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O desfile num shopping com 20 crianças para adoção deixou muita gente indignada

"Não pode pegar as crianças e botar na vitrine como se estivessem à venda'', disse ao BuzzFeed News desembargadora especializada em casos de adoção.

Uma entidade voltada para a adoção de crianças de Cuiabá (MT) decidiu fazer um desfile, em um shopping, com 20 crianças aptas para adoção, com idades entre 4 e 17 anos. Com farta divulgação na internet e na imprensa matogrossense, o desfile aconteceu na noite desta terça-feira (21).

"É um absurdo completo. Você faz uma exposição da criança de forma objetificada: 'Precisamos melhorar o pacote'. Não é isso que estão dizendo ao colocá-la, toda arrumada, para desfilar? Esse desfile fere os direitos da criança. Não é só uma questão ética e moral. É também legal", afirmou para o BuzzFeed News a desembargadora Dora Martins, especializada em casos de adoção e direitos da infância no Tribunal de Justiça de São Paulo.

A indignação da magistrada refletiu também a forte reação nas redes sociais contra o evento, que foi comparado a uma "feira de escravos".

O desfile faz parte das celebrações da semana de adoção promovida pela Ampara (Associação Matogrossense de Pesquisa e Apoio à Adoção), com apoio da seção local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Dois anos atrás, a entidade promoveu um desfile semelhante e, no texto de divulgação do evento deste ano, afirmou que naquela época dois adolescentes foram adotados.

"Isso expõe a criança, a coloca sob alta expectativa. E o resto das crianças que desfilou? Como elas ficaram? Entendo que o estado tem de ser criativo, mas esse tema da adoção é revestido de muita invencionice. O problema é que o Brasil está cheio de boas intenções [para práticas ruins]", afirmou Dora Martins.

A desembargadora disse que é importante sensibilizar e preparar as famílias para adotar as crianças. "Não pode pegar as crianças e botar na vitrine como se estivessem à venda. Tem de estimular a adoção de forma protetiva, garantindo o segredo de Justiça. A criança no abrigo não é uma coitadinha, uma desgraçada. Ela é um sujeito de direitos."

Aconteceu ontem em Cuiabá um evento chamado “Adoção na Passarela”: um DESFILE para que crianças que estão para adoção possam ser vistas por pessoas que estão aptas a adotar. Em um SHOPPING. https://t.co/RCmf0NMcF1

A entidade organizadora do evento disse ao BuzzFeed News que se reuniria com as demais parceiros para divulgar, no fim do dia, seu posicionamento sobre as críticas. O evento "Adoção na Passarela" aconteceu no Pantanal Shopping.

A presidente da Comissão de Infância e Juventude da OAB-MT, Tatiane Ramalho, defendeu a proposta do evento, em texto publicado antes de sua realização: "A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile", disse.

“Esperamos novamente dar visibilidade a essas crianças e a esses adolescentes que estão aptos para adoção. E, como sempre dizemos, o que os olhos veem o coração sente. O convite é estendido a todos que se solidarizam com a causa de alguma forma, para que possam conhecer mais sobre a adoção”, afirmou ela, segundo o texto divulgado pela OAB-MT.

Em nota à imprensa, o Pantanal Shopping afirmou ser contra a objetificação de crianças. Segundo o texto, o desfile contou com o apoio do Judiciário, do Ministério Público e do governo do Mato Grosso.

"O Pantanal Shopping informa que repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto. O shopping afirma que a ação foi promovida pela Associação Mato Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, Poder Judiciário do Estado do MT, Governo Estadual do MT, Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça, Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso".

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