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Pesquisa da tilápia, elogiada por Bolsonaro, vai ajudar nas cirurgias genitais das mulheres trans

Usada com sucesso como curativo de pessoas queimadas, a pele do peixe será transformada em prótese biológica para as cirurgias de correção e redesignação sexual.

Nesta quinta (9) o presidente Jair Bolsonaro fez uma live em que elogiou a pesquisa da Universidade Federal do Ceará sobre o uso da pele de tilápia no tratamento de queimados.

E essa mesma pesquisa permitiu que a pele do peixe, que tem sido usada com sucesso como curativo de queimaduras graves, agora ajude as mulheres trans nas cirurgias de redesignação sexual.

Pesquisadores da UFC (Universidade Federal do Ceará) trabalham no desenvolvimento de uma prótese biológica para construir ou reconstituir a vagina.

E, em parceria com a USP (Universidade de São Paulo), devem começar a fazer as cirurgias nas pacientes trans ainda este ano.

O cirurgião ginecologista Leonardo Bezerra, da UFC, contou ao BuzzFeed News que já há uma fila de pacientes aguardando a autorização para as cirurgias em São Paulo.

Há 20 dias, Bezerra fez a primeira operação de reconstituição de vagina de uma mulher trans, em parceria com a Unicamp (Universidade de Campinas).

A paciente de Campinas procurou os cientistas da UFC ao saber que outras mulheres tinham passado por cirurgia de correção de problemas na pelve. Uma das pacientes estava sofrendo com o estreitamento do canal vaginal depois de um tratamento de quimioterapia contra um câncer pélvico.

"Ela ficou 9 anos sem vida sexual. Depois de 30 dias da cirurgia, voltou a ter vida sexual", disse Bezerra.

Sob coordenação do médico Odorico de Moraes, a UFC desenvolve uma pesquisa reconhecida internacionalmente com a pele da tilápia. Seu uso mais conhecido tem sido a aplicação do couro do peixe como curativo de queimaduras.

Nos casos de tratamento de queimados, os curativos aceleram a recuperação da pele e tornam o tratamento menos doloroso para os pacientes — que, pelo método convencional, têm de trocar os curativos diariamente, o que causa muitas dores.

A pele da tilápia é higienizada e passa por um tratamento até estar apta a ser usada pelos médicos. O tecido se torna inodoro e, em queimados, é colocado sobre o ferimento protegendo o local sem a necessidade da troca diária e dolorosa dos curativos.

Odorico de Moraes disse ao BuzzFeed News que escolheu a tilápia porque existe uma grande oferta da pele desse peixe no Brasil. "A piscicultura tem 24 mil peles de tilápia por dia. No exterior, usam a pele suína como curativo. Mas a pele do porco tem metade do colágeno da tilápia", disse o cientista.

Assim como no caso dos curativos para queimados, a cirurgia de reconstituição vaginal é barateada pelo uso do couro do peixe. "Uma grande vantagem é o custo ser muito baixo", disse Bezerra, informando que a prótese biológica é incorporada ao organismo e, além disso, serve como "um anteparo para o crescimento celular".

A ideia de usar a pele de tilápia nasceu depois que, em publicações sobre moda, os cientistas viram o uso do couro do peixe em acessórios e calçados. Se podia ser usada em bolsas, por que não em tratamentos médicos?

Com isso, em três anos, a pesquisa cresceu e hoje o NPDM (Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos), do professor Odorico, tem o primeiro banco de peles do Brasil.

"Temos 189 pessoas no Brasil e fora, das mais diversas especialidades, envolvidas com a pesquisa", diz o cirurgião plástico Edmar Maciel, especialista no atendimento de queimados. Ele conta que a pele da tilápia é usada também para tratar a úlcera varicosa e em casos odontológicos e veterinários.






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