O advogado e professor de Direito Civil Ângelo Rigon Filho, 45, é uma das centenas de pessoas demitidas pela Uninove nos últimos meses em meio à pandemia do novo coronavírus. Pelas contas do professor, a universidade paulista demitiu cerca de 600 docentes e centenas de funcionários administrativos. "Só no curso de Direito, eram 220 professores e eles mandaram em torno de 70 embora", contou o advogado ao BuzzFeed News nesta terça-feira (11).
Ângelo trabalhou na universidade por anos. Primeiro, de 2004 a 2008. Depois, retornou para a Uninove em 2017, sempre lecionando Direito Civil. E, como se não bastasse a demissão nesse tempo de pandemia, o professor e sua esposa, a professora de Direito Ambiental Angelina de Seixas Nepomuceno, 49, contraíram a Covid-19 no mês passado.
Angelina ficou internada quatro dias. Ângelo foi para o hospital duas vezes. Teve pneumonia. "Comecei com os sintomas no dia 11 de julho, ao mesmo tempo que a minha mulher. Tive febre, dor no corpo e dor de garganta. Tomei antibióticos por bastante tempo. A Angelina teve de ficar internada", disse o professor.
Ângelo retomou suas atividades como advogado, mas diz que advoga pouco. Gosta de ser professor.
E foi assim, no meio da pandemia, com Ângelo sem emprego (Angelina é funcionária pública) e com Covid, que o casal teve uma ideia para unir professores, muitos deles demitidos da Uninove, e alunos de Direito de baixa renda. Eles criaram um cursinho colaborativo que prepara os estudantes para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Também faz parte da idealização do projeto, entre outros docentes, a professora de Direito do Consumidor e Civil Alessandra Farias. Ela é coordenadora da Digitalis Cursos, plataforma que cedeu o serviço para a operação do cursinho.
"A gente pensou o seguinte: temos muitos alunos que perderam o emprego, não têm condições de interromper o curso e não têm nem condições de pagar cursinho preparatório e, de outro lado, a gente tem muitos professores demitidos. A ideia foi tentar unir essas duas pontas. É um valor irrisório para os alunos e os que não puderem pagar nada, não pagam nada e a gente busca o apoio", disse o professor.
Com 45 professores, o projeto ganhou o nome de Educação Importa e os mais de 100 alunos já inscritos começaram as aulas nesta quarta-feira (12). Com a plataforma online, alunos do Brasil inteiro podem se inscrever. A rede lançou perfis no Facebook e no Instagram e está começando uma vaquinha online.
A preocupação dos estudantes de Direito com o exame da Ordem, que dá direito ao profissional de trabalhar como advogado, é grande. O exame da OAB é o grande gargalo para esses profissionais. Segundo Ângelo Rigon, o teste aprova em média 15% dos inscritos anualmente.
"O exame da OAB é um grande trauma para o aluno de Direito", disse o professor, que conseguiu um grupo de pedagogos e psicólogos voluntários para acompanhar a meta de estudos e o desempenho dos estudantes, pressionados ainda com a pandemia.
"A ideia do cursinho foi da minha mulher", contou Ângelo.
Ao BuzzFeed News, Angelina diz que aplicou seu pensamento sobre o Direito Ambiental no que diz respeito à sustentabilidade.
"Sou professora de Direito Ambiental, que é muito mais do que só proteger uma árvore. É criar um ciclo que se alimenta e se mantém sustentável por algum tempo. É preciso manter o trabalho acontecendo. De um lado eu tinha professores sem o trabalho e, de outro, os alunos com a necessidade. Não tem como o professor ficar fazendo estoque de conhecimento e o aluno não pode deixar de estudar. Criamos o cursinho em 40 dias."