O PT considera compor uma aliança com a ex-senadora Marta Suplicy (sem partido) para disputar a Prefeitura de São Paulo no ano que vem.
Depois de deixar o partido ruidosamente em 2015 e encampar o impeachment de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República, Marta voltou a conversar com o PT e já avisou a interlocutores que quer participar de uma frente de esquerda contra o governo de Jair Bolsonaro.
O nome de Marta foi discutido nesta quinta-feira (21) quando o cientista político Alberto Carlos de Almeida apresentou aos petistas reunidos no diretório nacional da legenda, em São Paulo, as candidaturas de esquerda mais viáveis para a disputa da prefeitura da capital paulista. Ele citou os nomes de Marta e de Fernando Haddad, ambos ex-prefeitos de São Paulo pelo PT.
Um dia antes, o ex-presidente Lula já havia elogiado Marta em entrevista ao site Nocaute. O elogio foi registrado também em seu Twitter. "A Marta fez muito pelo PT, foi a melhor prefeita que São Paulo teve", escreveu a conta do ex-presidente.
Foi por essa proximidade que Marta começou a azedar sua relação com o PT, na pré-eleição de 2014. Marta insistia em um "volta, Lula", o que a colocou em confronto com a então presidente Dilma Rousseff, que ganhou a eleição, mas mergulhou numa crise que culminou em seu impeachment.
Ao deixar o PT, em 2015, Marta repetidas vezes acusou os petistas de corrupção e ingressou no MDB, ao lado do ex-presidente Michel Temer.
No Senado, Marta foi uma voz forte pelo impeachment, entrando em rota de colisão com a atual presidente do PT, a então senadora Gleisi Hoffmann.
"Foi até por nossa relação, que é antiga, que eu falei firme com a Marta", disse Gleisi hoje (21) ao BuzzFeed News.
Gleisi afirmou que o PT não descartaria disputar a eleição municipal tendo Marta, ainda sem partido, como vice. Mas a petista afirma que ainda não há clima para a ex-colega voltar para o PT.
Um dos principais interlocutores de Marta é o ex-deputado petista Jilmar Tatto, que hoje se coloca como pré-candidato do PT à prefeitura. Mas é difícil prever uma chapa em que ele, que foi secretário de Marta, aparecesse como candidato principal e ela como coadjuvante.
"Marta já disse que quer fazer uma campanha pelo 'volta Lula 2022", disse Jilmar ao BuzzFeed News. É nesse espírito pró-Lula que Marta se encaixaria numa campanha com o PT em São Paulo, disse ele.
O reingresso no partido, no entanto, não parece estar no horizonte imediato de Marta, que tem conversado com outras legendas de esquerda, como o PDT. Fontes petistas afirmam que ela ainda não fechou com o PDT devido ao discurso duro que o ex-candidato do partido a presidente em 2018, Ciro Gomes, tem feito contra Lula.
Ao dizer nesta quinta-feira que o PT precisa ter candidatos próprios para disputar as eleições nas grandes cidades, Lula fez uma observação, afirmando que o país vive um "momento histórico excepcional, que nem Bolsonaro esperava".
Um dos vice-presidentes nacionais do PT mostrou a disposição de boa parte do partido para esquecer as desavenças com Marta. Questionado pela reportagem sobre se haveria perdão para ela, Márcio Macedo afirmou:
"Eu sou cristão, cara."
Choro
Lula chorou duas vezes ao falar hoje com os dirigentes do PT. O assunto era sua prisão, da qual saiu no último dia 8. E colocou óbice nas já esperadas alianças com o PSOL no Rio e Belém e o PC do B em Porto Alegre.
Ele defende que o partido leve candidaturas próprias adiante, como forma de defender seu passado.