O jornalista Nonato Viegas, 31, e seu marido, o professor de educação física Mateus Garcia, 20, fizeram uma denúncia de homofobia à polícia em Brasília.
O alvo é a síndica do prédio onde eles moraram por quase um ano, no setor Sudoeste (área nobre de Brasília).
De acordo com o casal, os dois eram sistematicamente discriminados nos ambientes públicos e de lazer do condomínio por serem homossexuais.
Quando o casal se mudou do Rio para o prédio de Brasília, em setembro do ano passado, foi logo alertado por um dos moradores de que não poderia se abraçar, como outros casais heterossexuais, em ambientes como a piscina, sob pena de cometer "atentado ao pudor" por se tratar de um local onde havia "famílias e crianças".
"Assumidamente não tinha nenhum outro casal homossexual no prédio, que se tratasse por 'amor' ou trocasse carinho", contou Mateus ao BuzzFeed.
"A maior parte das pessoas [do prédio], quando a gente chegava, saía. Fazia carão, comentava."
O casal conta que tentou levar a situação com bom humor, nos primeiros meses.
"Brincávamos, até. Muitas vezes dizíamos a nossos amigos que não importava quão cheia estivesse a piscina. Sempre a teríamos inteiramente para o nosso lazer", escreveu Nonato em um post no Facebook.
As regras quando se tratava do casal eram aplicadas duramente, segundo os dois contaram.
Uma das ocasiões foi um teste que eles fizeram ao levar cerveja para a piscina um dia depois que os outros vizinhos tinham feito o mesmo.
Apenas os dois foram repreendidos, destaca Nonato, que registrou em fotos os outros vizinhos com copos e garrafas de cerveja no local.
A situação se agravou em maio deste ano, quando o jornalista sofreu uma queda na sauna do prédio.
O acidente resultou em oito pontos na cabeça mas foi visto com desconfiança pela síndica, a enfermeira Andressa Guerra, quando eles reportaram o fato e pediram que fosse mudado o piso da sauna para um antiderrapante.
"A relação era horrível e a minha queda foi o momento mais dramático. Ela sugeriu que eu não caí, mesmo tendo ouvido relato do vizinho que me socorreu", disse Nonato.
"O meu esposo disse 'eu não sou moleque; eu sou homem' e ela respondeu 'éééé?'", afirmou Mateus, reproduzindo o que teria sido o diálogo. Nonato rebateu com a pergunta: "Você está fazendo deboche?".
Depois da discussão, a síndica convocou um funcionário para prestar queixa contra Nonato. A denúncia foi de agressão moral. Nonato e Mateus prestaram outra queixa, desta vez de falsa comunicação de crime. Também fizeram queixa de homofobia na delegacia especial de crimes de discriminação racial, religiosa, por orientação sexual, por pessoa idosa ou com deficiência.
Há quinze dias, Mateus e Nonato deixaram o apartamento. Entregaram as chaves antes do encerramento do contrato, em janeiro, e pagaram multa. Iniciaram um processo contra o condomínio por causa do acidente. Nonato chamou seu desabafo no Facebook de "longo relato da nossa doença pessoal".
O que diz a síndica:
Andressa Guerra respondeu à denúncia por meio de uma nota: "Toda e qualquer eventuais acusações já estão sendo investigadas e esclarecidas pelos órgãos competentes, onde sempre estive à disposição. Apenas estou atuando como síndica, no interesse de fazer cumprir as normas condominiais, onde foram infringidas".
Por WhatsApp, a síndica disse também que processaria os veículos e jornalistas que citassem seu nome.