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O que pensa a vereadora tucana que se tornou a principal opositora de Doria na Câmara de SP

Para a vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), o prefeito (e colega de partido) tem viés autoritário e exagera na propaganda. "Eu não negocio cargos", diz a autora do projeto para fazer um plebiscito sobre as privatizações que Doria prometeu na campanha.

A vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), 45, saiu do governo Doria e tornou-se, em poucos meses, o maior nome de oposição ao prefeito de São Paulo na Câmara.

Vereadora de segundo mandato, a tucana foi reeleita à Câmara com o voto do eleitorado evangélico (ela é fiel da Comunidade da Graça). Psicóloga de formação, Patrícia é uma especialista em políticas públicas para comunidades carentes.

Quando deixou a Secretaria de Direitos Humanos, durante a crise na cracolândia, não poupou o correligionário de críticas.

Agora, a vereadora é autora de um projeto para submeter a plebiscito o programa de privatizações da prefeitura (promessa de campanha de Doria).

Na visão dela, o ex-chefe e colega de partido tem um viés autoritário, "não sabe como fazer as coisas" e exagera na propaganda.

Abaixo a entrevista que ela concedeu ao BuzzFeed News.

A senhora tem sido, ainda que involuntariamente, o nome mais forte de oposição ao prefeito João Doria. Como é isso?

Existem hábitos do Executivo, não só desse, de mandar os projetos para a Câmara e acharem que os vereadores têm obrigação de comprar aquilo sem fazer nenhum tipo de questionamento. A proposta do plebiscito diz respeito àquilo que você vai deixar de ter como capital da cidade. Quando você vai vender imóveis que pertencem à cidade, tem de ter clareza. A gente não sabe o que vai ser vendido. O plebiscito é necessário.

Ao sair da Secretaria de Direitos Humanos, a senhora disse que Doria atropelava processos para chegar aos objetivos. A senhora o vê como um prefeito muito afoito?

Uma pessoa que vem de uma prática da iniciativa privada tem um ritmo. Ele quer trocar uma lâmpada, manda trocar a lâmpada. No poder público, é mais complexo. Eu entendo que isso é irritante mesmo. Beira a insanidade o rito da máquina pública, mas é o rito da máquina pública. Do mesmo jeito que ela é lenta, ela protege de várias coisas.

Estar preparado, com certeza ele não estava. Ele chegou da vida privada direto para uma prefeitura, ele não foi um líder comunitário, um vereador, um deputado.

E isso faz falta?

Ah, faz. Seguramente faz. Ele vai sofrer mais com o impacto das negativas, do não. Ele não está acostumado com o não. Ele está acostumado a chegar, fazer uma reunião e ser bem-recebido. Ele sabe receber as pessoas, ser agradável, mas não reage bem ao receber um não.

O prefeito tem mostrado algumas características que já estão se tornando folclore, como exigir pontualidade sob aplicação de multa, não querer que seu secretariado use gravata (só paletó). Isso lhe incomodava?

Se ele tem traços de personalidade mais autoritária? Certamente ele tem. Ele tem esse perfil e vai ter de aprender a lidar com isso.

Ele é mandão?

Sim. E isso é notório, qualquer um percebe. Difícil é você lidar com isso numa Casa como essa (a Câmara). Porque o Legislativo tem autonomia. Para lidar com o Legislativo tem de construir uma relação, fazer a corte, vir tomar um café, respeitar a individualidade. Eu não vejo uma proximidade dele com a Câmara. Falta essa relação mais estreita e uma proximidade.

Que qualidade a senhora descobriu no prefeito?

Ele tem essa coisa de ser persistente, de ter energia, de ter vontade de fazer. Ele sabe como fazer? Eu percebo que não. Ele tem vontade de deixar uma marca, mas não está sabendo como fazer isso.

E o que a decepcionou com o prefeito?

Foi a falta de ouvir. Ele é uma pessoa que não tem trajetória em direitos humanos e assistência social. Então, a quem ele tem de ouvir para fazer um decreto sobre zeladoria da cidade? Se eu quero alterar alguma coisa, eu tenho de fazer uma consulta. E não foi feito isso.

Aí veio a questão da Ponte das Bandeiras (alteração do nome para ponte Romeu Tuma, ex-senador morto em 2010, que foi diretor-geral do DOPS). Fizemos um parecer contrário à mudança porque, em todos os relatórios (de comissões da verdade), Tuma era citado como um facilitador no DOI-Codi. Ele me garantiu que seria vetado, mas daqui a pouco se muda de posição, se lava as mãos e deixa correr uma sanção que chama tácita.

Já fiquei por aqui assim (aponta o queixo). E por fim veio a questão da cracolândia (quando o prefeito participou da ação do governo estadual para combater a cracolândia e chegou a dizer que ela havia acabado). Não houve um pedido de ajuda. Não houve.

A senhora virou uma voz forte de oposição. Levou puxões de orelha do PSDB em algum momento?

Por enquanto, não. Todo mundo sabe que eu não sou uma pessoa que negocie cargo, e isso me dá muita liberdade e credibilidade para fazer o que estou fazendo. Se eu negociasse cargos, alguém do governo chegaria para mim e diria: "Patrícia, baixa a bola porque fulano e beltrano serão mandados embora".

Acenaram com outra coisa?

Na verdade ele ficou incomodado com a questão do plebiscito. Falou comigo por telefone: "que história é essa?" Eu disse: "João, isso é constitucional, é prerrogativa do vereador, não é contra o governo, é a favor da democracia". E ele não entende. E não entende também porque tem um monte de gente que não entende de democracia falando na orelha dele.

Em sua opinião, Doria será candidato a presidente em 2018 pelo PSDB?

Eu acho que não. Acho que será Alckmin por uma razão simples que vocês não estão levando em consideração: Doria não tem voto no partido. Quem tem voto no partido é o governador. Ele é que sai para tomar café, para fazer visita, para conversar com as pessoas.

Mas Doria teve uma votação estrondosa.

Por quê? Quem pegou ele pela mão para fazer campanha? Acho que ele não será candidato. O governador tem muito mais condições, tem muito mais relações partidárias, tem recall das urnas.

A senhora vê algum risco de ele sair do partido para concorrer?

Acho que pode ser provável.

Porque teve acenos do PMDB, do DEM.

Isso acho que é uma mensagem. Porque ninguém tem esse tipo de exposição sem estar sinalizando alguma coisa para a própria sigla.

Os tucanos "cabeças-brancas" [os mais velhos] têm feito críticas a ele.

Aí tem a vantagem de se fazer as prévias. Se ele quiser ser o nome do partido, vai ter de se submeter às prévias.

Mas Doria diz que não disputará prévias com Alckmin.

Eu acho que, pelo caminho que se está se levando, vai ter de se chegar a uma concorrência. Ninguém tem agenda fora de São Paulo sem ter o desejo de ser candidato. É o tal negócio: o vídeo diz uma coisa, mas a agenda diz outra.

Doria tem feito muitos vídeos de propaganda, como o da distribuição de ovos (depois de levar uma ovada em Salvador). Como a senhora avalia esse tipo de propaganda?

Quem põe o limite é a sociedade. Acho que tem muito exagero, uma preocupação exacerbada com essa coisa midiática. Ele faz isso muito bem, a isso tem de se dar a mão à palmatória.










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