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Pioneiro no uso da cloroquina no Brasil diz que há pressão para receitar o remédio contra a Covid-19

O médico Marcos Boulos, que já receitou cloroquina para casos de malária, diz que o país está misturando política com saúde. "Está havendo pressão. Inclusive ameaçam médicos que não prescrevam a cloroquina."

Um dos primeiros a usar cloroquina no Brasil, mas em casos de malária, para o qual o remédio foi feito, o médico Marcos Boulos afirma que há pressão para que os médicos passem a receitar o medicamento para os pacientes com Covid-19. Ele afirma que nunca viu, no país, uma interferência política na medicina nos moldes do que está em pauta hoje, na pandemia do coronavírus.

"As pessoas desde a prevenção até o tratamento estão confundindo política com saúde", disse o médico, em entrevista por telefone ao BuzzFeed News.

"O presidente sai na rua, não se protege, e os seguidores dele fazem a mesma coisa. Um absurdo. O que está demonstrado no mundo todo as pessoas negam e falam que quem não faz o que eles falam é que está indo contra, que só dá o remédio para rico. Eu não consigo entender isso. Não estou acostumado a ouvir essas coisas. Estou vendo isso pela primeira vez."

Nesta quarta-feira (20), o Ministério da Saúde publicou novo protocolo em que libera que a cloroquina e a hidroxicloroquina sejam utilizadas em pacientes leves com coronavírus. Até o momento, e com muitas ressalvas da comunidade médica, a cloroquina estava sendo receitada para casos graves, sempre com a anuência do médico e do paciente.

"Como a cloroquina é uma droga que tem mais trabalhos contrários do que favoráveis, poucos médicos o farão se não forem pressionados a isso. E está havendo pressão. Inclusive ameaçam médicos que não prescrevam [o medicamento]", afirmou o especialista, que integra o centro de contingência do coronavírus em São Paulo.

Boulos explicou que tem recebido relatos de médicos, mas não entrou em detalhes sobre a origem das pressões.

O centro de contingência do coronavírus é formado por altos especialistas em saúde, que trabalham voluntariamente aconselhando o governo do estado. Nesta quarta-feira (20), o governador João Doria afirmou que, a despeito do novo protocolo da cloroquina, deixará a decisão a cargo dos médicos, que, mesmo receitando, precisam da anuência, por escrito, do paciente.

Pai do líder do MTST Guilherme Boulos, o médico com quase 40 anos de carreira e especialidade em doenças tropicais e epidemias, tem sido atacado nas redes sociais por bolsonaristas e até pelo assessor do presidente Jair Bolsonaro e irmão do ministro da Educação, Arthur Weintraub.

O boulos burguês não gostou que mostrei a forte ligação do papi dele com o doria. Nunca vi o doria chegar perto de pobre. Papi médico famoso é riquinho? Quanto é o salário dele no governo doria? Topa mostrar? Ele tem imóveis caros? Alguém já tentou invadir? #doriabouloscoladinhos

"Você defende uma coisa porque tem base para defender. E as pessoas dizem: 'não, você é um vendido'", lamentou Marcos Boulos. "Foi o Guilherme Boulos que me falou isso da [crítica de Weintraub]. Cada um fala o que quer."

"O fato concreto é que não podemos misturar a medicina com a opinião de pessoas que não têm a mínima base para discutir isso. A comunidade acha que tem um milagre, um passe de mágica. Mas você tem padrões, padrões éticos até de comportamento, para administrar um medicamento. Não é uma questão política."

Ex-diretor do Hospital das Clínicas, Marcos Boulos foi professor da USP e hoje ocupa o cargo de superintendente da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias). Atua no governo do estado muito antes do governo Doria.

Sobre a cloroquina, vê pouca esperança.

"A cloroquina, mesmo em doses baixas, traz efeitos colaterais. Os pacientes com malária tinham frequentemente efeitos gastrointestinais. Claro que em doses mais altas causa efeitos colaterais mais graves, como nós vimos em alguns casos da própria Covid-19, como um quadro cardíaco. Trabalhos clínicos realizados em Manaus mostraram que no grupo de pacientes que tomaram a cloroquina morreram mais pessoas do que no grupo que não tomou."

Boulos diz que a forte defesa que o governo Bolsonaro tem feito da cloroquina é "uma coisa bem estranha que aconteceu." "É uma participação política acima de tudo, que interfere diretamente no quadro de atuação técnica. Você não usa um medicamento quando ele não tem absolutamente algum benefício."

Segundo Boulos, E em doença por vírus, qualquer vírus, você não tem medicamentos bons. Porque o vírus tem uma característica de ficar dentro da célula humana. Então, quando você usa o remédio, frequentemente ele é tóxico. E, para comprar sua efetividade, você precisa de muito tempo de experiência. Principalmente um medicamento como esse, que nunca tinha sido usado para vírus. Não temos nenhuma garantia de que ele será benéfico em algum momento."

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