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Quem são os novos grupos que estão indo às ruas em oposição a Bolsonaro

"É importante mostrar que as ruas não são deles", diz integrante do coletivo Democracia Corinthiana, que articulou as torcidas paulistas no protesto contra os bolsonaristas.

Os brasileiros que se manifestam aos domingos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro não devem ficar mais sozinhos pelas ruas do país. Desde ontem (31), grupos organizados pelas torcidas dos times de futebol prometem ser o contraponto ao bolsonarismo nas ruas, apesar da pandemia de coronavírus.

Nas redes sociais, ainda sem o aval das torcidas organizadas, grupos preparam uma manifestação para o próximo domingo, dia 7, enquanto o presidente pede que, desta vez, os bolsonaristas fiquem em casa.

Ontem, a manifestação antifascista das torcidas organizadas acabou reprimida pela Polícia Militar de São Paulo e reagiu atirando pedras e colocando fogo em pedaços de madeira e papelão encontrados na rua.

Os manifestantes, no entanto, registraram momentos em que, antes do confronto, foram provocados por bolsonaristas quando se preparavam para encerrar o ato no vão livre do Masp. Uma das manifestantes pró-Bolsonaro portava um taco de beisebol e foi conduzida sem violência por um policial que não recolheu o instrumento.

"A intenção do ato de ontem era mostrar para a população que existe uma parcela considerável do país que está descontente com a falta de governo do Brasil, com a falta de ações efetivas no combate a pandemia, com o descaso nas políticas públicas. A ideia era mostrar que essas pessoas não estão sozinhas, que tem gente disposta a lutar pela democracia, e mostrar que as ruas não são deles, os bolsonaristas", disse ao BuzzFeed News Leandro Bergamim, do coletivo Democracia Corinthiana.

O grupo foi responsável por juntar alas politizadas das torcidas dos times paulistas, geralmente rivais, no protesto contra Bolsonaro. A iniciativa foi tomada pelos torcedores da Gaviões da Fiel, do Corinthians, e endossada por torcidas do Palmeiras, do São Paulo e do Santos. No Rio, os torcedores do Flamengo também foram às ruas num protesto do Vidas Negras Importam, movimento antirracista americano que tem eco no Brasil. No Rio também houve repressão ao protesto.

"Com relação ao tumulto na Paulista, isso faz parte do jogo democrático. Com a postura que tem sido adotada pela polícia, não se esperava que fosse diferente", disse Leandro Bergamim. "O importante para nós e que a gente teve êxito nisso foi na disputa da narrativa. Todo o tumulto aconteceu porque houve provocação da parte deles [bolsonaristas], que tinham até bandeira da ultradireita ucraniana. Essa provocação barata gerou uma reação."

Para o cientista político Cláudio Couto (FGV), "a ameaça do bolsonarismo atingiu um patamar tão elevado que as pessoas perceberam a necessidade de se unir mesmo sendo rivais, como as torcidas dos times de futebol".

Ele avalia que antes apenas bolsonaristas estavam indo às ruas por causa da cautela relativa à pandemia que tem sido rechaçada por Bolsonaro.

A partir deste domingo, no entanto, desenha-se um novo cenário de disputa pelas ruas. E não só pelas ruas. Nas redes sociais, grupos têm se organizado em movimentos como "Somos 70%", referente à maioria nas pesquisas descontente com o governo Bolsonaro, e "Estamos Juntos", que reúne pessoas de diversas matizes políticas em protesto contra o presidente. Advogados e juristas de todo o país também se articularam em um manifesto denominado Basta. O grupo critica os gestos do presidente de desacato às instituições, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional.

"É algo que tende a crescer. Houve uma mudança de ambiente, com um cenário mais propício a união de setores adversários", disse Claudio Couto ao BuzzFeed News. "O que preocupa é que vimos tanto em Brasília como no Rio e em São Paulo a polícia assumir um lado. Na Paulista ontem o que houve foi muito mais uma parcialidade da polícia na maneira de lidar com a situação do que a violência dos antibolsonaristas", disse o professor.

"Os bolsonaristas não estão mais sozinhos nas ruas. Eu arrisco dizer que podemos viver novos tempos dos protestos de junho de 2013. A gente tem vivido uma escalada autoritária, nas ruas tem se pedido o que é ilegal, como a apologia à ditadura, e é preciso dar uma contranarrativa, que tem de ser a favor da democracia", disse Danilo Pássaro, um dos organizadores do protesto da Gaviões da Fiel.

Segundo ele, o desfecho de violência do protesto de ontem não foi positivo para os protestos contra Bolsonaro, mas não devem comprometer os próximos passos. "Ontem foi um grito que estava entalado na garganta. Existe uma tentativa de testar a elasticidade de nossa democracia. Não que a reação ajude no discurso deles, mas não contribui para o nosso. Mas acho que a manifestação de ontem foi positiva", disse Pássaro.

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