Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o advogado José Carlos Dias, 80, disse que pediria demissão se estivesse no lugar do atual ministro da pasta, o ex-juiz Sergio Moro. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Dias afirmou ontem (9) que Moro não recebe do presidente Jair Bolsonaro (PSL) "o respeito que deveria merecer".
O ponto central da crítica do ex-ministro, que hoje preside a Comissão Arns de Direitos Humanos, que reúne OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), é a interferência direta do presidente na nomeação da cúpula da Polícia Federal.
"Fui ministro da Justiça. Não houve nem uma vez que eu fosse incomodar o presidente [Fernando Henrique Cardoso] para saber com ele se eu deveria ou não alterar, mudar o diretor da Polícia Federal. Ou se deveria ou não atender a pedido de senador ou deputado para mudança de superintendes da Polícia Federal nos estados. Isso é uma atribuição própria do ministro, que tem de ser respeitada pelo presidente", disse Dias.
Para Dias, não há dúvida de que o presidente está interferindo nos órgãos de controle. "Ele quer mandar em tudo", disse o advogado.
Questionado se pediria demissão do cargo caso estivesse no lugar do ministro Sergio Moro, Dias foi enfático:
"Não tenha dúvida. Eu não aceitaria. Isso é uma afronta à dignidade de um ministro."
Em seguida, o ex-ministro foi questionado se, como Moro, integraria o governo do capitão reformado do Exército.
"Eu não teria ido para o governo. Participar desse governo eu nunca iria."