a vaquinha foi cancelada.
"Alguns amigos tomaram essa iniciativa, mas entendemos que esse não é o momento. Não é de dinheiro que Michelly precisa agora. Ela está totalmente amparada no Hospital das Clínicas", afirma o capitão Braga.
Jovem, Michelly é conhecida por seu bom humor. "Sua alegria nos faz falta", diz Calissa. Ela pilota uma Honda XRE 300. O salário da policial é em torno de R$ 3.000.
"Ela é uma exímia motociclista. Pega muito ladrão. Pilota muito bem a moto. Comentário nosso aqui: é a única mulher da companhia que atua no serviço operacional e pilota melhor do que muito marmanjo aqui", diz o capitão Braga.