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Disseram ao maquiador desta modelo que ele não deveria fazer make em negras

"As modelos brancas ganham o dobro que eu. Todas na mesma faixa de idade e profissão. Nesse mercado são poucas modelos negras que são reconhecidas", disse Luciana Vilaça ao BuzzFeed News.

Na semana passada, a modelo Luciana Vilaça e o maquiador Leonardo de Gannancyr foram às redes sociais revelar as ofensas recebidos de outro maquiador, que queria dar um conselho a Leonardo: não usar modelos negras para mostrar seu trabalho porque a preferência é pelas brancas.

O “conselheiro” procurou Leonardo durante a madrugada. “Tô muito cansado desse ‘não pode’, sempre o negro que não pode”, lamentou o maquiador, que ouviu em seguida que era para ele lavar o “corpo de suas modelos sujas” e que o inferno era feito para as pessoas negras. “Cuidado, sou branco e você é preto e loiro e posso afirmar que foi assalto”.

“Quando eu li aquilo, eu chorei. Não foi a primeira vez que eu passei por aquilo e não vai ser a última. Depois eu senti um alívio porque eu não tenho por que ficar triste, por que ficar mal ou me culpar. Tenho de ter mais orgulho de mim”, contou Luciana em entrevista ao BuzzFeed News.

O nome do maquiador está sendo mantido em sigilo por Leonardo e pela modelo, mas sua visão de que a mulher negra vale menos no mercado da moda é uma constante com a qual tanto Leo quanto Luciana têm de lidar.

A modelo, que vive em Niterói (RJ), tem 19 anos e cinco anos de carreira. Faz catálogos de moda e beleza. Se arrisca também como influenciadora digital, com mais de 38 mil seguidores no Instagram, boa parte conquistada depois do desabafo no Twitter.

Abaixo os principais trechos da entrevista dela ao BuzzFeed News:

BuzzFeed News - Como é para a mulher negra ser maquiada e fazer propaganda de maquiagem?

Luciana Vilaça – Hoje eu decidi comprar maquiagem e entrei numa loja que tinha milhares de produtos e não tinha um corretivo para pele negra, uma base, um pó. De nenhuma marca. Sempre foi muito difícil em todos os aspectos. Tanto para a gente comprar maquiagem para a gente quanto para ser modelo de maquiagem porque nós somos sempre escolhidas para fazer produção de maquiagem em pele negra e nunca para maquiagem em geral, como noiva, pele madura, debutante.

O que você achou da frase de que mulher negra não fica bem com maquiagem colorida?

Eu acho que a gente já passou por muita coisa, durante muitos anos. Hoje em dia a gente está se empoderado muito mais, podendo dizer: eu posso, sim.

Mas você já ouviu isso de outros profissionais, maquiadores, fotógrafos?

Sim, por ser recusada pelo o tom de pele, pelo subtom, pelo tamanho da boca.

Você ganha menos por ser negra? Quanto menos?

Sim. Mesmo quando eu estipulo um valor, mesmo que baixo, baixo mesmo, as marcas recuam. É sempre desvalorizado o nosso trabalho; e é muito difícil conseguir trabalho nesse meio. A gente vai trabalhar de graça muitas vezes mesmo. As modelos brancas ganham o dobro que eu. Todas na mesma faixa de idade e profissão. Nesse mercado são poucas modelos negras que são reconhecidas.

Você é considerada uma mulher negra de pele mais clara. As suas amigas modelos de pele mais escura têm mais dificuldade no trabalho?

Sim. Bem mais. Em todos os aspectos. Para maquiagem, para relacionamento, para tudo.

Você fotografava quando criança. Lembra de algum episódio de racismo naquela época?

Na escola, sim. Eu tenho vitiligo desde os cinco anos e quando eu era menor eu tinha muito vitiligo no rosto. Eu era bolsista em uma escola de classe média alta, com muita gente branca. Eu não conseguia me encaixar e tinha gente que era racista comigo e me zoava. Eu tinha três manchas grandes, na lateral da boca e na testa.

Tem uma modelo negra, com vitiligo, que faz muito sucesso, a Winnie Harlow.

Sim! Ela é a minha inspiração. Ela foi uma das pessoas que me inspiraram a aceitar o vitiligo. Eu só aceitei mesmo, de fato, há uns dois meses, quando eu raspei a cabeça. Porque na minha cabeça tem muito vitiligo e eu não sabia nem a proporção que era. Antes eu fiz um tratamento e saiu. Porém eu tenho na boca, na cabeça, nos dedos. Agora estou mais tranquila. Depois que eu raspei a cabeça eu me achei diferente, nunca tinha visto gente com vitiligo na cabeça. Dali em diante eu pensei: eu não vou mais tratar.

Você já fotografou para alta costura?

Já, mas tem bem menos modelos negras na alta costura. É sempre bem branca, cabelo liso, olho claro. É a preferência deles.

O que você diria para as pessoas racistas da moda?

Eu só sei que eles vão ter de engolir a gente, chegando cada vez mais longe. Vamos ocupar o mercado de trabalho, eles querendo ou não.

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